III

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                No canto do estacionamento que eu não conseguia ver da janela um carro amarelo estava estacionado. Era um carro visivelmente antigo pois a lataria era muito quadrada e o teto era de uma cor diferente do carro. Coisa que talvez eu tenha visto em um ou outro encontro de carros velhos. Apesar de evidentemente ter vindo de outra época, a pintura era impecável, completamente nova. Os pneus eram daqueles marcados com uma faixa branca na lateral.

No encosto do banco do motorista um casaco pesado, marrom e que parecia aveludado estava pendurado. Olhando de longe parecia que o banco estava com frio. Apesar de provavelmente já ser quase onze horas da manhã o dia naquele lugar continuava gelado. Eu olhei pro céu procurando o sol e não o encontrei. O céu era amarelado como o fim de tarde, ou logo depois do amanhecer, mas nem sinal do sol no horizonte. Ao lado, no banco do passageiro um pacote de cigarros de uma marca que eu nunca tinha ouvido falar.

Eu me lembro de uma época em que não passava tutoriais de como fazer luminárias ou caixas pra enfiar DVDs no sábado de manhã. Eu já acordava antes dos meus pais para ver TV pois tinha um monte de desenhos que eu não queria perder. E também tinha propagandas de cigarro. Um monte de homens fortes andando de cavalo e nenhum porta DVD de papel de embrulho. Onde que as crianças de hoje em dia veem desenhos e propagandas de cigarro?

-Você reparou?

-No carro velho dos anos 60 que parece ter saído da fábrica ontem?

Matheus balançou a cabeça.

-Não. Quer dizer isso também. Olha em volta, o estacionamento.

Eu girei minha cabeça pra ver todo o estacionamento. Era um retângulo de asfalto cravado no meio de um gramado muito verde. As vagas eram marcadas por faixas brancas no chão e deviam caber uns 30 carros ali pelo menos. Os bancos de praça pareciam estar espalhados na volta do asfalto sem muito critério ou ordem definida. Do asfalto saia um caminho para pessoas, feito de cimento, que ia em direção aos prédios do complexo. E só. Nenhum caminho de asfalto grande para um carro passar por cima sair daquele retângulo que boiava na grama como uma balsa.

-E não é só isso -Ele continuou depois que eu lhe contei o que via- a rua por onde nós chegamos não está mais lá. Aquelas árvores cercam tudo por aqui, como se estivéssemos numa clareira. Meu irmão não achou a saída em lugar nenhum.

-Como se entra e sai daqui então?

-Pela janela que nós chegamos ué. Mas só se sai daqui entrando por fora da janela. Se você achar o escritório por dentro do prédio não acontece nada.

Eu não sabia bem o que dizer então me aproximei do carro. Era um carro bonito. Fui olhar a frente dele já que estava cansado de olhar para a aquele casaco que, numa noite escura, com certeza pareceria uma pessoa sentada no banco do carro.

Na frente da vaga, numa pequena pedra, tinham pregado uma plaquinha de metal em que eu li:

                                                            "Reservado para o Diretor

                                                                                       'H'"

-Eu acho que a gente deveria ir embora daqui

-Não. Antes eu vou te mostrar o que a gente veio pra ver.

HWhere stories live. Discover now