Capítulo 7 - Ouvinte especial

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Dias depois..

Lauren estava especialmente sensível naquela noite. Em pouco mais de uma semana, sua vida havia mudado tanto, em diversos aspectos, que não podia ignorar a sensação de que ela também havia mudado muito no processo. Não uma mudança externa provocada pela necessidade de auto-estima, mas sim uma mudança interior, uma reforma íntima que se iniciava pouco a pouco, como semente que se planta e rega para que germine, cresça e floresça. Ela sabia que grande parte dessa sensação se devia ao fato de que, desde que conhecera o espírito da menina Sofia e sua irmã mais velha Camila, tinha voltado a estudar com afinco as questões espirituais. Voltara a ler os livros da codificação, a frequentar os grupos de estudo na casa espírita que ia desde novinha e que em algum momento na agitação da vida, deixou de ir. Revendo amigos queridos que há tempo não via, lembrando de coisas que tinha esquecido, percebendo novamente as grandes prioridades nas quais é preciso focar na vida. Reaproximou-se da mãe, resgatando as conversas gostosas que haviam se perdido. Tomando o chá de jasmim, deitando em seu colo enquanto se permitia uma conversa sincera com sua matriarca. Coisas simples, tão simples e ao mesmo tão únicas. Lauren sentia-se muito grata. 

Ela era médica, e não deveria se esquecer da importância da vida quando lidava com os dramas dos pacientes todos os dias, mas quem não esquece? Quantas vezes nos pegamos dando valor a coisa materiais, querendo conquistar o que não precisamos e esquecendo de agradecer por aquilo que temos? Quantas vezes reclamamos dos problemas, tornando-os maiores que são, quando ao nosso lado há tantas pessoas em condição muito pior? Quantas e quantas vezes culpamos Deus pelas nossas mazelas, quando na verdade tudo em nossa vida é consequência de nossas próprias ações, seja agora ou em outrem? Pobre orgulho, que sendo viseira nos olhos humanos, nos faz crer que plantando ervas daninhas, colheremos flores. Não. A vida é justa pois seu criador é a plena justiça. Somos livres para escolher os caminhos e semear, mas não podemos fugir de colher. Aquilo que fazemos volta para nós, assim é a vida. 

A médica fechou os olhos, deitada no sofá marrom de sua mãe, onde passara tantos momentos de sua infância. A velha casa que parecia novamente nova para Lauren. Tudo renovava-se a medida em que ela se renovava. Os dedos da matriarca passavam entre os cabelos negros e ondulados de sua filha e a mulher sorriu emocionada. Há quanto tempo não sentia-se tão perto de sua garotinha amada? Quase a perdeu no passado motivada por seu medo e orgulho, mas conseguiu redimir-se a tempo de não cometer o pior dos enganos. O de negar a bondade divina e a imortalidade da vida. Tornou-se alguém que cultivava a confiança e a amizade da filha e todos os dias agradecia por isso. Lauren estava silenciosa aquela noite, o que não era normal. Ela sempre fora muito falante, mas fazia quase  uma hora que estava ali em silêncio. Clara ficou a observar a filha e viu quando as sobrancelhas dela se franziram, como se seus pensamentos estivessem distantes. Na TV passava o filme predileto dela, no entanto, Lauren não podia importa-se menos. Sua mente vagava em algum ponto, e Clara resolveu não ignorar aquilo. Tinha uma ligeira desconfiança do que acontecia, mas precisava que a filha percebesse e quisesse compartilhar com ela. 

- O que te aflige minha menina? Lauren suspirou e deu um pequeno sorriso. Nem em seu silêncio era capaz de deixar de dizer a mãe os sentimentos de seu coração. 

- Nem vou tentar negar, você me conhece de mais minha mãe. Riu abrindo os olhos e elevando a cabeça para trás no colo da mais velha, fitando-a com carinho. A cor dos olhos de ambas eram idênticos, mas os de Clara eram mais serenos, rodeados pelas marcas do tempo externamente enquanto na íris expressavam a sabedoria trazida pela vida. Os de Lauren, por sua vez, carregavam a chama da juventude, eram bondosos e gentis, mas ainda pareciam curiosos e aflitos. 

- Então não negue, apenas me conte. Tem haver com a moça do hospital, estou certa?

Lauren suspirou, entrelaçando sua mão na da mãe em cima do abdómen, procurando a força que precisava para se abrir. As conversas entre elas sempre eram fáceis para Lauren, mas quando o assunto era a latina, parecia que tudo se tornava mais difícil. A médica não sabia explicar, mas estava assustada e perdida. 

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⏰ Última atualização: Jun 22, 2019 ⏰

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