𝘦𝘪𝘨𝘩𝘵 - 𝘦𝘶 𝘦𝘴𝘵𝘰𝘶 𝘣𝘦𝘮, 𝘛𝘰𝘯𝘺

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T O N Y

- Oi. - Steve entrou no quarto se jogando na cama dele, atravessado e os pés tocando o chão.

- Você comeu alguma coisa antes de vir para cá? - rodei a cadeira que eu estava sentado.

- Não, não estou com fome.

- Você precisa comer, Steve. - ele tirou os sapatos e virou a cabeça para mim. - Você estava chorando?

- Eu estou bem, Tony! - ele disse meio arrogante.

- Huh, ok! - me levantei e ia sair.

- Desculpa, é que aconteceu tanta coisa, para começar eu nem queria estar aqui. - ele segurou meu braço. - Eu não estou conseguindo nem raciocinar.

- Todos temos dias ruins. - ele abaixou a cabeça.

- Eu tenho tido anos péssimos. - ele sorriu e me encarou. - Desculpa, não quero te encher com os meus problemas. Vou me trocar.

- Steve. Senta aí! - mandei. - Agora você vai me explicar.

- Então vou me trocar aqui mesmo. - ele disse pegando a calça de moletom.

- Eu estou falando sério.

- Essa jeans está me incomodando. - ele estava de brincadeira?

Não, ele não estava. Ele realmente tirou a calça jeans e estava usando uma boxer azul marinho. Desviei o olhar.

- Você é um idiota. - resmunguei e ele riu.

- Eu disse que precisava me trocar. - ele passou por mim e se jogou na cama de novo. Fez "perninha de chinês".

- Não muda de assunto. Eu acho que vou pedir alguma coisa para comer, você quer?

- Pode ser. - ele sorriu.

- Japa?

- Claro, eu amo.

(...)

- Obrigada, Stan! - eu disse para o inspetor que trouxe a comida até o nosso quarto.

- Por nada, Esterco! - Steve gargalhou.

- É exatamente esse o nome dele, boa noite, sr. Lee.

- Boa noite, garotos. - fechei a porta e revirei os olhos para Steve.

- Que carinha é essa, Esterco? - empurrei o ombro dele.

- Cala a boca. - ele sorriu e se sentou na cama.

Me sentei ao lado dele na cama dele, tirei os recipientes das sacolas e coloquei sobre a cama.

- Agora me conta, o que foi aquilo com o Wade?

- Bem, é muito complexo. Meu pai faleceu quando eu tinha, sei lá. Oito anos e quando eu fiz dez minha mãe casou de novo e no início era tudo às mil maravilhas. - ele pareceu lembrar e sorriu. - Foram dois anos bons. Mas aí ele queria que eu namorasse uma garota, eu tinha doze anos. Eu não queria. E ele me bateu pela primeira vez, depois veio pedir desculpas e eu não entendia bem na época, achei que fosse um castigo bobo, mas não foi. Como minha mãe não fez nada, ele foi piorando com o tempo, bebia e me batia, eu era bem fraquinho e magrelo. O Bucky deve lembrar. Daí eu fiz 15 anos, estava maior, mais forte e estava fazendo algum tipo de luta, não me importei muito em saber o que era, eu só precisava aprender a bater.

- Nossa, eu não imaginava que era assim. - eu disse pegando um hot roll e comendo de uma vez. - Deve ter sido horrível.

- Ainda nem chegou na pior parte. - ele riu. - Isso não é engraçado para você como é para mim, porque eu reclamei tanto de estar aqui, mas agora me sinto livre.

- Eu imagino. - sorri. - Mas me conte a pior parte.

- Ok. - ele riu. - Bom, ele me bateu um dia e eu revidei, minha mãe surtou. Ele tentou maus uma vez, eu não ia revidar, mas minha mãe não estava em casa. Então foi fácil, só parei de bater nele porque o Bucky chegou. Eu quebrei a mão socando a cara daquele imbecil e nem sequer senti.

Ele suspirou profundamente e levantou o rosto, piscando repetidas vezes.

- Olha, Stee. Se quiser parar de falar... - ele me interrompeu.

- Tá tudo bem, está sendo bom falar disso com alguém, eu sempre guardei com medo e está sendo bom. - eu sorri. - Será que se eu te abraçar depois vai ficar estranho?

- Claro que não, Steve! - segurei a mão dele e apertei. - Eu sei que nos conhecemos ontem, mas eu to aqui.

- Obrigado por isso, Tony. - ele encarou nossas mãos, eu ia separar achando que ele não havia gostado, mas ele entrelaçou nossos dedos.

- Sem agradecer. - ele assentiu.

- Bom, como ele não poderia me bater, ele começou a bater na minha mãe, eu nunca estava em casa, ele sabia que se fizesse isso, eu iria acabar com ele. Mas tem uns dias, eu comecei a sair com uma pessoa e ele não gostou. - ele deixou algumas lágrimas caírem. - Então ele bateu nela na minha frente e eu bati nele até ele perder a consciência. Eu me odiei por uma semana. Sempre fui contra a violência e o que eu tinha feito? Eu poderia ser preso e eu não queria isso.

- E a pessoa que você saia? - ele secou as lágrimas.

- Tive que dar um fora, não queria envolver ninguém na confusão que eu sou. - não adiantou secar as lágrimas, elas não paravam de rolar pelos olhos dele.

- Vou pegar água para você. - me levantei caminhando até o frigobar e tirando uma garrafinha de lá. - Toma.

- Obrigado. - ele respirou fundo, me sentei ao lado dele novamente. - Ele pagou ums garotos para me baterem. Um deles era o Wade. Fiquei surpreso quando vi ele por aqui, já que isso aconteceu no Brooklyn. Mas depois entendi tudo, aquele imbecil me trouxe para cá achando que o Wade iria me bater, mas ele sem a ganguezinha dele não é nada. Mas voltando, quando eu voltei para casa, fraco e acabo. Eu apanhei de novo. Com um taco de baseball, eu não tinha forças para enfrentar e o pior foi a minha mãe ver tudo em silêncio, ela não fez nada, não pediu uma ajuda e me largou aqui quando ele disse que era o certo. Ele fez questão de pagar as passagens de avião para me trazer para cá. E minha mãe nem procura saber como eu estou.

- Eu sinto muito, Steve. Não imaginava que você passava por isso. Eu estarei aqui para o que você precisar. - ele voltou a chorar.

- Não quero que sinta pena de mim, Tony.

- É meio impossível, Steve. Não vou dizer que não estou sentindo para você se sentir melhor, eu estaria mentindo. Mas eu não estou fazendo isso por pena, saiba que eu realmente estou aqui para você.

- Obrigado. - ele abraçou as pernas, mas eu puxei ele para deitar a cabeça no meu colo e ele chorou até dormir.

Eu não sabia nem o que dizer, as aparências enganam, eu achava que ele era um bad boy durão, mas ele é uma pessoa cheia de ferimentos, abertos e que estão em contato com o álcool. Mas eu faço questão de tentar curar todos eles.

𝘽𝘼𝘿 𝙍𝙀𝙋𝙐𝙏𝘼𝙏𝙄𝙊𝙉 Onde histórias criam vida. Descubra agora