prólogo

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POV: Jiwoo

A bola batia no saibro e espalmava-se em minhas mãos. A pouca poeira que se erguia não chegava nem na altura de meus joelhos. Era eu contra Wong Kahei, a minha adversária de olhos compenetrados que me fuzilavam a cada minuto que se passava. Vez ou outra desviava para a bola que arremessava ao chão e a recolhia para perto.

Tudo acontecia em câmera lenta. Os minutos que se passavam, as respirações tensas dos torcedores, os doze juízes olhando para mim... Era uma pressão que eu não recomendaria para ninguém. No canto direito, logo atrás de Kahei, eu conseguia ver Sooyoung. Aquela juíza que parecia ser sempre a mais lenta de todas e que não exercia bem o seu papel ao fundo da quadra.

Ela mordia seu lábio à espera do meu fracasso, era nítido! Sooyoung nem conseguia esconder.

Com o alerta da juíza de cadeira, senti o meu coração parar. A bola sendo jogada para cima girava em sentido oposto e voltava a cair perto de mim. Com os joelhos flexionados e a perna direita atrás do corpo, bati com a raquete na bola e a fiz atravessar a rede numa velocidade impressionante, que até se podia a ouvir apelando por socorro.

— FORA! — gritou Sooyoung, erguendo os dois braços para cima.

— HEIN?! — gritei em fúria, socando com os pés a terra batida. Ha me encarou com aquele mísero sorriso cretino nos lábios. — ANALISE ESSA MERDA DIREITO!

— Kim! — ela levou as mãos à cintura por conta de meu palavreado.

— Como foi fora?! Você está vendo a mesma partida que eu?!

— Se soubesse sacar, não teria sido fora — os torcedores que estavam mais próximos riram da provocação.

— Você não sabe nada, cara, nada! Fica na tua! — estendi a raquete em sua direção, recebendo a bola que um dos pegadores jogou para mim.

Confesso, estava revoltada. A mulher, que não dispensava uma bela camisa pólo, calça jeans, tênis esportivo e um longo rabo de cavalo me desconcentrava. Ela sempre gostava de me olhar como se soubesse de todos os meus segredos e tivesse a certeza de que poderia me fazer perder, algo como um olhar de superioridade.

A partida se tornou um confronto entre mim e Sooyoung, e não mais Kahei e eu. Diferente de antes, Wong tinha medo de mim agora que parecia ter sangue nos olhos. Sem a vagareza do início, simplesmente ergui a bola e tomei todo impulso que poderia adquirir em meu braço direito. As cordas da raquete vibraram e deram a entender que foram fritas por tamanha violência da batida.

A bola amarela cruzou a rede numa velocidade extraordinária e, como um ímã numa superfície de ferro, foi direto para a testa de Sooyoung. Juro que não foi a minha intenção, mas a bola decidiu acabar de vez com a minha carreira e golpeou a juíza mais insuportável de toda aquela quadra.

Doze juízes e ela TINHA de parar logo em Sooyoung!

Pude ver Ha ser arremessada para trás pelo impulso antes de cair no chão desmaiada e a juíza de cadeira pausar o jogo. Todos elaboraram uma roda em volta da mulher e eu me senti o pior ser humano da face da Terra por poder causar uma futura lesão Jiwoo.

Nesse mesmo segundo, larguei a minha raquete e corri até Sooyoung — recebendo de meu pai um olhar de reprovação pelo ato — e afastei os juízes. Ninguém ia fazer nada por ela até que a enfermeira chegasse... Se chegasse.

Então eu mesma decidi a carregar e a levar para a enfermaria, onde ela receberia os cuidados devidos e eu poderia terminar de perder a minha partida em paz.

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