parte I

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POV: Sooyoung

— Siga a luz! — Hyunjin acendeu a lanterninha em meus olhos. — Siga a luz, Sooyoung!

Eu só conseguia olhar para o totem de papelão de um homem alto que dizia "ferimentos nos pés?! Você simplesmente não pode andar se os tiver". Era óbvio, não?!

— Sooyoung!

Assim como a enfermeira pediu, segui a luz para onde ela direcionava, sentindo fortes dores na cabeça. Sentia como se um elefante fosse arremessado na minha cabeça, como uma bolinha tão pequena pôde efetuar um estrago tão grande quanto aquele, hum?!

— Sabia que ela que lhe carregou e lhe trouxe até aqui?!

— E daí?! Quero saber de minha saúde.

— Você me parece bem para alguém que levou uma bolada certeira na testa naquela velocidade e com tamanha ira de Jiwoo.

— Garota egocêntrica! — rosnei. — Ela só está jogando porque é bonita.

— Então admite que Jiwoo é bonita?! — Hyunjin me olhou como se eu tivesse admitido algo que ninguém soubesse.

— Ela é garota propaganda da liga de tênis, é rosto de várias marcas esportivas e é a queridinha da Coreia do Sul, não estou falando algo que ninguém saiba.

  — Me parece interessada demais em Kim Jiwoo, sabe mais coisas que qualquer fã-clube dela!   — disse Hyunjin para me provocar.

   —   Me passa um antibiótico ou algo que faça essa dor passar e me diga duma vez o que houve comigo.

— Acredito que você teve uma pequena concussão, então você deve evitar atividade física. Vá até o curso prático, eles devem ter gelo. Te darei um atestado de três dias para descansar, isso será o suficiente para ter um bom repouso e o inchaço diminuir.

Assenti vagarosamente para não permitir que meu cérebro saísse da cabeça e me retirei da maca, segurando-me nas paredes por ganhar uma tontura. A pequena televisão que havia na sala noticiava os esportes e, para a minha surpresa, acabou informando sobre o tremendo golpe que levei na testa.

O saque de Kim Jiwoo e a bolada em minha testa repetiam-se diversas vezes enquanto o treinador da jogadora se desculpava em rede nacional pelo incidente. Primeiramente, as desculpas deveriam vir de Jiwoo e por que ela não falou comigo mesmo?! Eu estava bem ali na enfermaria!

Sim, ela e aquele pai treinador dela só queriam ir para a mídia para fazerem seus shows de exibição, com certeza, todos que assistiram ao pronunciamento dele, diriam "como ela é boa e gentil, ela não fez aquilo por mal", quando eu sabia que Jiwoo estava olhando para mim quando arremessou a maldita bola.

Decidi ignorar porque pensar demais fazia minha cabeça doer, fui ao vestuário para trocar de roupa e pegar as minhas coisas. Eu conseguia ouvir os estalos de beijos vindos dos armários do outro lado. Minha reação mais plausível fora bater a porta de meu armário, o que assustou os amantes ali atrás.

Odeio o modo como as pessoas fazem do vestuário um motel. É irritante!

Ao sair dali, precisei passar pelas quadras da frente, que ficavam numa locação próxima ao estádio onde aconteceu a partida do dia. Meus passos eram lentos por conta da minha cabeça que latejava. Não sabia se olhava para cima ou permanecia cabisbaixa. A dor era insuportável, não importa como eu ficasse.

Dei uma pausa para retomar o fôlego e segurei-me na grade trançada. Ouvi o som da bola bater na raquete, seguido de um gemido alto e um rosnado de raiva. Lá estava ela a treinar para a próxima partida, que definiria sua história no tênis.

Jiwoo batia a raquete nos tênis e xingava a si mesma. Talvez por se cobrar demais que ficava sempre nervosa e não conseguia terminar os saques com êxito. Kim se virou, me olhou e eu não pude abaixar-me para me esconder. Ela já me vira e com certeza o seu interior se vangloriava por notar minhas bochechas ruborizadas e minha testa com uma grande roxidão.

A ruiva, de poucos centímetros menores que eu, passou a mão na testa suada e logo meus olhos desceram para sua camisa rosa de malha grudada pelos gomos de seu abdômen suado. Seus olhos dourados guardavam minhas características, cada uma delas, eu só não sabia para quê.

— Você é a garota...?! — com certeza ela fingiu me desconhecer, ela também era uma boa atriz. — Você é a garota que acabei nocauteando?!

— Isso foi terrível!

— Era meu território...

— Você poderia ter mais cuidado.

— É que... As pessoas costumam desviar — ela acabou rindo e eu não resisti àquele sorriso.

Ela apertou os olhos e suas bochechas se contraíram. Seus dentes brancos e seus lábios vermelhos me forçaram a rir também. O tom de seu riso era contagiante e eu poderia a ouvir rir para sempre. Sim, Jiwoo era maravilhosa, infelizmente, não posso negar.

Kim se abaixou e pegou uma bola do chão, a quicando várias vezes antes de se virar.

— JIWOO! — uma voz grave a chamou e eu constatei ser o seu treinador. — Por que parou de praticar?

— Estou cansada, papai — ela respondeu e logo concluí que toda a pressão que ela sentia não era simplesmente por seu técnico cobrar demais e sim por ele ser o seu pai, um antigo jogador de tênis muito premiado que fez história no esporte, fora um orgulho nacional e ele queria o mesmo para a filha.   — Preciso de uma pausa...

— Continua!!

Kim sorriu entristecida para mim, voltando a arremessar as suas bolas e eu, que também não estava em meus melhores momentos, voltei a seguir o meu trajeto para voltar à minha casa.

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