parte III

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POV: Jiwoo

Já estava escurecendo e eu ainda não havia ganhado uma folga sequer. Inúmeras foram as vezes que ergui a bola e tentei a fazer atravessar a rede, o que parecia ser impossível. Poderia quebrar aquela raquete, rasgar a rede, furar a bola e mesmo assim tudo isso era a incapacidade em forma de esporte para eu conseguir jogar bem.

A notícia de que eu enfrentaria Wong Kahei pela segunda e última vez naquele campeonato me deixava tensa. Na partida anterior a qual disputávamos uma boa colocação no ranking, ela venceu e se instalou na primeira posição. Todo momento em que meu pai saía da quadra aberta eu me dava ao luxo de respirar fundo e me sentir uma fracassada. Continuar o legado esportivo da família Kim era terrível para mim.

A baixa luz da quadra me impedia de ver o outro lado e, como se não bastasse, uma grande neblina rente ao chão começou a se formar pelo frio. Ignorei-a porque precisava continuar treinando. Ergui a bola para o ar e, antes de bater as cordas da raquete na esfera, ouvi um chiado a me chamar.

— Psiu! — olhei para trás, vendo Sooyoung com um sorriso travesso.

— Veio aqui ver como sou ruim num saque?!

Ela negou. Ha correu entre tropeços até a entrada da quadra e adentrou, ficando atrás da rede e posicionando um grande totem de papelão ao lado dela.

— Pensei que você poderia usá-lo como uma espécie de tiro ao alvo — afirmou animada. — Acredito que pode ajudar no seu saque.

— O quê?!

— Você mirou em mim e teve um saque espetacular, apesar de ter me acertado — ela levou os dedos para o local levemente roxo. — Mas o que importa é o saque.

— Isso é loucura!

— Por favor, tente só uma vez — pediu-me se afastando por precaução.

Respirei fundo e realizei como ela pediu. A bola amarela passou a rede e acertou o totem, que caiu no chão e acabou me surpreendendo. Sooyoung o pegou, pôs de pé e sorriu daquela mesma forma convencida de sempre.

— De novo! — apartou-se mais uma vez.

Recolhi uma bola do chão, mirei para o alto e saquei. Bateu uma segunda vez no papelão. Ha repetiu seus movimentos anteriores e disse:

— Isso! De novo!

Meus músculos doíam, meu suor me incomodava e mesmo assim, eu queria continuar só pelo sorriso alegre de Sooyoung toda vez que eu acertava o totem. Ela vibrava, socava o ar e me aplaudia, como uma boa técnica que se impressiona com qualquer coisa que seu atleta faz e o motiva a continuar.

— Tente comigo! — pedi ao caminhar para perto da rede.

— Hein?! Está louca?! Capaz de você me acertar de novo!

— Uma vez só, por favor!!   — implorei.

— Eu não sei jogar.

— Por favor...

Revirando os olhos como se não quisesse fazer aquilo — o que duvidei, de fato —, Ha pegou uma raquete reserva que eu costumava levar na mochila e segurou o cabo com as duas mãos. Dei o primeiro saque e ela rebateu, com força, a fazendo passar pela rede e cravar-se ao chão como um atleta experiente costuma fazer.

— Não sabe jogar?! — estendi a raquete como se fosse um revólver.

— Talvez eu saiba um pouco.

Sooyoung riu mais uma vez, causando em mim uma sensação estranha, como uma mistura de alívio, liberdade e alegria.

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