Meu quarto estava uma zona. Tirei todas as minhas roupas e sapatos do guarda-roupa para separar algumas que não me serviam mais e outras que irei levar de viagem. Das que não me serviam, passei para as minhas irmãs mais novas e aquelas que não prestavam mais, joguei fora.
Estava bastante indecisa sobre o que levar na mala. Era inverno no Peru e precisei pegar alguns casacos e botas da minha tia Lis e da minha amiga Susie para aguentar o frio de lá. Na minha cidade raramente esfriava, vivo num país tropical que é bastante calorento. Por isso, quando chega a fazer 18 graus, já estou a procura de uma blusa para me esquivar do frio.
— Filha, não esqueça de levar o cachecol que a sua tia emprestou — disse minha mãe ao entrar no quarto sem bater, como de costume.
— Já coloquei na mala, mãe — respondi.
— Ah, e não esqueça dos absorventes também. Não vai querer estragar a sua viagem por isso.
Mamãe é mestre em me deixar constrangida. Minha irmã mais nova, Latifa, ouviu tudo o que ela disse e ficou rindo de mim assim que nossa mãe se ausentou do meu quarto. Depois saiu correndo para contar para nossa irmã do meio, Dandara.
Minha família é razoavelmente grande. Vivo com a minha mãe, Núbia, meus irmãos Dandara, Malik e Latifa. Minha tia Lis vivia conosco até o ano passado, ela está trabalhando de cozinheira num restaurante de comida típica brasileira e está alugando um barracão próximo da minha casa. Meu pai nos abandonou assim que Latifa nasceu. Ele disse na época que não estava feliz e que queria ir embora. Nós descobrimos que ele já tinha outra família e uma filha chamada Nala, minha irmã mais velha.
Mamãe, na época que descobriu, sofreu muito. Nunca mais conseguiu se relacionar depois disso. Ela raramente tem tempo de aproveitar a vida, pois está sempre trabalhando e procurando uma forma de sustentar a casa. Meu pai não ajuda em nada e nunca nos visita, simplesmente nos abandonou.
Minha mãe já o ameaçou e processou muitas vezes para que ajudasse na pensão, mas a verdade é que o dinheiro que ele ganha nunca foi suficiente nem para sustentar sua outra casa, quem dirá cuidar de tantos outros filhos.
Todos os meus avós já faleceram e os parentes mais distantes moram em outros estados, a maioria nunca nem vi. Apesar de todas nossas dificuldades, tento aceitar e ser feliz com o que tenho. Sempre que posso procuro um emprego para ajudar, também ajudo a cuidar dos meus irmãos e da casa. Tudo para que a minha mãe se canse o mínimo possível para quando chegar em casa.
Quando soube que tinha ganho a viagem num concurso de redação da escola em que o governo nos ofereceu, quase não acreditei. Eu amo história e conhecer um país tão cheio de cultura como o Peru foi mais que um sonho. Nunca nem saí do meu estado, quem dirá conhecer outro país. Era mesmo uma oportunidade única.
Minha mãe estava temerosa desde que soube da viagem, no começo ela não quis deixar, pois não poderia me acompanhar e muito menos a minha tia com seu novo emprego. Então tive a ideia de chamar a minha melhor amiga Susie para ir comigo, pois como menor de idade eu tinha o direito de levar um acompanhante desde que autorizado pela minha mãe. Susie fez 18 anos há poucos dias, ela é mais velha que eu, mas estudamos na mesma turma.
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Opostos Trocados ♀️ ♂️ - Dois Lados. Duas Vidas. Um Encontro
RomanceEm andamento. A junção de dois clichês: opostos e troca de corpos. Uma ficção que mostrará os dois lados de dois adolescentes que terão suas vidas trocadas e que enfrentarão realidades completamente diferentes das que estavam acostumados. Eles terão...