Fettucine

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Quase esqueci de falar, no mesmo dia da gafe no yoga nós dois estavamos andando juntos na calçada, voltando para casa, ela dois passos mais a frente e eu logo atrás, então eu resolvi fazer uma piada sobre a coincidência de termos nos reencontrado tão rápido, pra saber o que ela diria. E com um olhar que eu nunca vou esquecer, por cima do ombro e um tom de quem sabe, como se aquela fosse a verdade universal e só eu no mundo inteiro ainda não reconhecesse, ela me disse:
"São coisas da vida, Will, é só a vida!".

Realmente, o cara lá de cima tem senso de humor suficiente pra escrever histórias engraçadas e poderosas ao mesmo tempo.
É a vida. Foi o meu sorriso naquele dia, o coração acelerado, a surpresa, foi a emoção daquela manhã. Sempre remeto essas sensações a ela, parece que tudo se intensificou quando ela chegou, entende?

[...]

Como eu disse, fizemos várias semanas de aulas juntos, mas teve um tempo em que a Hannah mal dormia por conta dos estudos e as avaliações finais da faculdade, estava sempre cansada e deixou de ir com a mesma frequência de antes. Mas conversavamos muito pelo telefone, ela tinha o meu número e o eu o dela, vivia me contando o que o Bóris, aquele cachorrinho da praia que ela adotou, tinha aprontado na casa, e as novas receitas que ela estava testando, as coisas do curso que aprendeu durante a semana, os sentimentos, coisas que ela pensava...

Um dia eu tava no supermercado e liguei pra ela perguntando se precisava de alguma coisa pra casa, porque ela quase nunca saía, quis ser gentil.

— Gentil? Sei! Quem não sabe que você ainda tava investindo...

— E essa foi a minha jogada de sorte, viu!
Se você quer saber, ela me pediu pra comprar uns pacotes de macarrão, queijos e um vinho.

— Não acredito, essa foi a noite que eu tô pensando? – perguntei, incrédulo, não fazia ideia que ela que tinha o convidado pra o primeiro encontro.

— Foi, foi sim. Ela me disse as marcas dos produtos e eu fui procurando pelo mercado e conferindo com ela pelo telefone, e no fim ela pediu que eu levasse na casa dela à noite, disse que queria mais uma nova receita, o macarrão que a mãe dela fazia, e que eu seria o jurado da noite.

— Isso é cara dela! – ela sempre fez surpresas aleatórias pra gente, nos dias mais incomuns.

— Bom, ainda era dia então eu voltei para casa, tomei um banho e fui trabalhar. Tão empolgado até pedi para sair mais cedo naquele dia, cheguei em casa com bastante tempo livre pra deixar o meu nervosismo reinar, perdi quase duas horas por conta desse cara. Não sabia qual roupa usar, qual perfume, e o cabelo...
Sabe, ela foi a única que me deixou assim. Eu não ficava tão nervoso, indeciso ou sem graça com as outras garotas, eu não tenho orgulho de dizer mas eu era mais do tipo "seguro", na verdade um tanto estúpido.
Se bem que quando eu a conheci eu já não tinha muito disso em mim, mas essa é uma outra história, eu já disse, depois vou contar ela melhor para você.

Uns quarenta minutos antes do horário que marcamos, decidi descer e fui ao supermercado novamente comprar mais alguma coisa para levar para o jantar, peguei uns chocolates que ela gostava e uma caixa de bombons pra experimentar.
Não queria me atrasar, apesar de ter pensado que isso poderia causar um certo suspense, ou me dar um charme a mais...
O que nunca funciona, nunca caia nessa de deixar uma mulher esperar. Mas nem a mim mesmo eu consegui enganar, eu nem estava com cabeça pra charme, o que eu queria mesmo era chegar lá umas quatro horas antes só para ficar com ela por mais tempo.

HannahOnde histórias criam vida. Descubra agora