Agora que tenho 18 anos, o Estado decidiu que era hora de eu ir ganhar o mundo. Nas semanas anteriores eu estava preocupada sobre o que seria de mim quando saísse do orfanato, quando milagrosamente, Paloma, minha assistente social, me diz que aparentemente sou a única herdeira de uma casa antiga perto das montanhas, na cidade de Petrópolis.
- Não é maravilhoso? E se você passar na faculdade o campus também é perto.
Paloma parecia feliz com a ideia e mostrava um sorriso aparecendo todos os dentes.
Eu deveria estar também, porém os anos não me deixaram muito esperançosa, especialmente com a frequência que via meus antigos companheiros de quarto nas ruas quando voltava da escola.
- Se eu passar vai ser sim, mas como que eu iria conseguir manter uma casa sem dinheiro?
- Ah sim! Já ia me esquecendo, querida. Amanhã quando receber seus resultados do vestibular, veremos se consigo colocar você em algum estágio ou jovem aprendiz.
No dia seguinte quando vi o resultado de que havia passado na faculdade na tela do computador quase não acreditei.
Com a matrícula da faculdade em mãos, não demorou muito para Paloma conseguir um estágio para mim e enfim, era hora de ir embora.
A ideia de sair do orfanato era reconfortante para mim, a única coisa que me deixava triste era que Guto não viria comigo. Guto, era meu melhor amigo desde pequena, não me lembro exatamente quando nós conhecemos mas ele sempre esteve, praticamente, todos os dias ao meu lado. Tinhamos prometido que ao crescer iriamos morar junto e recomeçar a vida, porém o seu interesse crescente pela vida religiosa acabou arruinando os planos.
Sozinha e com uma mala com poucos pertences, a casa diante de mim parece mais bonita pessoalmente do que nas fotos que eu tinha visto no Google Maps. Feita basicamente de madeira, com tetos grandes, uma chaminé e dentro de uma pequena floresta, lembra um pouco as casas em que os colonos viviam nos filmes.
Nunca conheci meus pais, fui deixada muito cedo na porta do orfanato, mas não guardo rancor deles, gosto de pensar que eles fizeram isso porque achavam que era o melhor para mim. E ao passar as mãos pelas paredes de madeira do lado de fora da casa, o lugar onde um dia meus antepassados viveram, sinto uma conexão inexplicável e um sentimento puro de gratidão, enquanto meu rosto cheio de lágrimas respira o ar que o cheiro lembra chuva e terra molhada.
Era óbvio que a casa precisava de reformas, mas iríamos recomeçar juntas, e esse enfim, vai ser o meu lar.

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O Quadro
Terror🥈 2° lugar (Terror e Suspense) - Concurso Parto Mental 💀 Ágata, recém saída do orfanato em que viveu a vida inteira, se muda para uma casa que pertenceu a seus familiares alguns anos atrás, em busca de um recomeço. A vida parece um sonho que se re...