Capítulo 3

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MELISSA

                Estávamos esperando por uma ambulância, mas fomos surpreendidos por vários carros pretos que pararam no local de acesso à emergência, de onde vários policiais foram descendo e seguindo para dentro do hospital. Um grupo veio mais à frente e traziam um homem algemado, e logo atrás vinha um outro policial com a mão direita no braço esquerdo, que logo imaginei estar ferido. Resumo da noite: tínhamos dois policiais com apenas raspão de bala, e um com uma bala na perna que nem vi de onde apareceu, além do rapaz algemado que olhava assustado para todos os lados e logo fiquei sabendo que este era irmão do traficante do morro que infelizmente havia conseguido escapar, e ele estava ali devido a mais uma bala de raspão, e nada muito grave.

                Com a correria que se iniciou eu fui para a sala de emergência para onde haviam levado um dos policiais, o outro já estava sendo atendido por Antônio e o projeto de bandido, como os policiais o chamavam, estava na outra sala com o enfermeiro Luiz.

                Assim que entrei na sala, vi ele sentado, de costas para mim, todo de preto, com ombros largos, cabelo claro, mãos grandes e fortes, ele estava rasgando a manga da sua blusa preta, deixando à mostra o músculo do seu braço e principalmente o ferimento causado pela bala. Eu tinha em minhas mãos os equipamentos que iria precisar para suturar o seu braço e fazer um curativo, ao me aproximar ele percebeu a minha presença e olhou em minha direção. Senti algo estranho quando aqueles olhos azuis me encararam, meu rosto esquentou, e foi impossível não o olhar, reparando em cada detalhe do seu rosto perfeito, e uma barba rala que senti vontade de tocar.

                Afastei esses pensamentos, soltei o que tinha nas mãos em uma mesa ao lado da maca, respirei fundo e me arrependi, o cheiro dele era perfeito e eu estava realmente precisando de uma folga, pois nunca havia me sentido assim durante o meu trabalho.

                – Você poderia deitar, vou precisar aplicar uma anestesia local e dar pontos no teu corte, acredito que será melhor para você – tentei falar de forma normal, mas eu estava muito afetada por ele, e tenho certeza que ele percebeu, principalmente pelo sorriso que ele segurou, mas que não passou despercebido por mim.

                – Não precisa, eu aguento a anestesia, talvez nem precise dela na verdade, não foi tão grave assim – impossível que ele tivesse aquela voz de locutor, devia de ser o meu inconsciente me pregando mais uma peça.

                – Tudo bem se não quiser deitar, mas a anestesia será necessária sim – eu já tinha colocado um par de luvas nas mãos e sinalizei para ele, enquanto falava, pedindo permissão para o tocar, ele assentiu com a cabeça – O corte foi profundo, não tem como suturar sem anestesia, tem certeza que quer ficar sentado? – Quando levantei meu olhar para ele, estávamos muito próximos, e nossos olhares se conectaram, eu precisei umedecer meus lábios que pareciam ter secado, pois ele havia direcionado seu olhar para eles, os encarava com o que me pareceu por um momento ser desejo e aquilo estava começando a mexer mais comigo do que deveria.

                – Sim, ficarei sentado, pode ficar tranquila que não vou desmaiar – ele sorriu, dentes brancos e simetricamente alinhados apareceram, e acabei sorrindo também.

                – Tudo bem – eu concordei, então me afastei um pouco para pegar os instrumentos de que precisava e iniciei o meu trabalho. Tinha que manter a minha concentração e minhas mãos firmes, por mais que a vontade de o olhar estivesse me consumindo, eu mantive meus olhos no ferimento. Só o cheiro dele que ainda me perturbava, cada vez que eu respirava, mas mesmo assim eu tentava manter a calma.

                Durante todo o tempo em que estava costurando o braço dele, permanecemos em silêncio, eu sentia seu olhar atento sobre mim, mas somente quando fui começar o curativo, ele resolveu falar.

Além do Prazer - O AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora