DESTINO INCERTO

CAPÍTULO 1

                                                                                  Inicio de tudo.

DIAS ATUAIS...

     Abri meus olhos e percebi que nada havia mudado, permanecia no mesmo lugar dia após dia. É manhã de segunda-feira e estamos no início da primavera, a melhor estação do ano para mim. Preciso criar forças para ir trabalhar e me obrigo a ficar de pé. Vou até o banheiro para tomar um banho com a intenção de conseguir acordar.

    Meu cabelo como sempre esbanja vida própria e precisa urgentemente ser lavado e hidratado para depois eu pensar em qualquer outra coisa. Meu cabelo é bastante volumoso e parecido com o da minha mãe. Ela me ensinou a fazer uma hidratação caseira que usou sua vida toda e eu, como ela, também. Passei em frente ao espelho e quase não me reconheci, estou parecendo mais o "Simba do Rei Leão " do que uma jovem de quase vinte e quatro anos.

     Agora sim, hidratada e com uma maquiagem bem suave estou pronta para iniciar meu dia. Vou até a cozinha para preparar um bom café, forte. Enquanto o café fica pronto organizo todos os projetos que preciso para o dia de hoje. Em meio ao caos que se encontra minha casa, e em especial minha cozinha, consigo finalmente localizar minha caneca favorita, que ganhei de Lilly na minha formatura. Coloco o café na caneca, apanho os papéis e caminho até o elevador, mas como não sou nada desastrada deixo cair a pasta com tudo que eu tinha acabado de organizar, "nossa". Depois de reorganizar tudo, consigo finalmente chegar a garagem, mas quando ligo o carro percebo que esqueci de abastecer.

    – DROGA!!! Vou me atrasar desse jeito. – Gritei comigo mesma dando um murro no volante. – Como pude esquecer de fazer isso na sexta-feira? Mas também do jeito que minha cabeça está perdida, é um milagre eu não esquecer ela por aí. Sem problemas tem alguns postos de gasolina no caminho para o escritório.

    Ao passar por aquelas ruas todos os dias desde que vim parar aqui neste maldito lugar, me forcei a não prestar atenção em mais nada ao redor. Sinceramente, não sei como e nem porque vim parar aqui. Pois todo esse tempo, nada, nada mesmo mudou. Se passaram quase seis anos e eu não consegui nem respostas para poder voltar, ou pelo menos entender tudo isso. Não tem um dia se quer que eu não pense em conseguir um caminho que possa me levar de volta. Fico tentando um jeito de compreender toda essa mudança.

    Cheguei ao trabalho no horário, apesar de toda a correria. Fui de escadas pois preciso urgentemente fazer algum tipo de exercício físico para meu corpo e minha mente, ou vou enlouquecer. No caminho até a minha sala, acabo por me perdendo em pensamentos. Penso em tudo que aconteceu comigo nesse longo tempo e o que posso fazer para reverter essa loucura. Às vezes me confundo, e não sei se tudo o que aconteceu é mesmo realidade ou só coisa da minha cabeça. Depois de um certo tempo a ilusão acaba se misturando a realidade.

    Chego a minha sala, contorno minha mesa e deposito minhas coisas sobre ela. De repente escuto aquele zum­, zum, zum familiar, o pessoal do escritório estava começando a chegar, amo estar aqui e fazer o que faço. É aqui nesse lugar onde trabalho que me sinto bem. Sinto como se aqui fosse o meu lugar, o meu verdadeiro lar. E as vezes penso que tudo poderia ter sido diferente e eu simplesmente ter nascido bem aqui onde me encontro hoje, apesar das coisas que vivi e que tive antes. Me sinto quase que completa, me faltando apenas Lincoln, pois só por ele eu ainda tento achar um meio de voltar.

    Batem a minha porta me tirando de meus pensamentos, e antes de eu mandar entrar, Lilly foi entrando e fechando a porta atrás dela. Já com minha agenda nas mãos, e começou a falar todos os meus compromissos do dia sem me dar muito tempo para entender o motivo de tanta pressa. Ela é muito eficiente no que faz e muito inteligente também, só um pouco desesperada.

    –Bom dia para você também Lilly. – Falei olhando para ela.

    –Me desculpe xuxu. É que você tem muita coisa para fazer hoje, e nossa desculpa pelo xuxu também, sei que não gosta desse tipo de intimidade no escritório. – Me olhou como quem diz que foi sem querer.

    Lilly além de secretária é minha melhor amiga. Nos conhecemos a um bom tempo. Somos confidentes de contar tudo uma para a outra. Ela sempre me conta tudo e eu, bem, tudo o que sei que ela será capaz de compreender.

    – Sem problemas xuxu. – Brinquei. – Estamos sozinhas agora, mas cuidado para ninguém ouvir, o chefe pode não gostar muito. Aqui somos colegas de trabalho. Mas o que você tem para mim que está te deixando tão agitada assim – Perguntei encarando a agenda em suas mãos. Ela cuida dos meus compromissos e do sr. De Luca enquanto uma outra pessoa cuida dos compromissos dos demais funcionários. Na empresa somos quatro engenheiros contando com o chefe, é claro, que por sinal é o melhor de todos. Sr. De Luca é simplesmente maravilhoso no que faz. A construtora "ALFA", não seria nada sem ele.

    – Ok! É que além dos seus compromissos sr. De Luca pediu que assuma a agenda da semana dele, começando por hoje. – Me assustei com essa novidade. Ele gosta de cumprir sua agenda sozinho.

    – Mas por que essa mudança repentina na agenda dele? –Perguntei encarando Lilly que continuou a encarar suas anotações. Lilly e sr. De Luca são as melhores pessoas que já conheci, ela é um anjo que ganhei nessa vida e ele como um pai para mim.

    Quando cheguei a esse lugar não conhecia ninguém, ela se tornou minha amiga e me ajudou a conseguir um emprego na farmácia do sr. Olavo. Me ofereceu um quarto onde ela morava sozinha com seu cachorrinho Tomi. Reconstruí minha vida, e devo isso e tudo o que sou hoje a ela. Se não fosse o apoio que recebi dela, não sei o que teria me acontecido. O sr. Olavo e sr. De Luca, acreditaram em mim e me deram uma oportunidade de seguir em frente.

    Comecei a trabalhar nessa empresa de construção ainda fazendo minha faculdade e sempre fui muito respeitada aqui. Sr. De Luca sempre se mostrou paciente e compreensivo com respeito ao meu trabalho, Lilly sempre me apoia em tudo e eu sou muito grata por isso.

    Desde que perdi meus pais a alguns anos atrás e tive que aprender a viver sozinha, e a não ter muitas pessoas com quem contar. Paulo e Vini, me apoiaram e me deram o primeiro emprego na lanchonete, mas com Lilly foi tudo diferente, como se fossemos irmãs ou algo assim. Ela foi a única pessoa depois de Lincoln, que consegui confiar novamente.

    Minha vida não tem sido fácil nesses seis últimos anos, como falei, perdi meus pais, arrumei um namorado e por último vim parar em São Paulo sem saber como. Pensei seriamente em desistir de cursar uma faculdade. Pensei em fazer um curso de culinária ou outro qualquer e esquecer o sonho de um dia ser como meu pai, um arquiteto que amava o que fazia. Mas aí surgiu a oportunidade de vender a nossa casa, e como não tinha nada que me prendesse a morar naquela cidade, até Lincoln aparecer e mudar tudo. Fiz minha faculdade e nem precisei vender a casa.

    Sei que se eles estivessem aqui comigo, não iam deixar eu desistir de cursar uma faculdade, e menos ainda a que eu pretendia, seguindo os passos do meu pai. Gosto de imaginar que onde eles estejam, possam estar orgulhosos de mim e das minhas escolhas. Sempre que precisei tomar alguma decisão na vida, tinha o apoio e ajuda deles para escolher a melhor opção para mim. Eles eram ótimos pais e mesmo não estando comigo, arrumaram um jeito de garantir que eu estaria bem e com o futuro garantido.