Luto por Tommen

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Tommen se atirara de uma janela da Fortaleza Vermelha. Ainda que Cersei tivesse tido o cuidado de impedi-lo de sair para o Septo de Baelor, não podia ter previsto que o filho reagiria de forma tão extrema à viuvez.

Quando Qyburn lhe trouxera a notícia e o corpo do filho coberto por um lençol, a rainha pediu para vê-lo, ainda que isso a dilacerasse. Tinha que ter coragem e olhá-lo pela última vez. Seu menino, que nunca deveria ter sido rei, jazia desfigurado e ensanguentado sobre a maca.
***

Sozinha em seus aposentos, a rainha dourada quase podia escutar as palavras de Maggy, A Rã, ecoando em sua mente:
"Douradas serão suas coroas e douradas serão suas mortalhas."

A profecia havia se cumprido. Duas vezes por envenenamento e uma vez por suicídio.
Sobre Joffrey e Myrcella, havia culpados – e eles pagariam, a rainha jurava para si – mas sobre Tommen, quem ela procuraria por vingança? A sensação era de impotência. Impotência e traição.

Tommen a traíra, depois de tudo que ela suportara por ele. A deixou sozinha. Teria arriscado a vida dela em um julgamento da Fé, proibindo os julgamentos por combate.

Cersei odiava seu filho caçula por isso, mas também o amava. Teria trancado todas as janelas do castelo e dado ordens amarrar o próprio rei se pudesse ter evitado o que aconteceu.

Não havia mais lágrimas no primeiro momento. Cersei se sentia morta, vazia, em estado de torpor. Somente após dois ou três dias é que conseguira e se permitira chorar, baixo e contra o travesseiro. Já não havia mais de seus preciosos filhos para perder, mas uma leoa tinha de manter a força, principalmente pelo fato de já não haver mais nada além da força para manter.
***

Cersei, ainda que houvesse conseguido o cargo de Rainha Reinante que sempre almejou, soube que o preço fora alto demais.

Ela caminhava em triunfo e de cabeça erguida, ainda que fosse um lamentável triunfo, no meio das pessoas que a humilharam. Tais pessoas agora teriam de vê-la ser coroada. Passar da vergonha nas ruas ao máximo poder nos Sete Reinos.

Cersei vestia negro com ombreiras e correntes prateadas, e trazia sobre a cabeça um véu que lhe cobria os cabelos e o rosto, também negro, que terminava de compor sua expressão de luto no vestuário.

Ao sentar-se no trono de ferro, jogou a parte frontal do véu para trás, revelando sua face em expressão de pedra, quase como uma noiva macabra. E Qyburn repousou a coroa prateada em sua cabeça.

Sentada ao trono e com o poder nas mãos, pensou mais uma vez em seus filhos. Com a explosão do Septo, as sepulturas deles viraram cinzas, e também Tommen fora cremado por ordem sua.

Eram dois reis e uma princesa, que pela tradição deveriam estar ali. Mas Cersei desejava algo diferente: Que os restos de seus filhos repousassem nas criptas de Rochedo Casterly, ao lado dos restos de seus pais.

Contos LannisterWhere stories live. Discover now