Possível Desfecho de Fuga (2)

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Quando chegaram ao destino, Cersei já devia contar mais ou menos seis luas de gravidez. Jaime colocou o braço em volta de sua amada e a conduziu para fora do navio. Em Norvos, Jaime teria de conseguir um emprego para mantê-los, e fez isso. Usou sua perícia para se tornar o mestre de armas do castelo de um nobre.
A casa que havia conseguido para si e a irmã era muito modesta, praticamente apenas um dos menores quartos dos castelos onde haviam vivido toda a vida. Tal fato fazia com que a antiga rainha se sentisse uma leoa presa em uma jaula, sendo obrigada a engolir seu orgulho e simular uma origem simples dia após dia. Ela nem abria a pequena janela, tamanho o desgosto.
Limitava-se a esperar o irmão e marido à noite, buscar água para banhos e comida, além de sentir o bebê crescer dentro de si que – se Jaime estivesse certo – poderia levar o nome de sua mãe.
Já Jaime também não estava confortável, mas podia suportar. Os anos de guerra e a prisão dos Stark sem dúvidas eram piores condições para se viver. Mas não podia ser cego à infelicidade da amada, e tentava trazer-lhe presentes para animá-la, como um véu para que ela se enfeitasse ou um espelho.
***

Quando deitados juntos, beijavam-se com paixão voraz. Tinham fome um do outro. Tanto era assim que o bebê se manifestava com força na barriga da mãe nessas ocasiões.
Em um desses momentos, três ou quatro luas após a chegada, Cersei disse: "- Vai nascer agora."
Jaime se levantou de pronto e colocou sua calça, enquanto Cersei enfiava um vestido simples pela cabeça. Ele se ofereceu para chamar uma parteira do vilarejo, e ela recusou.
- Já fiz isso três vezes, e não quero mais gente aqui além de nós – ela respondeu, enfática – caso seja necessário, você mesmo pode me abrir e trazer nosso bebê à vida. – Terminou, com um sorriso debochado.
Jaime ficou horrorizado com tal fala e sentou ao lado de sua amada na palha. Sem castelos, sem meistres... – pensava Cersei – Isso vai ser muito diferente. Mas uma das diferenças em relação aos filhos anteriores era boa: Poderia ser abraçada e beijada por Jaime durante aquele momento, como de fato aconteceu.
***

Um choro forte foi ouvido. A criança havia nascido e sido amparada pela própria mãe, que a colocou diretamente no seio.
- É realmente uma menina – Cersei sorriu como o sol – você estava certo. Jo - a - nna, soletrou para a filha, como se a ensinasse que aquele era seu nome.
A criança era forte e muito saudável, com plenos pulmões e ralos cabelos dourados. Jaime não conseguiu conter as lágrimas e pediu para segurar a filha, no que finalmente foi atendido depois de toda uma vida. Ele a olhou, olhou a perfeição de suas pequenas mãos e pés, o modo como sua pequena barriga subia e descia quando ela respirava.
A menina estava - diferentemente de seus irmãos - enrolada em um pano velho. Era o que havia agora.
Cersei então pediu a filha de volta, e a recebeu. Então Jaime percebeu que uma poça de sangue cada vez maior se formava embaixo de sua irmã-esposa, o que o desesperou. Novamente ele quis levá-la a uma parteira ou mesmo a um meistre que tentaria pedir no castelo. Qualquer um que fosse capaz de parar com aquilo.
- CERSEI, NOSSA MÃE MORREU ASSIM! - Ele dizia, ríspido e afoito – NÓS TEMOS QUE IR, AGORA! – Ele tentou pegar sua gêmea no colo, com Joanna inclusive - já que Cersei se agarrava à filha – e ela recusou, mais uma vez com um sorriso debochado, embora com olhos tristes.
- Jaime... – Começou a dizer – não estou feliz aqui. Eu queria que nossa filha vivesse, mais do que qualquer outra coisa, e fiz isso. Eu a gerei e eu a trouxe ao mundo. Fale de mim para ela. Fale dos irmãos dela. Fale do quão grande foi seu avô, que praticamente governou os Sete Reinos, e da avó que lhe deu o nome.
- NÃO, NÃO, NÃO! – Jaime havia pego sua mulher e filha e estava correndo por socorro, completamente desesperado.
- Você irá criá-la. Você irá amá-la, e ela saberá o quanto a amei. Não posso mais viver aqui. Sou uma rainha, não uma camponesa. – Cersei disse sua última frase, resoluta, ainda que perdendo a cor em seus lábios.
Ela havia escolhido morrer, disso não havia dúvidas. Estava infeliz. Mas antes assegurou-se de que o último fruto de seu amor estaria a salvo. Protegida. Amada. Viva.
***

Jaime deixou o corpo de sua irmã em um templo, lá cuidariam dele. Depois disso, enviou um corvo para Tyrion, perguntando se seria possível enterrar Cersei em seu lugar de direito, uma cripta em Rochedo Casterly. E segurou Joanna com força, jamais a largaria.

Contos LannisterWhere stories live. Discover now