O restante das aulas da manhã continuou sem grandes imprevistos, mas, no último período, minutos antes do intervalo para o almoço, ouvi meu nome sendo chamado pelos alto-falantes, solicitando que eu fosse até a diretoria. Guardei minhas coisas na mochila e me despedi de Maia, que disse que me esperaria no refeitório para almoçar. Agradeci e saí da sala.
Lembrava do caminho para a diretoria graças à visita que havia feito ao colégio dias atrás e cheguei até lá sem problemas. Quando entrei, vi que estavam presentes, além da diretora Guilhermina, a professora Cecília e minha tia Laura.
— A Guilhermina ligou para mim e vim o mais rápido que pude — explicou minha tia, me abraçando.
Sobre a mesa da diretora estava um dos cartazes com minha foto e entendi que aquele era o motivo da reunião.
— Davi, está tudo bem com você? — perguntou a diretora.
— Na medida do possível, sim — respondi, ainda constrangido com toda aquela situação.
— Davi, você foi muito corajoso em sua fala durante a minha aula — comentou a professora Cecília. — E saiba que você está coberto de razão, não há nada de errado com você. Nós, do corpo pedagógico, estamos aqui para garantir que situações como essa não voltem a acontecer — completou.
— Sim, a Cecília está certa — continuou a diretora. — Caso qualquer ato que contenha o mínimo de discriminação seja direcionado a você, eu quero que você venha até a mim e me informe imediatamente. Posso contar com isso?
— Claro, pode deixar — concordei, aliviado ao perceber que pelo menos os adultos daquela escola pareciam ser sensatos.
— Agora, uma última coisa — continuou a diretora. — Você faz ideia de quem possa ter feito esses cartazes? Tem alguém aqui na escola com quem você tenha se desentendido, ou que teria algum motivo para fazer isso?
Refleti por alguns segundos antes de responder. Na verdade, tinha pensado sobre aquele assunto durante toda a manhã, mas não tinha chegado a nenhuma conclusão. Mesmo o valentão, Paulo, que havia me ameaçado logo cedo, parecia ter acabado de descobrir a minha existência, justamente por conta dos cartazes. Ele não tinha motivo algum para se dar ao trabalho de imprimir e espalhar aquela foto pela escola. E ele ainda aparentava ser tão burro que nem sequer deveria saber como funcionava uma impressora, para começo de conversa. A única pessoa que tinha chegado perto de me ameaçar tinha sido Poliana, mas, ainda assim, ela também não tinha motivos para fazer aquilo... E eu duvidava muito que uma aluna exemplar, presidente do Grêmio Estudantil, pudesse ter uma atitude tão infantil quanto aquela...
— Não, eu não faço a mínima ideia — finalmente respondi.
— Como você sabe, Guilhermina, ele chegou na cidade tem menos de uma semana e ainda não conheceu quase ninguém — minha tia apressou-se em dizer.
— Tudo bem, não tem problema — a diretora respondeu. — Vamos continuar investigando. Se fosse num momento normal, seria fácil identificar os culpados, mas, justamente na manhã de hoje, tivemos uma falha no sistema de segurança e as câmeras do corredor não estavam funcionando — ela completou.
"Claro que isso não é uma coincidência", pensei comigo. Quem quer que tivesse espalhado os cartazes, planejou tudo muito bem.
Depois disso, a reunião foi encerrada e eu corri até o refeitório para ver se ainda encontrava Maia a tempo para o almoço. Para minha alegria, ela ainda estava lá, sentada em uma das mesas mais ao fundo. Para meu desespero, seu irmão, Ian, estava sentado em frente a ela. Pensei em dar meia-volta com minha bandeja, mas, antes que pudesse fazer qualquer coisa, Maia reparou em mim e acenou, me chamando. Não tinha mais como fugir.
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O Clube da Lua e a Flor Cadáver (Vencedor do Wattys 2020 ✓)
Fantasía✓ História vencedora do Wattys 2020 na categoria "Paranormal" ✓ História destaque no perfil oficial Paranormal de Língua Portuguesa do Wattpad em Setembro de 2020 ✓ História destaque do perfil oficial LGBTQ de Língua Portuguesa do Wattpad em Agosto...