O seu nome.

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Na hora do intervalo, Onze e Richie se dirijam para o refeitório, o barulho das conversas dos alunos, dos risos e dos gritinhos poderiam incomodar alguém mal humorado ou mal acostumado com o ambiente. On apanhou uma bandeja e entrou na fila enquanto Richie vinha atrás.

- Então você é de Hawkins. Eu li tudo sobre esse cidade nos últimos meses, li que o governo proibiu a maior parte das notícias sobre os russos embaixo do Starcourt...

  Starcourt... Um choque de memória vem na mente de On, o devorador de mentes, os gritos, Billy Hargrove morto, as explosões.

-... Eu queria ter visto algo como isso, mas, a minha vida não é o que eu chamo de "coisa animada".
- Porque? - On pergunta depois de apanhar um sanduíche.

  Richie hesita ao passo que em sua memória a imagem da mãe sendo morta pelo próprio pai bêbado vem a tona. É quase como um pequeno tremor emocional que abala seus sistemas e lhe traz uma amarga parte da realidade, a excruciante solidão e falta de amor.

- Olha, não quero falar disso agora. - Ele gentilmente sorri com bochechas vermelhas.
- Jane! - Will chama um pouco mais de trás.

   Onze se sente feliz ao ver um rosto familiar, ela apanha a bandeja e vai na direção de Will que está sentado próximo da janela sozinho. Eles se sentam.

- Como está sendo o primeiro dia?z Pergunta Will.
- Estranho. - Ela olha ao redor.  - Matemática é... chato.
- Vai se acostumar.

   Richie se aproxima devagar e tímido dos dois. Ele pigarreia devagar chamando a atenção dos dois e diz:

- Eu posso me sentar com vocês? É que se sentar sozinho é... Não é legal.
- Pode. - Will sorri com lábios comprimidos.
  
  Richie se senta e Onze diz:

- Will esse é o meu colega de sala.
- Richie. - Ele hesita. - Eu sou Richie,  acho que você deve ter ouvido falar do Óculos de garrafa.
- Acho que sim. - Diz Will. - Tinha um cara de cabelo lambido na minha sala, ele ficou falando de dar uma surra no óculos de garrafa.
- Aquele é o Lary, ele é tipo o reizinho do colégio. - Richie aponta com cabeça para ele que está sentado do outro lado do salão. - Ele já enfiou a cabeça de um garoto da sexta série na privada, todo mundo tem medo dele porque ja disseram que ele tem um canivete na mochila, o pai dele é metalúrgico e a mãe enfermeira.
- Caramba você sabe tudo. - Diz On mordendo o sanduíche.

  Isso deixa Richie mais confortável.

- Estudo há anos aqui, sei de coisas que podem deixar vocês de cabelo em pé. Mas o que eu digo para você... - Ele aponta para Will. -... Fique longe do Lary, ele é sequelado, ele pode até te torturar por horas pelo simples prazer. E você... -  Ele aponta para Onze. -...  Fique longe da Rosane Dempsey. - Ele mostra uma jovem ruiva grande, de quadril largo, testa protuberante e face ameaçadora. - Ela é louca, ela já fez coisas no vestiário feminino com as garotas do time de natação, dizem que ela é pervertida.
- Pervertida? - Onze estranha a palavra.
- É. Alguém meio louco.
- Bem, obrigado por nos avisar, ao menos vai ser ótimo ter um amigo de confiança. - Disse Will sorrindo para Richie.

   Depois de duas horas lendo os relatórios recebidos, Sam Owens tinha uma porção gigantesca de informações ao qual Brenner queria ouvir. Owens escondia o fato de que Onze estava viva, já que era uma promessa que ele havia feito para Jim Hopper, por isso Owens fez com que em todos os arquivos do governo, Onze desaparecesse, por este motivo, o nome Jane Ives desapareceu do radar do governo e ela foi oficialmente dada como morta. Mas lá estava Owens perante o que poderia ser uma nova trama, mais um capítulo de um enredo talvez interminável.

- Ao que me parece, os americanos não são os únicos que sabem sobre o mundo invertido. Aqueles soviéticos filhos da puta conseguiram acessar a droga do mundo invertido.
- Estamos numa disputa, não é mesmo? 
- Não é só isso, o relatório diz que eles tem as próprias cobaias, andaram fazendo testes genéticos em pessoas comuns, a cobaia de maior sucesso é a  que eles chamam de Zero.
- Interessante. E o que os Estados Unidos da América poderiam fazer sobre.
- Não temos uma arma capaz de impedir isso, há indícios de testes de acesso ao mundo invertido na União soviética, China e até mesma uma tentativa mal sucedida em Cuba, eles estão tentando entender isso para tentar formar uma espécie de exército contra nós.
- Então, vamos aguardar o que o nosso menino diz, ao meu ver ele já está infiltrado na cidade.

  Brenner vai saindo devagar. Ele para na porta e olha de soslaio dizendo:

- Owens, estamos na mesma operação,  não omita informações aos seus superiores.

  Owens sorri meio sem graça e diz:

- Não estou.

   Brenner consente e sai. Owens fecha a porta e se respira fundo, ele olha para todo o relatório e apanha seu telefone discando um número estranho, a ligação vai direta para Camp Hero em Long Island sem passar pelo telefonista. Quem atende? Um homem de nariz fino, rosto grande e orelhas grandes também, ele segura uma maçã enquanto descansa em sua sala. É um general.

- General Norton aqui é Sam Owens...
- Owens. - Ele o interrompe com jovialidade. - A que devo a ligação?
- Recebi o relatório da CIA, está quase completo e compõe boa parte das informações que preciso para minha divisão. Mas está faltando uma única informação que eu requeri.
- E qual seria essa informação?
- Um de meus homens, o de maior confiança, desapareceu a oito meses, pedi uma investigação completa com todos os nossos informantes, mas não houve nenhuma informação relatada.
- Você estava perguntando de Jim Hopper, não é mesmo? - Ele da uma bela mordida na maçã enquanto relaxa suas pernas.
- Claro, é esse o homem.
- Desculpe em lhe dizer, mas segundo o que meus homens me passaram, Jim Hopper foi pulverizado.
- Creio que essa informação não consta nos altos e não procede, já que através de uma varredura genética o DNA de Jim Hopper não foi detectado no local.
- Interessante. - Ironiza o general. - Mas, manteremos essa versão e... lamento ter perdido seu homem de confiança.

  Owens desliga sem nem se despedir, ele não se dá por satisfeito diante da resposta de um superior. E não poderia, uma vez que após desligar, um oficial chegou até o general e batendo continência se apresentou.

- Senhor, os papéis que o senhor requiriu. - O oficial entregou um pacote lacrado.
- Dispensado.

   O general ao abrir o pacote cuidadosamente retirou os papéis de dentro e nele havia as fotos de Onze e Hopper. O general sorriu e seu sorriso não indicava algo bom.

   Enquanto isso na rua Rússia. O barbudo que o casal havia apelidado de "urso" por conta de seus cabelos longos e barba, estava com ele deitado no sofá.

- Chto ty dumayesh' on? (O que acha que ele é?). - Pergunta Dimitri.
- YA ne znayu, vy dumayete, chto vy vrag gosudarstva? (Não sei, será que ele é um inimigo do Estado?)
- Dolzhno byt', on prosto p'yan. (Deve ser só um bêbado).
- Pozvol' mne uvidet' tvoye litso. (Deixe me ver o seu rosto)

  Ela ia jogar o cabelo daquele homem para o lado, mas de repente o homem acordou de uma vez. Ofegante, como em um susto, assustou até o casal. Ele olhou ao redor, viu a decoração sem graça da casa e depois observou o casal com seus olhos castanhos.

- Onde... Onde eu estou?
- On ne govorit na nashem yazyke. (Ele não fala nossa língua). - Diz a mulher.
- On amerikanets. Konechno, beglets. (Ele é americano, com certeza um fugitivo).
- my dolzhny dostavit' yego matil'da. (Temos que entregar ele, matilda). - O homem diz.
- Vy s uma soshli? Vy znayete, kak ustroyena skhema. Oni skazhut, chto my zashchishchali yego, oni sobirayutsya zastrelit' nas. (Você está louco? Sabe como o regime é. Eles vão dizer que estávamos protegendo ele, vão nos fuzilar). - Diz matilda.

   Eles voltam o olhar para o forasteiro, ele parece que vai dizer algo.

- Vo... Voda. (ÁGUA).
- voda on khochet vody. (Água. Ele quer água.) - Diz Matilda.

   Seu marido vai buscar um copo com água.

- amerikanskiy. (Americano). - O homem diz.
- Da da. (Sim, sim). - Matilda responde sorrindo.
- Zaklyuchennyy, drug, Ubezhat. (Prisioneiro, amigo, fugir). - Ele continua.

O copo com água chega e ele a tomo toda de uma vez como um camelo sem beber água por horas.

- Chto on skazal? (O que ele falou?) - Perguntou Dimitri.
On khochet ubezhat' (Ele quer fugir).  - Diz matilda.
- Sprosi yego, kak yego zovut. (Pergunta o nome dele).

   Matilda se voltou para ele e disse:

- imya (Nome.) - Ela aponta para si mesma.

   Ele ficou alguns segundos olhando para ela, e depois olhou para o homem e ela voltou a repetir.

- Vashe imya (Seu nome).

Ele respirou fundo. E disse:

- Jim... Jim Hopper.


Stranger Things 4 - Shadow of the dayOnde histórias criam vida. Descubra agora