Capítulo 6

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Eu perco a conta de quantos degraus já desci. Minhas pernas estão quase cedendo às câimbras. A gata não me permite nenhuma pausa para descanso, e com medo de me afastar da luz que ela porta não a contrario.

– Falta muito? – Pergunto pela sétima vez. Ouço um suspiro escapar dos lábios felinos.

– Falta pouco. – E a mesma resposta me é dada.

Eu não me apoio mais na parede rochosa, mas trato de caminhar bem próximo ao felino, e sem olhar para meu lado esquerdo.

Continuamos a caminhar por mais um bocado de tempo e eu já estou para repetir a mesma pergunta quando a gata para e vira-se para mim.

– Estamos chegando! – Sua voz tem uma animação contida. – Pegue o colar de volta. Ele já não está mais pesado.

Eu me abaixo e, retirando a corrente da gata, coloco-a em meu pescoço. A luminosidade da pedra quase me cega e eu pisco algumas vezes incomodada. Mas a intensidade da luz diminui um pouco como se se ajustando mediante a minha vontade.

– Pronto. – A gata parece animada com a visão da corrente novamente comigo. – Vamos agora.

Num pulo, ela saltou quatro degraus abaixo e dispara numa descida rápida.

­– Espera! – Grito, tratando de me apressar também.

Então, pouco a pouco, eu vejo a luz que me guiou até ali se esmaecendo, e a pedra esfriando à medida que a luz se apaga. Eu começo a descer mais rápido, com medo de ficar mais uma vez presa no escuro naquela escada.

Mas algo está acontecendo lá embaixo, nas profundezas desse fosso quase infinito. Certa luminosidade parece romper a escuridão lá embaixo, como uma pequena luz no fim do buraco, mesmo isso não fazendo muita lógica. É uma luz etérea, de cor acinzentada que serpenteia entre o branco e o azul.

A gata desapareceu de vez, assim como a luz na pedra. Mas uma penumbra, alimentada pela luminosidade no fundo do fosso, me livra de ter que percorrer essa parte final da jornada no escuro.

Até o fim da longa escadaria ainda terei que andar por mais um período de tempo. Agora que vejo o seu fim cada segundo demora um século para passar.

De onde estou já posso ver claramente o que aguarda. A luz etérea, que me guia agora nos momentos finais de minha descida, vem de uma abertura em arco semelhante a um portal. Uma névoa densa me impede de ver através dessa passagem.

Desço o último degrau, dou dois passos em direção à porta e paro. Espero o felino retornar, mas ele parece ter se esquecido de mim e me abandona ali.

Deixo o receio de lado e caminho para a porta, meus passos são comedidos e fico a todo instante me certificando da estabilidade do chão por onde passo. Há uma camada de névoa cobrindo-o, o que me faz ter medo de acabar me deparando com algum declínio do chão.

Assim que atravesso o portal em arco – conseguindo me desvencilhar de toda névoa que parece querer grudar em mim com seus dedos longos e gélidos – eu me deparo com um cenário colossal.

Estou dentro de um gigantesco salão rochoso, tomado pela luz acinzentada e espectral que não parece ter uma origem visível. Essa câmara de gigantes está muito abaixo da superfície para que aqui chegue alguma luz dos astros celestes vinda por alguma brecha na massa rochosa.

Sinto-me menor do que uma formiga. Esse espaço fora completamente escavado na rocha e pela sua beleza isso poderia ter sido a morada de um rei. Uma morada no submundo, mais precisamente.

O Vazio TempestuosoOnde histórias criam vida. Descubra agora