(4/10)
Quando enfim me levanto, saindo da minha inércia, me dirijo para a outra parte da sala. Interrompo meus passos ao vê-lo sentado em uma poltrona perto de uma janela, seu rosto voltado para a cena lá fora, parecendo assistir a tempestade.
Fico alguns segundos decidindo se prossigo ou se retorno para a mesa. É realmente um incômodo está em sua presença, ele parece exalar algo que afaste as pessoas de si.
Acabo seguindo em frente e ando até o acento onde estivera mais cedo. Fico aqui sem saber o que fazer, ou dizer, apenas torcendo para que esta tempestade termine. E fico curtindo o momento constrangedor.
Ele ignora minha presença e continua em seu devaneio. Seja lá qual for seu pensamento, parece está consumindo toda sua concentração.
A persistência do meu olhar parece chamar sua atenção para mim. Ele desvia seus olhos da janela e os fixa nos meus; eu estremeço com a intensidade dos seus.
Dizem que através dos olhos se consegue ler a alma ou os pensamentos de uma pessoa, mas estes à minha frente, tão compenetrados nos meus, não me dizem nada, são como um poço obscuro e misterioso. Ao tentar desvendá-los fico mais perdida e confusa do que já estou.
- Vazia. - Ele solta de forma abrupta, cuspindo as palavras ácidas - é como se tivesse passado a existir a pouco tempo, alguma criação desta tempestade. E mesmo assim, tão cheia de possibilidades.
Apesar de eu compartilhar da mesma opinião, ouvir aquilo de outra pessoa me magoou. Desviei meus olhos para o chão, não me atrevendo a encará-lo, e permaneci quieta.
"O que eu posso fazer diante dessa situação? Se ele for algum maníaco e eu sair correndo vou atrair apenas sua ira sobre mim. Havendo perigo aqui dentro para mim, lá fora também o terá; a tempestade se mostrou bastante cruel comigo.
Além do mais, se ele estiver certo em suas suposições malucas... quer dizer que algo está acontecendo comigo. E que alguém provocou isso com um propósito".
Fechei meus olhos. Por que aquela última suposição me parecia ser a mais acertada? Afinal, o que tinha me acontecido?
As lágrimas que segurei a noite toda rolam por meu rosto. Choro porque me sinto indefesa contra um perigo que eu desconhecia. Uma sensação de impotência me invade.
Como eu acabei parando aqui, nessa floresta, numa noite de tempestade? Algo ou alguém causara minha perca de memória e me levara até ali. Isso se manifestava cada vez mais claro em minha mente.
Mas com que propósito? Qual é a causa de tudo isso? Eu realmente fui enviada para invadir a privacidade desse homem? O que eu posso encontrar aqui, afinal?
Sem aviso prévio, uma dor se forma em meu estômago e automaticamente levo minhas mãos para essa região da barriga. Sinto uma agitação ali dentro ficando cada vez mais forte, parece está ocorrendo uma revolução em meu interior.
Quando a primeira leva de náusea vem, eu me dobro ainda com as mãos na altura do estômago. Contorço-me e abro a boca, mas o vômito não vem. E a tortura continua.
Não percebo nenhum movimento do homem ao meu lado, ele provavelmente está assistindo minha cena ridícula e angustiante sem se preocupar em me ajudar.
Mas eu não ligo para sua indiferença, tudo em mim está voltado para esta batalha em meu estômago, onde parece haver duas forças dentro dele competindo brutalmente entre si, uma tentando expurgar a outra. Só que nenhuma está ganhando a batalha e a luta continua. Essa contenda acaba ressoando em minha cabeça que começa a latejar de dor.
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O Vazio Tempestuoso
Fantasy(noveleta concluída) À princípio tudo era calmaria, até Ela acordar em meio a uma floresta castigada por uma tempestade violenta. Ferida e confusa, tudo que permanece em sua memória é a lembrança de estar boiando em um mar calmo, sob o brilho doura...