Eu não acreditava na existência de seres místicos, bestas feras, tão pouco em demônios. Mas na noite de sábado de 1990 eu não imaginária que o mal estaria lá, ao meu lado. Faria três noites sem dormir. Meu prazo de entrega era apenas de dois dias. Meu roteiro estava uma merda e a decisão de manter um final fiel era uma corda que se prendia ao meu pescoço. Não haveria aceitação do público. Os produtores obviamente não o transformaria em filme e minha vida estaria na merda. Eu lembro da sensação de desconforto que a falta de sono me causava. Músculos doíam, meus olhos estavam pesando toneladas, o som do sangue pulsando em minhas veias era audível. Não poderia ficar se quer um minuto sem café. peguei minha cafeteira e despejei o resto do café na minha xícara favorita nesse momento meu corpo paralisou e uma corrente elétrica invadiu meu corpo. Foi um milésimo de segundo e logo a voz da minha mente começou a praguejar.
Ela dizia" criatura ridícula, seu esforço é uma mera perca do meu tempo, seu futuro é coexistir na miséria. Tudo o que você faz, o escritor que você julga ser, só será reconhecido por adultos igualmente depressivos e medíocres. Eu não espero fica aqui nessa carcaça narcisista..." a surpresa foi maior que a tristeza, demorei anos para me livrar do demônio que possuía o meu corpo. Demorou anos. Ele me insultava a todo momento, me obrigava a comer coisas estranhas como verduras, fazer exercícios e a prática a boa escrita sempre... Eu o detestava. Me obrigando a ser melhor, me obrigando a ser menos medíocre, sarando minha procrastinação, me tornando um escritor melhor e eu o odiava por me mostrar como era fácil fazer o meu trabalho sem se esforça. Uma vez eu o perguntei sobre sua história e como um velho amigo ele narrou sua vinda. Desde sua expulsão do céu e expulsão do inferno e sofrendo o pior dos castigos que seria habita em uma alma já condenada... aquilo, não nego me deixou desesperado, saber que você está condenado ao inferno por um demônio não é fácil. Mas o real objetivo dele era transformar minha vida e assim ele fez. Com um ano eu já era conhecido pelo mundo como o roteirista do milênio até 1999
ganhei o Nobel de literatura pela minha obra morte e vida. Toda via nenhum desses créditos me pertenciam, pertenciam ao demônio que me repreendia a cada sentença mal elaborada por cada diálogo pouco envolvente por cada final maçante... Ele me dizimava com comentários deselegantes sobre minhas tentativas de romance pouco ortodoxos. Demorou anos para que eu me acostumar-se a sua presença e quando sua ausência chegou me pareceu que alguém faltava em mim, e foi com meu terapeuta que a grande notícia veio à tona, eu criei aquele demônio. E agora ficou mais claro, a necessidade de criar alguém diferente a minha personalidade. Minha vida agora é semelhante à quando ele ainda não existia. Procuro pensar que ele era realmente um demônio, não uma parte minha tão brilhante tão talentosa que só se manifestou em um período curto de minha vida, e aceitar o fim de um período de genialidade me assombra.