Gosto de pensar que ela vai viver para sempre. Gosto de imaginar ela na faculdade, estudando, trabalhando, formando uma família, criando seus filhos, envelhecendo e por fim morrendo. Sempre imagino infinitos cenário de sua vida e em todos eles ela morre aos 90. Mas ali está ela com seus poucos 14 anos atravessando a faixa de pedestre com sua melhor amiga e a menos de 10 metros vem um bêbado a 140 km por hora, passou o sinal e esmagou as duas. As duas morreram na hora. Meu coração se partiu naquele momento. O tempo passa diferente aqui e logo eu a verei.
Ela está lá do outro lado da porta e eu sou o anfitrião, ela vem até mim e ainda confusa me pergunta o que aconteceu. Eu dei todos os detalhes, falei de sua morte e a minha função. Ela me substituirá ela será responsável por receber e observar todas as pessoas e anuncia as 3 opções, 1° voltar ao início de sua vida, mas nada muda a morte é a mesma, 2° deixar de existir e 3° decisão divina. Levou pouco tempo, mas ela aprendeu, eu a deixei no vazio perto do observador. O legal de ser um observador e que, quando chega nossa hora de ser substituídos nós podemos existir sem forma no vazio. Ela observou várias vidas e a cada vida ela aprendia. Sua melhor amiga virou uma parte importante do ciclo, ela faz parte da "vida" ela passa pelo mundo como o vento levando a vida para todos. Eu a observei por tanto tempo e penso como é injusto ela ser um observado e não uma "vida". O vazio não estava nas minhas projeções para o futuro dela. Mesmo sem a presença do tempo, mesmo depois de séculos, mesmo depois de observar todas as vidas possíveis eu esqueci que o destino é incontrolável.
