Capítulo 4

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Seguimos para a cozinha. Abro os armarios e a geladeira. Me espanto ao ver um esquilo morto no congelador.

— O que é isso Jay?

— Ah, eu cacei ontem, só tirei a pele e congelei. Está fresquinho.

— Meu Deus, que pecado. Tadinho do bichinho. Seu… seu… assassino de esquilos. Desde quando você come cadáveres Jared?

— Desde que eu preciso comer para sobreviver e não tem tanta comida disponível?

— Não não, sem desculpa. Come uma cenoura. Temos uma horta aqui.

— Você não come carne?

— Fazem uns 23 anos. Não como carne desde que descobri que era bicho morto. Não acho justo um bichinho morrer só para me alimentar. Eu era vegana, mas agora é mais dificil, admito, a gente come o que encontra. Mas sou vegetariana, carne não como de jeito algum.

— Ok. Vou dar o esquilo para alguém. Feliz?

— Ia estar mais se você ressucitasse o esquilo. Mas como de Jesus Cristo você só tem a cara me contento com isso.

— Ha ha, engraçadinha.

— Desculpa, não resisti. Mas agora vai tomar um banho, eu me viro com o jantar.

— Ok. Ve se não coloca fogo na cozinha.

— Olha quem fala.

Fiz arroz cozido, legumes e uma salada. Depois que Jared voltou foi minha vez de tomar um banho. E como eu precisava disso.

A água morna relaxou todo meu corpo. Lavei meus longos cabelos com shampoo, esfreguei minha pele com um sabonete umas três vezes. Só parei quando senti que estava realmente limpa.

Nesse tempo em que estou fugindo de Nicholas  não tinha conseguido parar para tomar banho. Eu sei, nojento.

Mas não tinha um lugar seguro, mal parava para dormir. Tinha medo o tempo todo. E hoje, pela primeira vez em muito tempo, me senti segura.

Quando terminei, vesti um short de algodão e uma blusa de alcinhas, que ganhei de Leona. Ela disse que no depósito tem roupas, que amanhã vamos procurar algumas para mim.

Me sentia até mais leve, sem toda aquela sujeira. Quando entrei na cozinha Jared estava sentado à mesa me esperando para jantarmos.

Ele bebia um copo de água e o coitado acabou se engasgando. Corri para ajuda-lo.

— Calma.— Disse enquanto dava alguns tapinhas em suas costas musculosas. — Desculpa se te assustei.

— Não, tudo bem. É só que você ta… é… diferente.

— Estou limpa né?

— Também.

O olho sem entender muito bem, mas deixo pra la. Minha fome fala mais alto. Me sento e começo a servir nossos pratos.

— Nossa. Que delicia. — Ele diz depois da primeira garfada.

— Obrigada. Mas acho que a fome deixa a comida mais gostosa.

— Não não. Está realmente ótimo.

— Vou aceitar o elogio.

Continuamos a comer em um clima descontraido. Jared me contou como conheceu Mike, e como fizeram a comunidade crescer.

— Jay? E o Shannon? A Constance? O que aconteceu com eles?

Ele respira fundo.

— Minha mãe morreu. Na verdade ela se transformou naquelas coisas, e eu a matei. O Shan… eu não sei. Nos separamos a algum tempo, ele precisava resolver algumas coisas, e quis fazer sozinho

— Sinto muito. — Seguro sua mão — Quem sabe um dia vocês se encontram, sabe temos que ter esperança. E sobre sua mãe, ja não era mais ela, você fez o certo.

— Eu sei, mas é dificil. Eu ainda tenho pesadelos com isso. Minha doce mãezinha, ela era minha heroína… mas não tive escolha, ela ia matar o Shan.

— Eu sempre admirei muito sua mãe. Que mulher incrível, tinha uma luz que emanava dela. Tão jovial, tão linda.

— Ela era. Minha mãe era a mulher mais forte e incrível que já conheci.

— Então pense nela assim. Como o mulher que ela foi. Tenho certeza que ela se odiaria se tivesse machucado seu irmão. O que você fez foi dificil para você, mas foi um favor a ela.

Ele acente.

—Agora senhor Leto, a louça é por sua conta.

— Justo.

Ele lavou toda a louça, mas eu fiquei com pena e sequei e guardei tudo.

— Estou exausta.

— Eu também. Pode ir la para a cama, eu fico no sofá.

— Mas de jeito nenhum. Estamos na sua casa. Eu durmo no sofá.

— Me deixa ser cavalheiro Luíza? Vai já pra cama.

— Não.

— Está fora de cogitação você dormir aqui.

— Então os dois dormimos na cama. — Quando percebi ja tinha dito— É… não tem nada demais não é? A cama é grande… vamos só dormir…

Ele ri do meu desconforto.

— Por mim tudo bem. Agora que você esta cheirosinha, da pra dormir com você.

— Nossa, obrigada.

Fomos para o quarto e preparamos a cama. Me deitei do lado esquerdo, e ele ao meu lado.

— Boa noite Lu.

— Boa noite.

Eu estava morta, mas não conseguia dormir, saber que Jared estava ali, tão proximo, me tirava a calma.

De onde estava conseguia sentir o calor que emanava de seu corpo e isso estava me deixando maluca.

Naquele momento percebi o quanto desejava aquele homem, não era amor, impossível amar alguém que conheci hoje. Era desejo, coisa de pele sabe?

Percebi sua respiração suavizar, ele caiu no sono, me virei para ficar de frente para ele.

O quarto estava levemente iluminado, por um abajur. Jared tem medo de dormir no escuro. Fiquei admirando seu rosto. Tão sereno, tão lindo, tão angelical.

Eu poderia ficar olhando pra ele por toda a eternidade, sua boquinha, tão bem desenhada estava entre aberta, sua respiração calma, seus cabelos escuros espalhados pelo travesseiro.

Meu Deus, como pode existir uma criatura tão linda? Parece que ele foi esculpido pelos anjos,com todo o capricho e esmero que tinham.

Aos poucos fui relaxando, quando menos percebi a escuridão me tomou.

End Of All Days (CONCLUÍDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora