Capítulo 2

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JARED LETO

Chegamos ao fim dos tempos.

Lembro de quando era pequeno e sempre ouvia vovó dizer isso, quando assistíamos o noticiário na tv. Quem me dera que dessa vez também fosse só modo de falar… mas não, o mundo realmente acabou.

Um dia fui um cara conhecido, um ator premiado, vivia da minha música, o mundo conhecia minha arte, eu tinha dinheiro, status, conhecia pessoas importantes, mas hoje nada disso importa, porque todos estão mortos.

A vida nunca foi fácil pra mim, sempre lutei muito para conquistar tudo o que eu consegui, e da noite para o dia eu já não tinha mais nada…

Todo o dinheiro, toda a fama não puderam salvar minha mãe, eu a matei, com minhas próprias mãos, mas não tive escolha, ela se transformou em uma daquelas coisas e se eu não a matasse, ela mataria Shannon.

Por um bom tempo fomos só ele e eu, sobrevivendo juntos, no meio do apocalipse zumbi,  mas até o Shan eu perdi. Nos juntamos à um pequeno grupo, e ele se apaixonou por Julliet, ela era uma boa garota, fazia bem ao meu irmão, mas um dia fomos atacados por um grupo de saqueadores, o chefe deles quis levar Julliet assim que colocou os olhos nela, ela se negou, também era apaixonada por Shannon, então o desgraçado a matou.

Meu irmão ficou maluco, a dor o enlouqueceu, e ele jurou vingar a morte de sua amada. Me propus à ajudá-lo, mas ele não quis. Disse que era algo que faria sozinho. Então nos separamos.

Depois de meses sozinho encontrei o grupo de Mike. Não vou dizer que amo viver lá, mas pelo menos tenho um lugar seguro para descansar, comida, água.

Sei que estou melhor que muitos que vagueiam por aí,  mas mesmo assim sou infeliz, já pensei muitas vezes em desistir, em me jogar no meio de uma horda de zumbis, mas não sei porque não consigo, alguma coisa grita em meu coração para não desistir, que tenho muito o que viver ainda… Talvez seja a persistência que sempre me acompanhou. Eu era um cara feliz, amava viver, não desistia dos meus sonhos, por mais absurdos que fossem, mas hoje… sou só mais um, que luta todos os dias para sobreviver.

Hoje era dia de coleta, sempre saímos em grupos, mas pedi para Mike me deixar vir só, ele relutou um pouco, mas por fim concordou.

Não gosto de vir acompanhado, acabo me preocupando com meus colegas e não consigo fazer direito o que devo fazer. Pelo menos se eu morrer não coloco ninguém em risco. Ninguém vai sentir minha falta mesmo.

Há alguns dias, Phill fez uma ronda por esses lados e disse que encontrou uma lojinha abarrotada de coisas.

Rodo mais um pouco até que encontro a tal loja, realmente tem muita coisa aqui. Pego as bolsas e vou colocando tudo o que julgo importante.

A primeira bolsa está quase lotada quando derrubo uma lata no chão. Do nada aparecem varios zumbis, não sei onde estavam, como surgiram assim, tão rápido, mas me vejo cercado, são muitos deles.

Acabo com quase todos, mas ainda resta um, perdi minha faca, e não consigo me livrar dessa aberração.

Quando estou quase desistindo de lutar o podre para de se mexer e consigo finalmente tira-lo de cima de mim.

Ergo meus olhos e encontro o rosto mais lindo que já vi.

Uma garota linda, com grandes olhos negros me encara com a expressão de espanto. Minha mente viaja, mergulho no escuro dos seus olhos.

Não sei o que me puxa do transe em que me encontro, mas eu acordo. Olho melhor para ela, corpo pequeno e bem desenhado, parece ser bem jovem ainda, o que uma garota dessas ia querer com um homem como eu, agora que não tenho mais nada a oferecer?

Ela estende a mão para me ajudar, mas me levanto sozinho.

— Eu…  Você está bem?— Diz com a voz meio trêmula.

— Estou.

Sou seco, vim aqui com um propósito e não posso fugir dele, não estou aqui para fazer gentilezas

— Nossa, educação passou longe. — Ela diz baixo, mas eu ouço.

— Queria o que? Que eu beijasse seus pés por ter me ajudado? Ajudou porque quis.

— Credo, quem diria que Jared Leto fosse azedo assim?

— Então sabe quem sou? Grande porcaria não é?  Jared Leto, mais um sobrevivente em meio a tantos outros.

— Bom Jared, fico realmente feliz em saber que você está bem, mas não tenho saco e nem tempo pra gente amarga, passar bem.

Ela vira as costas e começa a ir embora. No mesmo momento me arrependo de ser tão rude com a mocinha. Pude ver a decepção em seus olhos, e isso atingiu meu coração.

— Hei! — Ela se vira e me encara com os olhos cansados— Como é seu nome? Você está sozinha?

— Sim… eu me chamo Luíza

— Me desculpe pelo meu jeito Luíza, não estou em um bom dia, mas não é certo eu descontar em você, que só me ajudou. Aliás, muito obrigado.

— Não tem problema Jared. Entendo o que essa bagunça fez com as pessoas, é só que, eu sempre te admirei, e foi uma decepção ser tratada assim.

— Obrigado pela admiração, e deixe eu me redimir com você, eu vivo em uma comunidade, la é grande, temos uma estrutura legal, venha comigo.

— Eu… não sei… não tive boas experiências com grupos.

— Vamos fazer o seguinte: venha comigo e conheça tudo, se gostar você fica, se não segue seu caminho.

Ela parece um pouco pensativa, mas logo abre um sorriso lindo para mim.

— Tudo bem. Não tenho nada a perder. Só vou pegar minhas coisas.

Ela corre e pega sua mochila.

— Você tem mais alguma coisa para pegar aqui?

— Só um momento, tenho que encher aquelas sacolas.

Ela acente e me ajuda a pegar tudo o que preciso. Carregamos o carro e seguimos viagem.


End Of All Days (CONCLUÍDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora