Capítulo 4.

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"Quando os sentimentos do passado se misturam com o presente." 

Vamos crescendo e nos afastando de tantas coisas, tantas pessoas, tantos costumes... Quando você começa a pensar o caminho que você trilhou e o que você conquistou, meio que o peso da saudade de certos momentos começa diminuir porque tudo que você viveu foi necessário para chegar onde você está hoje. E muita das vezes não entendemos porque nos afastamos de fulano, mas fulano também poderia ter te procurado. Então não se culpe por atitudes que não dependia só de você. Toda história tem dois lados, não se deixe enganar pela aparência de um lado que você nunca chegou a conhecer. 

Eu precisava ficar sozinha, tinha muita coisa para pensar. Caso pareça uma decisão fácil, afinal quem não faria de tudo para ajudar os pais? No meu caso, laço sanguíneo nunca significou nada. Família são pessoas que se fazem presente, que te cuidam, que ficam felizes por você. Desde que saí da casa dos meus pais eles nunca foram atrás de mim, nem ligaram pra saber se eu estava bem, é até uma surpresa saber meu número. 

Desde criança, por volta dos meus dez anos, comecei ligar a palavra "amor" a dor. Meu pai que dizia me amar, sempre me diminuiu, minha mãe que dizia o mesmo, nunca me defendeu. Meu irmão que me batia, quebrava meus brinquedos, fazia burrada e colocava a culpa em mim. E esse por sinal, não me lembro de dizer me amar... mas família é isso não é? Amor. Ou deveria ser. 

Durante esses anos eu pensava em minha mãe, vez ou outra via o seu Facebook. Admito não ter a procurado também, mas eu estava completamente chateada por ela nunca ter se preocupado comigo. Ela sempre priorizou aquele marido tóxico dela, o que pra mim é extremamente revoltante.

E depois de tudo que passamos nas mãos dele, de tudo que ela sofreu, o tanto que apanhou, foi humilhada... Me pergunto se ele não estaria sendo punido, acredito no sobrenatural e o quanto Deus tem o controle de tudo. Ele já fez muita gente sofrer, o karma não falha. E eu não quero me meter no karma dele.

Eu também não posso deixá-lo morrer, minha família não me perdoaria. A vida dele está em minhas mãos. Parece uma ironia do destino. 

— Luísa, você não entende? Eu quero que você doe um pedaço do seu fígado para ele. — Essas palavras ecoavam na minha cabeça enquanto tentava entender o que eu estava sentindo. 

Na hora me fiz distante, sorri e agi como sempre faço. Admito que realmente mexeu comigo ele está tão doente, eu o odeio, sempre o culpei por tudo de ruim que aconteceu comigo, como quando me sequestraram porque ele não pagou suas dívidas de jogos. 

Passei por poucas e boas naquela casa, hoje que tenho tudo o que eu sempre quis. Me vejo mais uma vez conturbada com problemas do passado. Essa aparição da minha mãe, me fez reviver tudo que aconteceu comigo na adolescência. 

Deitada em minha cama, olhando para o teto enquanto apanhava mais uma vez do passado. Meus pensamentos que um dia pararam de me perturbar com problemas do passado, hoje retorna. 

Meu celular que nunca costumo largar, nem sequer sabia onde estava. Me desperto quando minha campainha toca. Vou até a porta abri-la.

 — Nossa, você tá horrível.  — Diz Lorena ao me ver e adentrar a sala. 

 — Obrigada?  — Eu disse irônica enquanto fechava a porta atrás de mim. 

 — O que aconteceu? Já faz dois dias que você sumiu. Não atende telefone, Marcos disse que você sumiu do trabalho também. 

 — Por onde eu começo? Ah! Minha mãe apareceu e não foi pra me ver e dizer que sentiu saudade. Ela só quer um pedaço do meu fígado pro marido dela. 

 — O marido dela que no caso é o seu pai? Não é? 

 — Antes fosse pra um desconhecido. 

 — Então você não quer doar? 

 — Aí o problema. Eu achei que não, mas se isso está me doendo tanto, talvez seja melhor eu doar. Caso contrário eu não teria dúvidas. 

 — Você sabe quanto tempo ele tem? 

 — Não. Eu não mostrei interesse no assunto, na verdade eu deixei ela sozinha lá e vim embora. 

 — Então ela não sabe que você está pensando sobre? Ela acha que você não é uma opção. 

 — É. Acho que sim. Por que? 

 — Porque geralmente nesses casos, a pessoa pode ter tempo, como não pode. Talvez ela te procurou como a última opção. Você nunca soube desse problema dele, pode não ser recente. Eu não sei. 

 — Não estou entendendo. O que você tá dizendo?  — Sinto meu corpo gelar. 

 — Liga pra sua mãe. 

Me levanto e começo a procurar meu celular, até acha-lo em cima do microondas descarregado. Coloco no carregador até surgir uma carga. Assim que o telefone liga, 16 chamadas perdidas da minha mãe. 

Meu coração acelerou no segundo em que li, minhas mãos soavam. Agora eu sei que não podia deixa-lo morrer. Eu não sou Deus para decidir qual é a hora de alguém partir dessa para melhor. Como pude ter sido tão egoísta a ponto de pensar em não doar. Afinal de tudo, ele é meu pai. 

Liguei para minha mãe, mas sem sucesso. Caia na caixa postal direito, nem chamava. 

 — Será que aconteceu alguma coisa?  — Vamos ao hospital. — Eu disse pegando minha bolsa. 

 — Você não vai tomar um banho? 

 — Eu tô com pressa. 

 — Mas você tá fedendo Luísa. 

 — Tá.  — Fui até o quarto e passei um perfume.  — Agora tá ótimo. — Eu disse colocando os chinelos. 

 — Tudo bem. Só que eu dirijo.  —Disse Lorena pegando as chaves da minha mão.  —Abriu a porta. 

 —

Ao chegar na recepção do hospital. 

 — Boa tarde. Pode me dizer em qual quarto o Senhor Paulo Salazar está? 

 — É seu parente? 

 — Sim. É o meu pai. 

 — Um minuto que vou chamar o médico dele. 

— 

— Oi Doutor, eu posso ver meu pai? 

— É a filha do Paulo Salazar? 

 — Sim. — Eu respondi já nervosa. 

— Ele faleceu há duas horas. Eu sinto muito. 

Oi gente!! O que vocês estão achando? Aí meu Deus estou tão empolgada com essa história, parece que meus dedos tem vida própria rsrsrs

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Oi gente!! O que vocês estão achando? Aí meu Deus estou tão empolgada com essa história, parece que meus dedos tem vida própria rsrsrs. O seu comentário me motiva a continuar escrevendo então não deixem de interagir. Bjs e até o próximo capítulo.

Burocracia - Mirian Costa.Onde histórias criam vida. Descubra agora