Capítulo 2 Parte 3/3

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   ___ Maria... Volte a se alongar e sem perguntas!

   
  Como a pequena sabia do suposto caso entre seus professores, era a pergunta que vagueava sobre sua mente genuína. Após a aula, Emma queria estar só, queria pensar e meditar sobre esses dois anos que passou no orfanato. Se encaminhou para o mais longe que pode, numa mata próxima. Tinha que achar a paz que ainda faltava no seu coração, queria entender o que estava sentindo por Nicolas... Queria ser dele, queria o amar, dar tudo dela para ele, porém ela sabia que ele apesar de muito inteligente, não passava de um canalha.

     Quando chegou no bosque, sentou-se escorada em uma grande pedra, estava de tarde e os pássaros faziam festa numa eterna cantoria melodiosa. Quando fechou os olhos adormeceu, sem se preocupar com nada. Teve um sonho, nele estava sua família reunida em volta de uma grande mesa, quando de repente aparece Eduardo, sorrindo ao seu lado, e ao seu outro lado estava Nicolás, sério e ríspido. Não entendia bem o que acontecia. Não entendia o que falavam.

    Emma então acordou, já eram oito da noite e ela só tinha a luz do celular e o da lanterna. Não fazia ideia de como sair de lá, os barulhos agora não eram mais amigáveis e tudo se transformava em um pesadelo. Havia algo se mexendo perto dos seus pés, e ela temeu. Se fosse uma cobra, o que faria. Prontamente subiu na pedra, e ligou para Nicolás.

___ Olha se não é uma linda donzela que está ligando.

___ Apesar disso não ser um conto de fadas, digamos que eu precise mesmo ser salva.

___ Está tudo bem?

___ Não, eu tô sozinha no meio do nada e acho que tem uma cobra aqui.

___ Mulher, como foi parar aí?

___ Eu vim distrair a cabeça.

___ Você é retardada ou o quê?

___ Só diz se pode me buscar, eu deixei minha moto aí.

___ Com certeza você deixou, iria atropelar alguém se fosse com ela.

___ Qual o seu problema? Me erra!

___ Liga a localização que vou te buscar.

___ Você acha que vai me tratar como uma idiota e eu vou aceitar isso por que gosto de você?! Prefiro ser engolida por javalis.

Fim da ligação

      Irritada com o estranho comportamento de Nicolás, desceu com desdém de cima da grande pedra, pegou a lanterna em sua bolsa e foi caminhando sem rumo, em busca do caminho de volta. Ficou intrigada, brava e triste, pois seu amigo nunca havia tratado ela assim e se perguntava o que o teria levado a tal atitude. Se perguntava em que teria errado, só por ter entrado no meio de um bosque não à fazia uma retardada, era o que pensava quando tropeçou e caiu dentro de um buraco. Se desesperou, teve medo, e sentiu muita dor na perna esquerda. Agora sim ela precisaria de ajuda e querendo ou não, sentia que só Nicolás a podia ajudar. Lhe ligou novamente.

___ Oi. Eu sei que você...

___ Me perdoa por ter falado daquele jeito. Me diz onde você está, quero te ajudar.

___ Aí eu tô com muita dor. Caí num buraco, uma vala, eu não sei direito. Sabe aquele bosque perto da antiga igreja católica?

___ Perto da igreja abandonada?

___ Sim.

___ Meu Deus. Eu vou correndo aí. Mas você tem como me falar mais ou menos onde você está?

___ Tem uma trilha e se você seguir ela vai encontrar uma parte dela onde se divide em três. Eu marquei a que entrei com um galho, só que me lembro que depois de uma árvore muito grande eu me distraí e não prestei muita atenção no caminho.

___ Aí meu Deus.

___ Não me assusta assim. Não me deixa aqui sozinha por favor.

___ Eu não quero te assustar, mas você  toma cuidado aí porque esses buracos costumam ser ninhos de cobras.

___ Vem logo pelo amor de Deus. Eu nem vou olhar pros lados.

___ Já estou indo. Já estou chegando, você está no viva voz.

___ Estou com medo.

___ Você está chorando?

___ Talvez eu esteja. Minha perna tá doendo muito e eu acho que esse buraco e grande demais pra ser um ninho, está mais pra uma cova.

___ Cheguei. Sorte que como aqui é muito alto o sinal é bom  e a torre fica há dez quilômetros.

___ Aqui tá muito úmido e frio. Que horror.

___ Vou desligar pra te achar mais rápido, okay? Se eu demorar muito você me liga___ No momento em que ela ia dizer algo, escutou uma outra voz e não sabia se estava perto do buraco em que caiu ou na ligação com Nicolás. Naquele instante a ligação caiu a deixando mais preocupada ainda.

      O tempo passava e nem um sinal de Nicolás que também estava com o celular desligado. Ela olhava para cima, com medo de onde possivelmente teria caído. Sentia um ardor na perna, um sono estranho. Sem muito se preocupar deitou no chão de terra frio e caiu no sono. Alguns minutos se passaram, ela estava novamente no sonho que tivera mais cedo. Uma mesa, seus pais, seu irmão, Nicolás e Eduardo. Dessa vez algo estava diferente, como se o sonho anterior estivesse mais claro agora. Na ponta da mesa estava uma criança, muito bonita e bastante parecida com Emma, naquele instante ela saiu do lado dos rapazes, pegou a criança no colo e a abraçou.

      Enquanto Emma abraçava sua suposta filha, uma briga horrenda acontecia atrás dela, mas nada podia fazer para impedir o sonho, somente o assistir para desvendar qual mistério ele carregava. De repente, Nicolás a olhava com ódio e desprezo, e em seguida tirou a criança de seus braços. Nesse momento, Emma gritara bem alto um: " Não", e acordou com o susto. Então escutou de longe alguém dizer " grite mais alto, para que eu possa saber a onde está". E para sua agonia, não parecia ser Nicolás.

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Eu triste sou calada
Eu brava sou estúpida
Eu lúcida sou chata
Eu gata sou esperta
Eu cega sou vidente
Eu carente sou insana
Eu malandra sou fresca
Eu seca sou vazia 
Eu fria sou distante
Eu quente sou oleosa
Eu prosa sou tantas
Eu santa sou gelada
Eu salgada sou crua
Eu pura sou tentada
Eu sentada sou alta
Eu jovem sou donzela
Eu bela sou fútil
Eu útil sou boa
Eu à toa sou tua.

Martha Medeiros

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