Os pássaros cantavam de forma suave, as cigarras atuavam seu papel na cadeia da vida e ali, bem escorada em uma árvore estava Emma, perplexa com sua decisão. Admirava o céu enquanto criava suas teorias sobre como alguém poderia se tornar uma estrela após a morte. Se ela enfim aceitasse que seu irmão não voltaria, estaria aceitando sua perda. De certa forma se Darlan estivesse mesmo em outro plano não cabia à ela o impedir de estar em paz, pois não pertenciam ao mesmo lugar.
Se a luz que vemos hoje de uma estrela é sempre como olhar para o passado, teria então que aprender com elas que: Algumas já não existem, mas o que realmente importa é o que elas deixaram para ser visto. Com esse pensamento cravou em seu peito que perdas fazem parte, mas que deveremos seguir em frente. Desde àquela noite fria e cheia de desejos vindos de todos os cantos da Terra, ela escolheu olhar para às estrelas todas as noites e se lembrar do irmão, de seu pais e eles deixaram nela anos luz de lembranças.
Riscou de lápis alguns rascunhos, sobre coisas que poderia fazer e alguns objetivos. Começar do zero sempre será difícil, mas o importante é simplesmente começar. Lembou-se que astrônomos mapeiam o universo à cada dia. Ela iria traçar a rota de seus sonhos, entretanto percebeu que não estava agindo de forma correta. Ainda naquela noite visitou o túmulo do seu irmão mais uma vez e pediu-lhe desculpas caso ela não voltasse mais lá. Essa atitude para ela era tudo o que iria fazer sentido, era carregá-lo na alma ao invés de rezar para ossos do que um dia foi seu irmão cheio de vida.
Emma voltou para casa, se deitou em seu quarto silenciosamente, pois Eduardo ainda estava deitado em seu tapete de cor marçala. Ao olhar uma última vez para ele antes de pegar no sono, foi de encontro com a sensação de alívio. Ela sabia que naquele mesmo tapete foi dormir chorando muitas vezes e em algumas delas, ele era o culpado, porém desde a morte do seu irmão tinha mudado sua personalidade. Logo decidiu que por mais que ela pensasse que ele não merecia, ele era a pessoa que esteve com ela durante anos, e o último motivo significativo para seguir em frente. "Por que não dar um voto de confiança e ele?" Pensou. Nem tudo está perdido se há oportunidade de um novo recomeço.
Pela manhã, Emma abriu sua janela que sempre emperrava, sacodiu as cortinas e deu um grande sorriso ao ver que o botão de rosa. Até outro dia parecia estar morto e naquela manhã se tornou uma bela flor. Arrumou seu quarto e não se preocupou com a aparência. Caminhando ainda com sua camisola grande e clara, descabelada e sem escovar os dentes, apareceu para o café sorrindo. Eduardo estava tomando o café de um outro dia, e sem nada mais à mesa.
___ Emma, hoje você acordou tão... Diferente.
___ Senhor, o botão floriu.
___ Como?
___ O botão. Oras.
___ Ah sim. Está falando da roseira. Uma linda flor. Não quer que eu à pegue e ponha em seu quarto?
___ Jamais.
___ Não gosta que eu tente te agradar?
___ Não é isso. Eu não iria arrancar algo para ter só pra mim se eu sei que posso admirá-la da janela. Ao invés de ver seu corpo secar no meu quarto posso a ter por muito mais tempo.
___ Belas palavras. Já lhe disse, me chame de Eduardo.
___ Como você tem coragem de tomar isso?
___ Só por que eu fiz outro dia? Não está estragado.
___ Não é isso.
___ O que é então? Oras.
___ É porquê foi você quem fez___Riram.
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Linhas Temporais
Romance#13 em Eduardo Um arremedo de dias. Linhas paralelas, tênues entre o tempo e a complexidade do viver. Precisamos de tempo para viver, mas é possível viver sem saber o que aconteceu durante algum tempo? A importância das decisões...