echo ㅡ 9

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Dia da viagem.

Minhas malas estavam feitas, meu quarto recém decorado estava branco de novo e meu peito ardia por querer gritar. O dia estava nublado, tempestuoso, mas nada mudaria a decisão precipitada de meu pai.

Kihyun marcou um último encontro para nos despidirmos, já que meu vôo era de noite, queria passar um tempo comigo.

Fui tirado de meus devaneios com o celular tocando, entretanto não pude reconhecer que número era aquele, não se encontrava nem salvo em meu celular, mas mesmo assim procurei atender.

ㅡ Im Changkyun, como posso ajudar? ㅡ Perguntei, o outro lado da tinha tinha uma respiração oscilante, ofegante e desesperada, o que me assustou, me preocupando desde já.

ㅡ Changkyun, você não me conhece, eu sou mãe do Kihyun, eu preciso de sua ajuda, Kihyun disse que sairia pra te encontrar e até agora nada, ele saiu ontem de madrugada dizendo que voltaria hoje de manhã, mas não voltou.
Vi no noticiário algo sobre um acidente e meu coração está muito apertado, por favor me ajude! ㅡ A voz embargada da mulher dificultava toda sua fala, mas eu já tinha entendido tudo, combinei com a mesma de sair para procurar Kihyun, mas porque o mesmo disse que viria para minha casa de madrugada?

Changkyun, foco.

Já passava do meio dia e nada de Kihyun, não estava no bairro, nem na avenida principal, não estava na casa de ninguém e a chuva só parecia piorar.

Eu podia jurar por Deus que estava perdendo todas as esperanças quando olhei para aquele maldito lago, e se Kihyun estivesse ali, eu o matava.

Em passos largos fui em direção à todo o caminho escondido que ali foi feito, tendo algumas dificuldades pois além da chuva, a água do rio também aumentou. De longe pude ver o garoto acinzentado, mas ele não estava sozinho, junto de Kihyun havia outro garoto.

Eu já não entendia mais nada, minha visão era totalmente embaçada pela chuva e os fios de cabelo molhados que tampavam minha visão, andando lentamente até a beira do lago aonde Kihyun se encontrava, pude ver o rosto do garoto que o acompanhava, se parecia comigo de longe, talvez Kihyun tivesse achado que era eu.

Não conseguia entender o que estava acontecendo ali até que sinto meu corpo sendo bruscamente puxado para o rio, a água fria entrou em contato direto com meu corpo me dando um choque térmico e me tirando a consciência.

CHANGKYUN! ㅡ

De novo não, de novo não...

Meu corpo todo se debatia procurando subir a superfície mais uma vez, meus pulmões queimavam por oxigênio e minhas artérias se contorciam pela falta de circulação do sangue em todo meu corpo, sem controle sobre minhas ações e reações fui aos poucos me deixando a água me inundar até não sentir mais nada em meu corpo.

2019.

Abrir os olhos naquela situação era perturbador, meu corpo todo tinha a sensação estar na água e o raciocínio não demorou muito a ligar o que havia acontecido mais cedo.

Queria me levantar e correr até o médico dizendo que eu estava bem, eu queria saber como estava Kihyun, mas fui impossibilitado por algumas agulhas que estavam em meu braço direito, um tubo em minha caixa torácica, e outros dois em minha boca e nariz, respectivamente. A luz do quarto irritava minha visão por ser tão branca, eu nem sequer podia fechar meus olhos sem sentir dor.

Mas como se fosse uma morfina, aos poucos senti o controle do meu corpo outra vez, tirei o tubo que havia em minha boca e o do nariz, sentindo uma dificuldade absurda em respirar, mas tudo bem não é? eu sofri um afogamento, isso é normal.

Me levantei e mesmo com o avental leve do hospital saí de meu quarto, queria levar alta e ir logo para casa contar a Kihyun que estou bem, e que talvez não viajarei mais após esse incidente, eu estava tão animado!

Os olhares direcionadas a mim me causavam uma sensação estranha, não por minha vestes, eles me olhavam como se eu fosse uma aberração ou algo assim. Eu devo mesmo parecer um doente.

ㅡ Changkyun? Im Changkyun? ㅡ Uma enfermeira me parou, sua expressão era igual a de alguns pacientes ali, mas seus olhos estavam bem mais arregalados, suas mãos que seguravam uma prancheta agora tremiam, tanto que deixaram o próprio material cair. ㅡ Como pode? Você... ㅡ

ㅡ Changkyun? Você acordou? ㅡ A enfermeira boquiaberta agora deu espaço para o médico que vinha atrás dela. Esse já tinha uma expressão melhor, alegre mas ainda sim surpresa, o que me fazia questionar, eu durmo tanto assim? Nem anoiteceu ainda.

ㅡ Venha, preciso te dar alta logo, isso é um milagre! ㅡ O grisalho andou em passos rápidos até a sala ao lado do quarto aonde eu estava, percebi que haviam muitas roupas ali, intens pessoais que não estavam comigo, me surpreendeu um tanto. ㅡ Como se sente? Está cansado? Respira normalmente agora? ㅡ O médico fechou a porta atrás de si, me dando a liberdade de sentar-se em sua frente.

ㅡ Como assim doutor? Foi só um afogamento, é óbvio que eu estou bem. ㅡ Escutar a risada soprada do médico me fez subir meu olhar até o mesmo, ele estava sério, aquilo sim me assustou.

ㅡ Changkyun, eu entendo a perca de memória, mas, quanto tempo você acha que ficou em coma? ㅡ O médico sequer me encarava, ele lia papéis enquanto mantia sua expressão duramente séria. Talvez tivesse me confundido com algum paciente seu, ou até mesmo com minha própria ficha, o evento de 1 ano atrás.

ㅡ Eu cheguei aqui hoje, por causa do afogamento mais cedo. ㅡ Disse como se fosse óbvio, o doutor em minha frente pareceu nervoso, ao mesmo tempo que incrédulo, ele olhava-me como se procurasse respostas, mas ainda assim, não me perguntava nada.

ㅡ Changkyun, você ficou em coma por 7 anos.

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