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A expressão no meu rosto é de frustração absoluta enquanto encaro a tela do computador no meu colo. Eu já apaguei e reescrevi o mesmo pedaço de texto pelo menos quinze vezes, nunca está bom o suficiente.

Eu detesto quando sei exatamente o que preciso falar, e mesmo assim não consigo dizer. Ou melhor, escrever. Eu sei que está péssimo. Sei que se espera mais qualidade de uma estudante de jornalismo, cujo blog soma milhares de acessos todos os dias, só que nenhuma oficina de redação jornalística te prepara pra esse tipo de coisa.

— Você não vai se arrumar? — pergunta Sarah.

Apenas ergo o olhar até enxergar a minha amiga por cima da tela. Ela está em seu quarto, do lado oposto do corredor, com os cachos presos em um rabo de cavalo alto. Encara o próprio rosto bem de perto, no espelho, abrindo a boca enquanto cobre os cílios com uma camada espessa de rímel preto. Eu ainda estou de pijama, com os cabelos presos parecendo um ninho de pássaro, e sem vontade alguma de levantar.

— Vou — respondo e volto a encarar a tela do computador. — Eu só preciso...

— Não precisa, não. — Minha amiga abaixa a tela do notebook sem hesitar. Eu a encaro, boquiaberta, mas sem conseguir proferir qualquer palavra a respeito. — Não precisa se justificar pra uns hipócritas machistas do Twitter.

— Estão me acusando de fazer essa merda toda por "fama", é claro que eu preciso dizer alguma coisa! Tipo, não é como se eu precisasse do Bertrand pra ganhar alguma fama. Eles sabem que eu namoro o vocalista da French 75?

— Sabem. E te acusam de fazer isso por fama também. Não vale a pena gastar sua saliva com essa gente. Além do mais, o Pedro não ficou de te pegar aqui em... — Ela puxa o celular do bolso para olhar. — Quinze minutos?

— Merda! Já são quase sete horas? — Salto da cama, correndo em direção ao banheiro. — Ainda preciso lavar o cabelo.

Sem me preocupar em fechar a porta, vou tirando o moletom e ajustando a temperatura da água.

— Algum programa especial para o mêsversário? — Ela quer saber.

— Eu não sei! — Grito sobre o barulho do chuveiro, enquanto a água morna escorre pelo meu cabelo, descendo por todo o corpo. — Ele não quer dar muitos detalhes. Vai ver é surpresa.

— Aposto que é sexo. — Minha amiga ri, inclinando o corpo para dentro do banheiro. — Com sorte, eu me dou bem também. Beatrice ia me apresentar uma amiga dela. Tem certeza que não quer ir na festa?

— Um monte de universitários bêbados numa piscina cheia de micose? — Espremo o frasco de shampoo na mão. — Vou deixar pra próxima, mas valeu o convite.

— Foi mal, esqueci que você só frequenta festa de gente famosa agora.

Eu viro os olhos, mas dou risada.

— Foi UMA festa de gente famosa — protesto. — Só uma!

— É. O maldito VMA! — Sarah ri também. — E ainda não te perdoei por não ter me convidado. Mas eu não namoro a estrela do Rock mais cobiçada do momento, e ainda frequento festas de fraternidade, então... — Ela lança um beijo no ar. — Vou indo. Não faça nada que eu não faria no seu lugar!

— Não tem nada que você não faria, Sarah Palmer!

— Exatamente!

Ouço o barulho da porta da frente batendo quando ela sai.

Tento ser breve, mas demoro pelo menos quinze minutos lavando o cabelo e outros dez secando com o secador. Depois preciso escolher uma roupa, o que é meio difícil quando eu não faço ideia de pra onde Pedro pretende me levar essa noite. Acabo escolhendo uma saia de couro com uma regatinha cinza de algodão bem versátil.

Ninguém mais, para sempreOnde histórias criam vida. Descubra agora