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Embora tenha apagado no chão do banheiro, acordo esticada na minha cama de solteiro. A camiseta ensopada de cerveja sumiu do corpo e agora um lençol fino é a única coisa que recobre a pele. Minha cabeça lateja. Sem abrir os olhos, sei que Pedro está zanzando pelo quarto porque sinto o cheiro da fumaça enquanto ouço os passos ocos no assoalho de madeira.

— Você não dorme nunca? — murmuro.

— No geral, só quando eu tomo remédio. — Ele parece achar graça da minha observação e o barulho dos passos se aquieta. — Ou quando não tô ansioso, o que é meio raro.

— E tem alguma coisa específica te deixando ansioso hoje?

Com uma semiabertura de pálpebras, vejo a figura desfocada de Pedro recostado na escrivaninha. Ele tem um cigarro na boca e os olhos presos no celular.

— De peruca e fantasia, Pedro Loth disputa campeonato de bebidas com a namorada em uma festa universitária — ele narra. — Tem fotos nossas também.

— Que merda... — Esfrego o rosto, sonolenta. — Abutres disfarçados?

— Tô pra conhecer um abutre que se preocupe em disfarçar. Não isso tá com cara de outra coisa. — Ele amassa o cigarro no potinho de porcelana que eu deixei ali estrategicamente. — Mas cansei de pensar nisso. Quer tomar café da manhã?

— Por "café da manhã" você quer dizer café preto e outro cigarro?

Um riso curto escapa entre os lábios dele. Se bem conheço meu namorado, esse mix de drogas é a única coisa que ele costuma consumir antes das 11 da manhã.

— Não. Quero dizer ir na lanchonete e comer de verdade. Você vomitou as tripas noite passada, tem que repor a energia. — Faço uma careta.

— Mencionar "tripas" não vai abrir o meu apetite.

— Sabe o que vai abrir o seu apetite? — Ele pergunta e prossegue sem esperar resposta. — Ovos e bacon, e depois um prato bem caprichado de Waffles.

Um sorriso escorrega nos meus lábios.

— Tá. Vou tomar um banho e a gente vai.

***

Dez pares de olhos se viram para nós no instante em que pisamos para dentro da cafeteria do campus e não desgrudam durante cada passo que damos rumo ao balcão. O braço de Pedro está apoiado no meu ombro de um jeito descontraído. O atendente de olhos arregalados, gagueja:

— P-p-posso ajudar?

— Um café preto pra mim— Pedro anuncia e então me fita. — O que vai beber, amor?

Amor. Não é doce e meloso, a palavra escapa dos seus lábios como se fosse tão obscena quanto o olhar que recai na minha boca, desejando beijá-la, e ele sorri, completamente ciente da provocação.

— Eu... hã... — Pigarreio, focando os olhos no cardápio grande fixado no alto da parede. — Um Latte gelado com caramelo, por favor.

—E dois pratos de ovos com bacon — meu namorado acrescenta, puxando o dinheiro da carteira: Uma nota de cinquenta dólares para o qual ele não faz questão de receber o troco. Só depois que o barista se afasta para preparar o pedido é que Pedro prossegue: — Hoje vai me contar qual o problema? — Eu o encaro com ar de dúvida. — Ontem você pediu pra não te chamar desse jeito.

Prendo o lábio entre os dentes e meneio a cabeça.

— Eu tava bêbada, sei lá, não estava raciocinando direito. O que aconteceu com "tiete"? — Levanto uma sobrancelha.

Ninguém mais, para sempreOnde histórias criam vida. Descubra agora