Ao sairmos da arena, tem uma pequena aglomeração de paparazzi nos esperando na calçada.
— Malditos abutres. — Pedro me puxa para perto pela cintura, eu sinto a tensão enrijecer cada um dos seus músculos. Os flashes são intensos e constantes, me impedindo de enxergar os rostos por trás das vozes embaralhadas que lançam perguntas como se fossem granadas.
— Pedro, você está planejando uma nova turnê?
— Pedro, o que os fãs podem esperar do novo álbum?
— Pedro, quais os planos do fim de semana?
"Pedro, Pedro, Pedro", ouço seu nome ser bombardeado de todas as direções e ele ignora com maestria, mas um fotógrafo em específico resolve falar comigo.
— Julie, o que você tem a dizer sobre o caso do chefe Bertrand?
— Escuta, a gente só tá tentando curtir a noite. Não vamos responder perguntas, tá legal? — Pedro intercede, me guiando em direção ao carro.
— Estão dizendo que tudo isso é uma artimanha pra ganhar fama. Julie, você não vai se pronunciar? — O paparazzo insiste.
— Quer a porra de um pronunciamento? Quer saber o que eu penso? — Pedro interrompe a caminhada e vira para o fotógrafo, parecendo irritado. — Adrian Bertrand é um merda, que serve comidas de merda, num restaurante de merda, e eu quero que ele vá à merda! E você também!
Então volta a me envolver, apressando os passos em direção ao carro.
Quando saímos do estacionamento, eu olho para trás, para ver se algum paparazzo resolveu nos seguir. Não vejo ninguém, mas Pedro ainda parece tenso no volante, com os olhos fixos no caminho e os ombros rígidos.
— Valeu — digo —, por me defender.
Ele meneia a cabeça.
— Não era pros abutres encontrarem a gente aqui.
Abutres é o termo que o Pedro usa para se referir aos fotógrafos indesejados, que aparecem para cercar cada vez que temos um encontro.
— Alguém deve ter vazado.
— O Erick era o único que sabia.
— E os funcionários do estádio — acrescento.
— É... — Ele pondera.
Os ombros relaxam um pouco e ele deixa o braço direito cair para o apoio central, enlaçando a mão na minha. Seus olhos me procuram rapidamente, como se pretendesse dizer alguma coisa, mas então voltam para a estrada.
— Tudo bem? — pergunto.
— Só tô pensando. Preciso de um cigarro.
Pedro solta a minha mão para caçar um maço no console.
— Pensando em quê? — Eu o assisto prender o cigarro entre os dentes e acender com o isqueiro prateado. Parece irritado, e eu nem sei bem com quê.
— Sou o primeiro a querer quebrar a cara do porco desgraçado do Bertrand, mas não dava pra fazer isso sem se expor tanto assim?
— Me expor tanto assim?! — Solto um riso seco, não acredito que ele quer discutir sobre "exposição". — Como nas doze músicas que você escreveu sobre fazer sexo comigo? Aquilo não é exposição, hein?
— Não, é um elogio, porra! — Ele bate no volante com força e então esfrega o cabelo. — Quando a mídia cair pra cima, não vai ser com elogios.
— Acha que eu não sei disso? Droga, Pedro, as coisas horríveis que eu leio no Instagram não começaram a aparecer depois que eu expus o Bertrand! Começaram com você. — Suspiro e desvio o olhar para a janela, vendo a paisagem urbana correr.
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Ninguém mais, para sempre
Literatura FemininaNinguém disse que o amor seria fácil. Com certeza não para a Julie e Pedro. Com um relacionamento marcado por desentendimentos e desencontros, o casal reunido tenta fazer o namoro funcionar uma segunda vez, mas as personalidades conflitantes e a pre...