Quatro dias depois que Pedro e eu somos clicados segurando cartazes na porta da emissora, o novo episódio ao vivo de Cozinhando Com As Estrelas vai ao ar. Não sei se Bertrand pensou que estivesse com o microfone desligado quando comentou em tom de piada: "se eu soubesse que essa garçonete me daria tanto trabalho, teria garantido pelo menos uma chupadinha". E o ator ao lado dele deu risada.
Acho que não me dou conta do quão real isso tudo se tornou até o momento em que minha mãe me liga.
— Filha, tudo bem? O que está acontecendo?
Claro que eu deveria ter contado tudo desde o começo. Não que eu tenha pensado que ela não entenderia, mas acreditei que manteria as coisas sob controle. Achei que a minha mãe, em Santa Bárbara, não ficaria sabendo dos meus problemas em L.A. Claro que estava errada. Principalmente quando meus problemas são grandes o suficiente para acabar estampados nas manchetes dos programas de fofoca que vivem ligados na TV do salão.
— Se você está ligando, acho que já sabe.
— Bom, um pouco — admite. — Mas quero entender.
É fácil me fazer de forte e independente na internet. Quando começo a desabafar em voz alta com a minha mãe, entretanto, as lágrimas rolam pelo meu rosto, impiedosas, empoçando meus olhos até que o mundo exterior não passe de um vulto embaçado.
— Por que você não vem passar uns dias em casa? — Sugere. — Se afastar de Los Angeles vai ser bom pra você no momento.
— Não dá — minto. — Eu tenho prova na faculdade e coisas pra fazer.
—Você não devia passar por isso sozinha. Liga pro seu pai, talvez ele esteja na cidade e passe aí pra te dar um apoio.
— Vou fazer isso — prometo, mas não faço.
Não sei se sobrevivo a outro diálogo parecido com esse.
Também não considero que esteja "sozinha", não na maior parte do tempo. Na verdade, tenho a minha pequena rede de apoio. Sarah providencia meu sorvete favorito e uma maratona de filmes da Disney antes de ir pra aula. Beatrice promete me passar a matéria. E eu só fico sozinha mesmo por uns quarenta minutos vendo Camp Rock entre a hora que a Sarah sai, e Pedro chega.
Ele aparece de surpresa, então me pega de pijama e cabelo bagunçado.
— O que está fazendo aqui? — Passo a mão pelos fios espetados no topo da cabeça, tentando parecer apresentável.
— Não é óbvio? — Ele se inclina para buscar um beijo na minha boca, puxando meu corpo para mais perto. Eu correspondo entreabrindo os lábios para recebê-lo. — Sua boca tá gelada.
— Sorvete — explico, entrando para dentro do apartamento. Pedro fecha a porta atrás de si. — Sarah descobriu que é meu antidepressivo favorito, então correu na lanchonete para comprar.
Pego o pote aberto no balcão e estendo. Ele aceita a oferta e se aproxima para roubar uma colherada.
— O meu é Zoloft — comenta.
— Você toma antidepressivo?
— Às vezes. — Pedro cava outra colherada gelada e leva até a boca, então aproveita a deixa para mudar de assunto. — Mas por que você tá se entupindo de sorvete?
— Você não viu?
— Passei o dia todo em reunião na gravadora. Semana de lançamento é um porre. O Ian já enfiou a gente nuns quinze programas diferentes pra dar entrevista. O que eu perdi?
— O Bertrand falando merda, pra virar. — Viro os olhos.
— O que o desgraçado falou dessa vez? — Os ombros de Pedro se enrijecem de tensão.
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Ninguém mais, para sempre
ChickLitNinguém disse que o amor seria fácil. Com certeza não para a Julie e Pedro. Com um relacionamento marcado por desentendimentos e desencontros, o casal reunido tenta fazer o namoro funcionar uma segunda vez, mas as personalidades conflitantes e a pre...