Minho mantinha seus olhos fechados, a cabeça apoiada em seus braços cruzados sobre o volante. Finalmente conseguira se recompor, mas algo nele havia mudado, fazendo-o parecer mais frio e distante do que nunca. Do lado de fora, a noite caía sobre os dois, tornando o clima ainda mais pesado.
Há palavras que ao serem ditas, não há como voltar atrás, suas consequências são como um efeito dominó, mesmo que nos esforcemos ao máximo para que as coisas saiam como desejamos, o resultado pode nos frustrar, e Minho sabia muito bem disso. No momento em que aquelas palavras deixaram seus lábios ele soube que não poderia mais fugir.
Por muito tempo, manteve suas emoções enterradas no mais profundo de seu âmago, se ninguém as encontrasse não poderiam feri-lo, não outra vez.
O inferno em que foi submetido no passado o ensinou uma coisa, o tamanho da confiança que você coloca em uma pessoa determina o quanto ela pode te machucar e ele não passaria por tudo aquilo novamente, portanto resolvera simplesmente não confiar em mais ninguém. Com o tempo, havia aprendido a se defender, moldado sua personalidade de forma que o servisse de armadura, mantendo as pessoas longe.
Seu único foco e o que o mantinha são era seu trabalho, só precisava focar em seu trabalho, céus por que isso era tão difícil? Essa era pra ser apenas uma investigação como outra qualquer, como as coisas haviam chegado naquele ponto?
A resposta pra essa pergunta estava bem ao seu lado, com sua cabeça encostada na janela, observando o movimento dos carros. Estava tão perto mas ao mesmo tempo inalcançável.Jisung se libertou dos pensamentos que pertubavam sua mente, voltando a realidade e se virando para observar o detetive. "Minho?", chamou o outro que virou seu rosto para encará-lo, seus olhos ainda inchados e avermelhados. "Tá ficando tarde, você não acha melhor acharmos um lugar pra descansar? Ainda temos horas de viagem pra chegar em casa e não acho bom você ficar dirigindo nesse..estado. Precisa dormir um pouco"
"Certo... Podemos parar em algum lugar", respondeu colocando novamente a chave na ignição e dando partida no carro.
Minho dirigiu por mais alguns quilômetros, até encontrarem um hotel que fosse decente, mas não tão sofisticado a ponto de terem que gastar muito, afinal, só passariam uma noite ali. Estacionou rapidamente em uma vaga próxima e ao sair do carro notou que o tempo havia esfriado bastante e uma neblina escura começava a se formar no céu.
Jisung caminhava ao seu lado encolhido e quieto, seus lábios tremiam por conta do frio. O detetive não pensou duas vezes antes de tirar sua jaqueta de couro e colocar sobre os ombros do garoto, que continuou sem dizer uma palavra sequer, apenas o lançou um olhar indecifrável.
Ah Lee Minho, como você consegue ser tão frio e ao mesmo tempo se importar tanto?Já na recepção Minho fez o check in, reservando dois quartos e avisando a recepcionista que eles sairiam pela manhã bem cedo, portanto já deixaria tudo pago. Entregou uma das chaves a Han que aguardava sentado em uma das poltronas próximas ao balcão.
"Jisung, saíremos amanhã cedo. Me encontre aqui no lobby às 7h30, ok?"
"Tudo bem"
"Boa noite. Espero que consiga descansar."
"Você também, Minho. Boa noite."
______
Entrando em seu quarto, Jisung tirou seus sapatos e puxou os cobertores que cobriam a cama antes de se deitar e puxou-os em seguida até seu pescoço, para se aquecer.
Estava sonolento mas sabia que não dormiria tão cedo, sua mente estava sobrecarregada de informações que pareciam não fazer sentido algum e seu peito doía com a confusão de sentimentos que tiravam sua paz e sua razão. Pensava em Felix. Mesmo com tudo que Minho havia lhe contado, não conseguia imaginar seu melhor amigo passando por tudo aquilo, como ele estaria agora? Com certeza estaria preocupado. Queria mandar uma mensagem avisando que estava bem, mas estava realmente? Duvidava muito. E além de tudo ainda tinha Minho. Não fazia ideia do que vinha sentindo a respeito do investigador ao seu lado, só sabia que sentia algo e aquilo o incomodava profundamente.
____[ dia três ]
Jisung acordou sonolento e ainda mais cansado do que estava quando havia dormido. A bagunça que estava sua cabeça fez com que acordasse diversas vezes durante a noite, assustado. Tateou entre os lençóis em busca de seu celular para checar as horas.
Ao encontrar o aparelho e desbloqueá-lo em seguida, apertou os olhos por conta da claridade repentina. Eram 6h03, ainda estava cedo, poderia dormir mais alguns minutinhos. Bloqueou novamente o aparelho e assim que fechou os olhos foi desperto pelo som de seu estômago que roncava desesperado em busca de comida. Estava faminto.
"Acho que se sairmos um pouco mais cedo podemos parar pra comer", pensou alto, já buscando novamente seu telefone para checar se Minho já havia acordado. "Mas e se ele ainda estiver dormindo, será que a mensagem vai acordá-lo? Dane-se, ele não ligou pra isso quando resolveu me chamar ás 2h da manhã pra aquele maldito parque", disse já enviando a mensagem. Após alguns poucos minutos, o detetive respondeu pedindo para que o Han se arrumasse e o encontrasse no estacionamento em 15 minutos.
___Depois de alguns minutos dirigindo, e de muitas reclamações por causa da fome do mais novo, Minho resolveu parar em uma lanchonete que havia visto no caminho de ida.
O lugar era simples e aconchegante, com algumas mesas mais bem iluminadas do que as outras, uma musica calma tocando ao fundo e um cheiro forte de... panqueca.
Fazia um bom tempo que Minho não comia panquecas.
Ele se lembrava nitidamente de quando era pequeno e comia pilhas e pilhas de panqueca com Kwan enquanto assistiam a algum dorama chato que o outro havia escolhido, e, sinceramente, Minho sentia muita falta disso.
Do outro lado da mesa, Jisung lia atentamente o cardápio, estava tão faminto que se pudesse pediria tudo que estava ali e comeria sozinho.
"Já sabe o que vai querer?", o mais velho perguntou
"Humm... Panquecas? Eu amo panquecas, com bastante morangos e chantilly, e ai meu Deus, nós precisamos de calda de chocolate, bastante calda..", os olhos do garoto pareciam brilhar, o que fez Minho sorrir, tanto pelo jeito bobo e inocente do outro quanto pela escolha que ele havia feito. Seu sorriso era tão doce e sincero que fazia com que sua aura parecesse mais leve e tornava seu rosto ainda mais bonito, se é que isso era possível, o que não passou despercebido por Jisung que sentiu seu coração se aquecer e suas bochechas corarem.
"O que foi?", o de cabelos negros perguntou, o encarando. Parecia se divertir com o constrangimento do mais novo.
"É.. Nada, nada", disse escondendo seu rosto atrás do cardápio, envergonhado.
Ambos foram interrompidos por uma senhora baixinha e gentil que se aproximou para anotar seus pedidos."Sejam bem vindos, já estão preparados pra pedir?"
"Sim, por favor. Nós vamos querer dois números três, com fritas extras, dois milk-shakes de morango e uma porção grande de panquecas com bastante calda de chocolate", disse a última parte olhando para Jisung que sorriu pequeno.
"Anotado. Fiquem à vontade, docinhos. Se precisarem de algo a mais podem me chamar."
A adorável senhora disse se retirando em direção a cozinha e retornando após alguns minutos de espera, com o pedido dos dois.
Minutos se passavam e os dois comiam em silêncio, apenas se deliciando com a maravilhosa comida e as panquecas quentinhas e saborosas.
Depois de algum tempo, finalmente haviam acabado a refeição, que Minho insistira em pagar sozinho. Quando deixaram o estabelecimento e caminhavam em direção ao carro, algo, ou mais precisamente alguém chamou a atenção de ambos.
A figura de cabelos loiros tingidos se afastou do carro de Lee, onde estava escorado até então, se aproximando dos dois. Suas roupas escuras e amarrotadas exalavam um cheiro forte de álcool e nicotina e a maneira em que olhava de Minho para Jisung causava calafrios no mais novo. A face do de cabelos negros foi tomada por um misto de ódio e repulsa
" O que você está fazendo aqui?", disse em direção ao homem pálido e esguio que sorria com malícia pousando seu olhar sobre Jisung
"Quanto tempo, detetive, brinquedinho novo?"
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Hellevator - Minsung
Mystery / Thriller"Não sei mais em quem confiar." Essa era a única coisa que se passava pela mente de Jisung naquele momento. Desde o dia em que ficara preso naquele maldito elevador com Lee Minho, o misterioso e fascinante garoto de cabelos negros e olhar penetrante...