XVI - Start Line (2/2)

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Passaram um bom tempo ali, Jisung sem soltar por nenhum momento a mão de Felix que contava toda a história do início, de como sonhava em ser um dançarino de prestígio, das horas que passava treinando e se aperfeiçoando incessantemente.

Na Austrália, assim como em muitos outros países as oportunidades para artistas trabalharem e ganharem seu dinheiro vivendo seus sonhos eram quase nulas, então ele trabalhava em um restaurante durante o dia para ajudar sua família com as despesas e durante a noite se apresentava ao ar livre, em algumas praças próximas ao centro.

Foi em uma dessas noites que conheceu Lee Taeyong.

O homem bonito e simpático, dono de uma suposta companhia de música com cede na Coréia se interessou pelo talento do australiano e o chamou para um teste em sua empresa.

Felix poderia ser tudo, mas não era ingênuo, aquilo lhe parecia fácil demais para ser tão bom, então preferiu investigar primeiro se aquela empresa realmente existia antes de aceitar qualquer coisa relacionada a ela. Taeyong o levou para conhecer a filial da Austrália, à primeira vista realmente parecia uma companhia de verdade, e realmente era. Tinha alguns estúdios de dança e salas de gravação, a questão é que aquilo tudo era só faixada para esconder o verdadeiro negócio de Lee.

Taeyong mexia com todo o tipo de coisa errada que se possa imaginar, de tráfico à lavagem de dinheiro, e é claro que para isso ele precisava de empregados e uma boa imagem para não levantar suspeitas, foi aí que teve a brilhante ideia da empresa.

Ia atrás jovens de baixa renda que sonhavam em ser artistas na indústria musical, vasculhava sobre suas vidas, suas famílias e onde moravam. Depois disso armava alguma coincidência para os conhecer e oferecia treinamentos com profissionais talentosos, fazendo falsas promessas de os preparar para o sucesso. Quando eles se deslumbravam com a oferta, ele revelava altos valores de mensalidade para trainees, valores que com certeza não poderiam pagar, com isso oferecia outro método de quitarem a dívida: com pequenos serviços como buscar e entregar pacotes em endereços desconhecidos, e com o tempo esses trabalhos se tornavam maiores, mais sujos e perigosos.

Alguns aceitavam, cegos pelo sonho, mas a maioria rejeitava na hora, e era aí que Taeyong os ameaçava. Tinha capangas que sondavam a vida desses jovens, assim que eles negavam o acordo ele mostrava fotos de suas casas e de seus familiares tiradas em diversos lugares e dessa forma ameaçava acabar com a vida deles e de suas famílias. Era assim que os mantinha trabalhando para ele, e de bico fechado. É claro que tiveram alguns que tentaram escapar ou ir até a polícia, mas Tae sempre os encontrava antes e eles nunca mais eram vistos depois.

"Foi isso que ele fez com você, Lix? Ele ameaçou você e suas irmãs?", Jisung olhava fixamente para o amigo, os olhos vermelhos e marejados assim como os de Felix que não conseguia conter as lágrimas ao relembrar do passado doloroso. A mão de Han repousou em sua perna e ele passou a depositar leves carícias ali para confortá-lo.

"Sim... Ele tinha tantas fotos delas Hannie. Da gente saindo de casa, da Rose levando a Lilah pra escola. Depois que nossos pais morreram naquele acidente a Rose sempre cuidou da gente e eu deveria fazer o mesmo por ser só um ano mais novo, mas eu falhei, eu falhei Hannie, eu fiz tudo errado e agora elas estão longe de mim"

"Ei meu solzinho olha pra mim. Você não falhou, elas estão seguras não estão? É isso que importa. Eu sei que você deve ter tido um motivo muito forte pra ter vindo aqui pra Coréia as pressas. E Lix... Como foi que isso aconteceu, você fugiu? E como o Taeyong veio parar aqui também?"

Felix respirou fundo e endireitou sua postura, então continuou:

"As primeiras semanas foram as piores. Eu odiava fazer aquele trabalho imundo e mesmo que muitas das vezes eu nem soubesse o que tinha naqueles pacotes e quem eram as pessoas que os recebiam eu me sentia sujo, repudiável. Eu só queria sair daquele lugar mas eu precisava proteger as minhas irmãs e aquilo estava me matando a cada dia. Em um desses dias eu estava péssimo e prestes a desistir de tudo", as lágrimas começavam a vir com mais força, fazendo-o parar por um instante e recobrar o fôlego.

Aquilo ainda era uma ferida aberta e falar a respeito só fazia doer mais, o que lhe acalmava e o encorajava a continuar era o garoto a sua frente. Esperava que quando alguém soubesse sua história o olharia com desprezo ou julgamento, mas Sung era diferente, ele era seu melhor amigo e no momento o olhava com afeto e preocupação, segurando sua mão com força.

"Foi nesse dia que conheci o Changbin", prosseguiu enquanto o Han o olhava espantado, achava que os dois tinham se conhecido depois da mudança de país do australiano "O Binnie também fazia a parte dos negócios do Taeyong, já fazia dois anos. Ele não conhecia a família dele, havia crescido em orfanatos, mas sempre foi apaixonado por música assim como eu. Quando atingiu a maioridade, ele pôde sair do abrigo e passou a se apresentar nas ruas para ganhar uns trocados pra sobreviver. O Lee o encontrou e fez a mesma oferta, como ele não tinha família, somente a sua vida estava em risco, mas isso era tudo o que ele tinha, e ele não abriria mão e nem desistiria do sonho dele. 

Assim ele passou a fazer os trabalhos em que era submetido e em troca o Lee lhe oferecia teto e comida, era o mais decente que aquele monstro já havia feito por alguém na vida, e como o Bin não tinha ninguém, foi o que ele teve de aceitar pra poder viver. Mas ele não concordava com nada naquilo, muito pelo contrário. A cada dia que passava naquela situação, ver jovens como ele sendo explorados e submetidos à toda aquela monstruosidade o fazia se sentir mais revoltado e frustrado por não poder fazer nada. Bom, isso até ele me encontrar."

Hellevator - MinsungOnde histórias criam vida. Descubra agora