A igreja (parte 1)

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"E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música"

—Friederich Nietzsche

O sono de Jimin fora interrompido com um tocar incessante do celular ao lado da sua cama. Ele abriu os olhos com dificuldade, resmungando baixinho e amaldiçoando quem quer que estivesse ligando. Com relutância, esticou a mão até o relógio e viu que eram quatro da manhã e voltou a resmungar. Jimin se sentou, esfregou as mãos no rosto e acendeu a luz da cabeceira, procurando seu celular. Quando pegou, viu o nome na tela e desbloqueou.

-Sabe que horas são, Jung? Que diabos você quer a essa hora? – Falou irritadiço.

A pessoa do outro lado suspirou.

-Perdão, detetive Park, mas o senhor precisa vir para a delegacia agora.

Jimin apertou o indicador na própria testa com uma careta.

-É importante? Não dá para esperar? –Perguntou desanimado, já sabendo da resposta.

Park não viu, mas sabia que Jung negava com a cabeça.

-Com palavras, Hoseok, me responda com palavras!

-Não, não senhor. Venha, por favor!

Jimin afastou o celular do rosto e praguejou, se arrependendo do dia que decidiu virar detetive.

-Tá, já estou indo.

O homem afastou o celular para desligar e apoiou os braços nas pernas e o rosto nas mãos, respirando fundo e tomando coragem para levantar. Jimin empurrou as cobertas com os pés e se levantou, ainda reclamando e seguiu em direção ao guarda-roupa, pegando um casaco e uma calça, se despindo ali no quarto mesmo. Ele pegou os pijamas do chão e jogou em cima da cama, condenando a si mesmo por ser bagunceiro.

Saindo do quarto, foi em direção ao banheiro lavar o rosto para acordar e depois para a cozinha fazer café. Podia ser uma emergência, mas Jimin não seria nada útil sem sua dose de cafeína matinal. Parando apenas para olhar no espelho da sala a sua expressão de noites mal dormidas, Park abriu a porta e saiu, indo em direção ao elevador e depois ao seu carro na garagem.

[...]

-Boa madrugada, detetive! – Disse um dos policiais responsáveis pela entrada da delegacia. O detetive forçou um sorriso e seguiu em frente até sua sala.

O lugar era iluminado por lustres que pendiam do teto e pela janela – inútil nessa hora da madrugada - atrás da grande cadeira. Havia outros dois assentos na frente da mesa de madeira nos quais já estavam sendo preenchidos por oficial Hoseok e Namjoon. Ao adentrar a sala e fechar a porta, Jimin foi recebido por um levantar abrupto dos dois policiais.

-Desculpe acordar o senhor a essa hora, mas... – Começou o homem um pouco mais alto que o detetive e de cabelos escuros, conhecido com Jung Hoseok.

Jimin abanou a mão enquanto se ajeitava na cadeira, dispensando os comentários desnecessários dos dois. Queria apenas o que tinham para lhe dar e acabar com isso. Hoseok parou a frase e pareceu engolir a força o resto. Sabia que o chefe não estava de bom humor.

-Desembucha, Hoseok. O que te fez me acordar a essa maldita hora? –Falou furioso.

Oficial Namjoon não soltou uma palavra, apenas colocou um envelope alaranjado em cima da mesa e empurrou para Jimin. Park olhou primeiro para o papel e depois para os dois com expressão séria no rosto.

-De quando é isto? – Perguntou pegando o envelope e olhando dentro.

-Hoje, senhor.

O homem se inclinou e despejou todo o conteúdo que tinha ali em as espalhou pela larga mesa de madeira, empurrando o teclado branco do computador para o lado. Assim que posicionou as fotos, observou uma por uma, pegando primeiro uma do meio que chamou sua atenção. Havia um corpo nu com a pele do tórax completamente aberta, expondo os ossos e as vísceras, a cabeça pendia para frente e os cabelos castanhos estavam desgrenhados. O cadáver estava de joelhos e seus braços abertos, presos em candelabros postos um de cada lado do corpo e com as mãos presas por tecido roxo, era um homem com certeza. Todo o corpo estava limpo sem uma gota de sangue, era como se o autor tivesse limpado ele antes de posicionar ali, de forma macabra. Park deixou a foto na mesa ainda incrédulo e pegou outra, era uma imagem mais afastada do corpo e dava para ver perfeitamente o espaço. Havia alguns bancos compridos de madeira, dispostos em cada lado do local, um tapete vermelho entre eles e alguns vasos altos com flores ao lado de cada assento, Jimin passou os olhos, se atentando a todos os detalhes como um bom detetive e foi então que se deu conta quando viu que atrás de um dos policiais que fazia anotações atrás do corpo tinha um móvel feito de madeira.

-I-isso é uma igreja? – Jimin ergueu o olhar para as duas figuras imóveis que agora assentiam.

O detetive continuou observando a imagem e viu a cruz brilhante atrás no alto e suspirou. "Não se tem mais respeito hoje em dia" pensou consigo e se voltou para outra imagem. Ao todo, era dez fotos espalhadas e Park deu a atenção necessária a todas elas, as que mostravam o corpo mais de perto foram as que mais demoraram, ele analisava na procura de sangue, mas estava tudo limpo para sua infelicidade. As figuras tomaram sua atenção por longos trinta minutos quando ele finalmente as recolheu e se levantou com as mesmas na mão e seguiu em direção ao lado direito da sala que tinha um quadro e agulhas coloridas para prender imagens, e foi o que Jimin fez. Prendeu cada uma das dez imagens em sequência da mais afastada para a mais ampliada e as observou por alguns segundos para finalmente se virar para os oficiais que aguardaram pacientemente sua análise.

-Tem mais alguma coisa? –Os dois assentiram quase mutuamente.

-Está no laboratório, senhor. – Afirmou Namjoon. – Se o senhor nos dê licença, temos que ir.

Ambos se levantaram e balançaram a cabeça na direção do chefe em sinal de respeito e se retiraram, segurando seus chapéus azuis na frente do corpo. Jimin tirou o casaco e jogou em cima da cadeira, aquela situação estava deixando o lugar abafado, por isso ele decidiu abrir as janelas para o vento da madrugada adentrar o local. Ao puxar as cortinas e inspirar bem fundo, decidiu seguir até o laboratório da delegacia. Caminhou ainda transtornado com as imagens que recebeu e não se deu conta quando esbarrou com uma parede que indicava que já tinha chegado no seu destino. Ao adentrar o lugar branco cheio de mesas de metal e normalmente vazio, cumprimentou todos os cinco legistas ali. Doutora Jisoo estava na bancada branca de pedra mexendo em tubos de ensaio com luvas e o típico uniforme e jaleco branco que todos costumavam usar, doutor Hyunsik estava sentado em uma cadeira perto da entrada, digitando rapidamente no computador. Doutoras Chaeyoung, Jennie e Soyeon estavam em volta do corpo deitado na última mesa. Nenhum percebeu quando o detetive Park entrou e por isso ele coçou a garganta. Hyunsik deixou a atenção do computador e voltou-se ao homem parado na porta.

-Ah! Detetive, já estava imaginando quando chegaria. – Disse se levantando da cadeira e indo em direção a Jimin.

Think of me ~ KTH+PJMOnde histórias criam vida. Descubra agora