Capítulo 1

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"Sonho que se sonha só, é só um sonho que se sonha só. Mas sonho que se sonha junto é realidade."
                             - Prelúdio, Raul Seixas

                             ♡♡♡

Quando se é uma moça solteira de 24 anos, se tem pouca esperança do casamento. Se a moça em questão é filha bastarda, de uma mulher ainda por cima, essa esperança é reduzida a nada.

E é por isso que Jade Ferreira se contenta com o pouco que tem. Apesar de ser "filha" de um marquês seus privilégios quase não existem. Mas Jade não se importa, tem os quadros por companhia. Já que o marquês proibiu os empregados da casa de qualquer contato com ela, depois de vê-la conversar tranquilamente com algumas empregadas na cozinha.

Além dos quadros, Jade lê todos os livros em que consegue pôr as mãos, inclusive os considerados chatos que, na opinião dela, não são nada além de fascinantes. Seu conhecimento é bastante amplo mas não pode compartilhá-lo ou discuti-lo com ninguém.

*A solidão é tediosa.*

Jade riu do próprio pensamento. Apesar de sempre tentar ver o lado bom das coisas, sua imaginação era muito fértil e não podia evitar de sonhar com uma casa, um lar, onde viveria entre pessoas que gostavam dela, com quem ela podia conversar e até discutir. Ela sonhava com coisas simples mas que pra ela eram o ponto alto da vida e, às vezes, só às vezes, se permitia sonhar estar casada com um homem que gostasse dela, de verdade. E, quando se permitia sonhar ainda mais alto, sonhava que ele a amava, como nos livros de romance, onde perdia o fôlego e não podia imaginar viver sem ela.

Mas, apesar de sonhar com tudo isso ela sabia, sabia que não passariam de sonhos. E era só. Então ela se contentava em sonhar.

Um sorriso triste cruzou seu rosto.

A pele meio morena, mas que se destacava entre as damas de pele de porcelana, os olhos de um verde escuro que lhe deu seu nome, os lábios delineados e os cílios espessos. A herança de séculos de cultura aristocrata e cigana, misturadas em uma pessoa só. Poderia odiar seu pai por tê-la marcado de uma forma que a impedia de ser aceita, mas não podia.

Não quando passara a vida ouvindo sua mãe sonhar acordada ao lhe contar a história de amor entre ela e seu verdadeiro pai. Não quando se esquecia de muitas coisas da mãe mas se lembrava do brilho nos olhos dela ao falar de seu grande amor. Não podia esquecer de todas as vezes que a mãe a olhava nos olhos e repetia o quanto agradecia aos céus por Jade ter nascido. Não podia odiá-lo, não quando o amava tão profundamente por ter ensinado a sua mãe o que era amor.

Jade sabia qual era seu destino, sempre soube.

Soube enquanto criança quando nenhum pai deixava seus filhos brincarem com ela. Soube durante todas as vezes em que a excluíam das conversas. E em todas as vezes em que olhou os casais na pista de dança e lamentou que ninguém jamais a tirava pra dançar.

Jade sempre soube.

Mas bem, o destino é um ser arrogante e não gosta quando alguém diz que sabe algo sobre ele. Então ele decidiu que não, Jade não sabe qual seu destino.

Amor a Galope Onde histórias criam vida. Descubra agora