"Haverá um dia em que você não haverá de ser feliz. Sentirá o ar sem se mexer, sem desejar como antes sempre quis. Você vai rir, sem perceber. Felicidade é só questão de ser"
- Felicidade, Marcelo Jeneci♡♡♡
Jade se encontrava deitada em sua cama, olhando para o teto e sonhando acordada.
Não se lembrava de um dia onde havia se divertido tanto. Rido tanto. Não se lembrava do último dia que tinha sido feliz.
Mas agora que lembrava da sensação não podia tirar o sorriso do rosto.
Ou esquecer a sensação dos abraços das crianças, das mãos sendo apertadas pelas mãos de Alice, ou dos braços quentes do homem que a levou pra casa.
O dia inteiro parecia ter sido um sonho.
Quando o família do Marquês voltou ao hotel, Jade estava mais do que preparada para enfrentar seu castigo.
Mas nada aconteceu. A família voltou completamente desanimada e hostil e, surpreendentemente, somente em relação ao dito Duque.
Pelo que ela conseguiu entender, o Duque havia chegado atrasado e não deu explicações ou desculpas. E, o pior, segundo eles, os informou que estava comprometido, e não era com a Julia!
*Um homem sábio* pensou Jade.
A irritação deles era tanta que esqueceram de puni-la.
Jade fez um agradecimento silencioso ao Duque de Medas por ter posto aquela cereja no bolo, no que, provavelmente, foi o melhor dia dos últimos anos da vida dela.
A alegria era tanta que não conseguia pregar os olhos. A escuridão a envolvia, mas a felicidade também.
E, mesmo sabendo o quão efêmero tudo isso foi, isso não a desanimava. Era uma memória que guardaria para sempre em seu coração. Mesmo que fosse só isso. Uma memória.
Então, a coisa mais estranha aconteceu.
Uma leve batida na porta ressoou no aposento.
O Marquês se levantou, vestindo um robe, e abriu a porta, enquanto as três mulheres observavam da porta de seus quartos. O Marquês trocou algumas palavras com o empregado que saiu logo em seguida.
A porta foi fechada com um clique suave enquanto o Marquês rompia a cera e lia o conteúdo da carta, a testa franzida.
- É uma carta da Condessa de Marques.
Algo completamente inusitado, a família não vinha muito por esses lados e a Condessa de Marques era um dos maiores escândalos para a família e uma das maiores heroínas de Jade, só porque havia se casado por amor.
As sobrancelhas se ergueram acima dos olhos verdes, enquanto ela pensava que não havia nada mais inusitado do que isso.
E, mais uma vez, a vida provou que ela estava errada. Redondamente errada.
Porque, em seguida, o Marquês ergueu a carta para ela à contragosto.
- É pra você.
Três queixos caíram simultaneamente.
- Perdão? - A voz de Jade era um fio e ela não conseguia se mover.
- A carta. - O Marquês repetiu como se ela fosse uma idiota. - É pra você. Parece que a escória se entende bem.
Jade correu e agarrou a carta com medo que ela sumisse ou que ela acordasse, porque a única coisa que fazia sentido era que ela estava sonhando.
A pobre moça lia a carta, incrédula, enquanto o coração batia descompassado.
- Parece que nos livramos dela por alguns dias.
Foi a única coisa que o Marquês disse antes de mandar Julia para seu quarto contra a vontade dela e arrastar sua esposa junto com ele para o outro.
Deixando Jade sozinha na sala, à luz de uma única vela. A carta acompanhando o tremular das mãos.
Não fazia o menor sentido.
Ela certamente nunca havia sido apresentada à Condessa, ela se lembraria. E, além disso, ninguém se lembrava dela.
Nunca.
E ela ficou lá. Lendo e relendo a carta.
E ela lia. E relia.
E repetia tudo de novo.
Mas não importava quantas vezes ela fizesse isso. Ainda tinha a impressão que as palavras iam sumir a qualquer momento e ela teria a certeza que havia enlouquecido. Ou então apareceria alguém e diria que era tudo uma brincadeira de mau gosto e partiria seu coração, não que restasse muito dele pra partir.
Entretanto, nada disso aconteceu. E Jade já havia se acostumado às brincadeiras de mau gosto e os olhares que ela tinha visto na família não conduziam com elas. Eles estavam surpresos e completamente ultrajados. Jade se permitiu um breve instante de prazer devido a essa constatação, mas foi muito breve, e logo foi cortado por um sentimento de culpa. Embora ela suspeitasse que havia guardado aquela satisfação de qualquer forma.
A esperança teimava queimar em seu coração apesar de dizer a si mesma que isso só tornaria as coisas piores. Não que essa afirmação algum dia a tenha impedido de ter esperança.
Jade era teimosa, forte e corajosa. Embora nunca tenha percebido isso.
Pouco antes da vela se extinguir ela deu uma última lida na carta.
" Querida Srta. Jade Ferreira,
Tenho total consciência de que nunca fomos apresentadas e que tudo isso é algo bastante incomum. Mas, devido às circunstâncias devo lhe dizer, sem nenhuma espanholada, que era minha única opção.
Chegou a meus ouvidos a notícia de sua chegada e assim que o soube, busquei lhe enviar esta carta.
Como já afirmei anteriormente, nunca fomos apresentadas. Porém, como ambas sabemos, isso nem sempre é necessário.
Se me permite dize-lo, acredito que ambas vivemos situações em comum. Não o digo como uma piada mesquinha e sem humor, mas como um fato.
Espero que não me ache esnobe ou excêntrica devido a este comentário, na verdade, gostaria de poder lhe oferecer minha amizade em troca da sua.
São poucas as pessoas que me aceitam como sou e, mais raras ainda, aquelas que me entendem.
Gostaria de uma amiga assim.
Por isso, venho por meio desta carta, lhe chamar para passar um tempo na propriedade Bom Destino, a fim de desenvolvermos uma amizade verdadeira e duradoura.
Não aguardarei uma resposta, basta aparecer em minha propriedade amanhã pela manhã. Caso não venha terei minha resposta.
Meus cumprimentos, Sra. Lara Tenório, Condessa de Marques."
As peças não se encaixavam. E isso a deixava muito curiosa ao mesmo tempo que sentia gratidão...
Era a oportunidade perfeita! Poderia rever as crianças, desenvolver uma amizade com Alice e Pietro que não circulasse em torno de gratidão. Podia até se tornar amiga da Condessa...
E - o coração dela perdeu umas batidas - talvez... Só talvez...
Ela pudesse encontrar um certo cavalariço de olhos cinzentos.
Com isso em mente, deu meia volta e foi tentar dormir.
Afinal, suas malas já estavam prontas.
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Amor a Galope
Romance*História finalizada* *Romance sem cenas explícitas* *Cada capítulo começa com uma música nacional, as escutem por favor, vejam que as músicas brasileiras também servem de inspiração* Joaquim Garcrux, Duque de Medas, após um incidente que põe em ris...