Eu estava usando uma camisa social branca, uma gravata preta e um par de sapatos pretos bem engraxados. Mamãe tinha passado minha roupa especialmente para aquele domingo e a pusera sobre a cama do meu quarto.
Minha família não era muito religiosa, mas aos domingos pela manhã íamos a missa. Mamãe dizia que precisávamos criar vínculos com Deus e pedir perdão por nossos pecados, talvez assim, dizia ela, não ganhávamos uma passagem só de ida para o inferno.
A igreja ficava a dois quarteirões da minha casa, era uma construção vitoriana erguida com tijolinhos vermelhos e adornada de esculturas em gesso de vários tamanhos — algumas delas pareciam vivas e me davam calafrios só de olhar.
Muitos de nossos vizinhos frequentavam a igreja aos domingos, e isso me fazia pensar no quão difícil deveria ser o trabalho de Deus: ouvir todas aquelas pessoas e seus pedidos de desespero e lamuria.
Meu pai sentou-se ao meu lado naquele domingo no banco da igreja. Ele não parecia muito feliz. Olhei para ele, a expressão apática em seu rosto dizia que não tinha boas noites de sono há um tempo. Normalmente meu pai chegava em casa às 20h:00 e o esperávamos para o jantar, como uma forma de lembrar que ainda éramos uma família como as outras; mas, depois do meu aniversário, apesar de ainda ouvir seus passos pesados sobre o carpete do corredor do segundo andar enquanto lia às escuras lá por volta das 23h:00, ou sua voz grave em algumas discussões com a mamãe — algo que havia se tornado rotineiro durante as noites —, eu já não o via antes do toque-de-recolher ou sentado à mesa da cozinha para o jantar, exceto em dias como aquele, em que toda a família se reunia para ir à igreja.
Minha mãe sentou-se ao lado do papai, segurando uma bíblia de capa preta com letras douradas em suas mãos. Os olhos igualmente cansados. Tia Helena estava ao seu lado, acompanhada de Janette, Simon e do tio Victor.
Todos estávamos em único banco, mas ainda havia espaço para mais duas pessoas. Não para a sra. Stanley, obviamente. A sra. Stanley pesava quase cem quilos. Ou para o sr. Rodgers que era quase tão gordo quanto a sra. Stanley. Provavelmente, imaginava, seríamos lançados como pedras em catapultas caso qualquer um dos dois decidisse sentar na ponta do banco.
Meu irmão, no entanto, não se sentara conosco, decidira ficar entre a sra. Blackburn e Tom no banco detrás.
Dave, que também ia a missa aos domingos de manhã, se sentou no banco ao lado do meu, junto com o sr. e sra. Kanaugh. Eu o tinha visto entrar na igreja meia hora antes da missa começar, acompanhado de seu pai e sua mãe.
A sra. Kittle, mãe de Dave, era uma mulher elegante, cabelos longos e cacheados, olhos castanhos, e uma pele negra cintilante que exibia poucas rugas. Tinha um sorriso calmo e gentil, que se abria vez ou outra à medida que as pessoas a cumprimentavam. Ela não era uma cantora famosa ou coisa do tipo, mas seu marido, o sr. Kittle, era um ótimo encanador, quando alguém precisava concertar as torneiras da casa ou desentupir uma pia cheia de restos de comida, o sr. Kittle era o mais indicado. Especialista, era assim que o chamavam.
Anne Risbrough terminara de cantar sua música que falava sobre uma mulher imunda que alcançara a cura divina. Anne era um ano mais velha do que eu, tinha sardas que cobriam praticamente todo o seu rosto e usava uma trança lateral por cima do ombro esquerdo. Estudávamos na mesma escola, mas nunca tínhamos trocado uma palavra. Palavras realmente relevantes.
A última nota do piano soou e todos disseram em coro amém.
O padre posicionou-se no altar usando uma daquelas roupas compridas e brancas que pareciam sufocar o pescoço.
Todos ficaram de pé.
Rezamos.
Cantamos.
Rezamos.
Ouvimos a pregação do padre sobre pedir perdão por nossos pecados mais obscuros.
CantamosE rezamos outra vez.
Enquanto eu ouvia as palavras do padre, refleti sobre as coisas que andava fazendo, tentando colocá-las em uma ordem.
Primeiro: depois que Jonathan roubara a fita VHS da conveniência do Booby e brigou comigo assim que chegamos em casa por não ter seguido o plano como deveria, ele e seus amigos, Tom, Clive e, mais tarde, Dave, se reuniram no seu quarto para juntos assistirem ao filme que eu sabia ser igual àquele que, dias antes, na velha garagem dos Kittle, meu irmão e Dave tinham assistido. Eu, embora tivesse recuperado meu livro sem nenhum corte ou arranhão, fiquei no meu quarto, deitado em silêncio, ouvindo os risos e gemidos vindos da tevê ao lado. Meu irmão e seus amigos sussurravam coisas que eu não conseguia entender, mas podia imaginar o que eles estavam fazendo. Dave e meu irmão, assim como outros, esfregavam seus genitais, vendo na televisão uma mulher nua sendo "massageada" por um homem nu. Segundo: eu tinha roubado um ring pop sabor framboesa, e isso era errado; ele ainda estava no meu bolso naquela tarde enquanto meu irmão e seus amigos estavam trancados no quarto; o sentia contra minha perna. Ao colocar a mão para tirá-lo, um leve formigamento subira na altura do abdômen, olhei para baixo e vi que, alguns centímetros acima dos joelhos, minha bermuda tinha uma pequena ondulação.
Tirei o ring pop do bolso, cruzei as pernas, pressionando-as uma na outra, e coloquei o ring pop atrás do travesseiro. O formigamento continuava a se espalhar por todas as extremidades do meu corpo. Fechei os olhos, mantendo apenas os ouvidos atentos, então, instintivamente, pensei em Dave. Dave sem roupa. Dave esfregando seu genital. Aquilo também era errado.
Os músculos se enrijeceram contra a cama, olhei mais uma vez para a ondulação abaixo da cintura, sentindo o ar quente entrar pela boca e sair sutilmente pelo nariz; então, lenta e cuidadosamente, deslizei a mão direita por dentro da bermuda. Puxa vida! Terceiro: eu não sabia o que estava fazendo, mas comecei a fazer, do mesmo modo que Dave e meu irmão havia feito na garagem, do mesmo modo que, juntamente com Tom e Clive, faziam no quarto ao lado. Mais ou menos um mês depois, Core Hurley foi pego no banheiro da escola fazendo a mesma coisa. Core, um garoto ruivo, de óculos esquisito, olhava para a saía de Stacey Wheatley e ia ao banheiro a cada cinco minutos, foi quando uns garotos da oitava série o viram com a mão por dentro da cueca esfregando seu pênis. Na semana seguinte, quando todos souberam do caso Core-cinco-dedos, nossa orientadora, a srta. Tucker, resolvera criar um projeto de Educação Sexual para falar sobre assuntos como gravidez precoce, métodos anticoncepcionais, DSTs e masturbação. Não consegui memorizar muita coisa do que fora dito por alguns professores, principalmente porque Travis Towma e Jackie Lagyski, faziam piadas sobre a srta. Tucker e a cenoura que ela utilizara como demonstração para o uso correto de preservativo masculino. Mas quando o sr. Forth, nosso professor de ciências, falara abertamente sobre masturbação, me mantive atento a cada detalhe que ele dizia. Masturbação. Eu fazia aquilo. Fazia enquanto meu irmão e seus amigos estavam no quarto ao lado assistindo pornografia (aprendi esse termo com sr. Forth também); fazia enquanto tomava banho e antes de dormir.
Pensava em Dave quando me masturbava. Mas, depois de algum tempo, também podia apenas fechar os olhos e esfregar meu genital.
Eu queria parar. Ah, sim, eu queria! Deus me via fazer aquilo. Deus iria me castigar e me mandar para o inferno. Eram coisas muito, muito erradas. Podia não entender a razão, mas, quando terminava, na verdade, quando meus joelhos tremiam e doíam, me sentia errado por fazê-las.
Assim que o padre terminou sua pregação e todos na igreja se colocaram de pé para rezarem por seus pecados e suplicar perdão perante Jesus Cristo, não literalmente, mas para sua imagem acima do altar, prometi a Deus que não me masturbaria nunca mais. E à noite, depois que terminei de ler o primeiro volume de As Crônicas de Nárnia, fui dormir me sentindo culpado por não conseguir cumprir minha promessa.
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ANTES DO ETERNO AGORA
RomansaManter-se afastado dos holofotes promove uma frágil e reconfortante segurança. No entanto, sempre chega o momento em que devemos assumir o papel principal de nossa história e emergir a luz de nossa própria jornada; a luta pela autodescoberta se inic...