CHAPTER 4

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— Júlia, por favor! Conversa comigo. — Flávia dispara atrás de Júlia, que já estava entrando no carro.
— O que você quer que eu diga, Flávia? Que achei engraçada a sua brincadeira inovadora com os seus amigos babacas ou que eu te dê dicas de como aperfeiçoar os métodos pra continuar com outras pessoas? — é claro que Júlia estaria furiosa, talvez não tenha sido só pelo beijo. Talvez algum sentimento exista em seu coração.
— Não... precisa falar assim. Eu sinto muito! Eu vim aqui porque me arrependo do que aconteceu. Eu quero que as coisas sejam diferentes. — a feição de Flávia era de quem implorava por mais uma chance de agir sem tropeçar nos mesmos obstáculos novamente.

Porém, Júlia já estava decidida do impacto que a ação de Flávia causara em seu psicológico e em seu coração. Apenas fez um sinal negativo com a cabeça desviando o olhar da garota que estava de pé na sua frente, entrou no carro sem dizer mais nenhuma palavra e deu partida para ir embora.

Pode ser que o universo que pairava a favor desta nova história tenha se apagado por determinado momento, talvez para testar ambas capacidades de lidar com algo do gênero ou apenas para brincar. É isso que o universo faz com todos os que entram nele: Testa a sua paciência e peculiaridade mental. Acontece com as melhores pessoas.

Júlia vai para casa — de onde nunca deveria ter saído, pensou — que ficava a uns 3 km da lanchonete. Na verdade era o apartamento que chamava de casa: Não muito grande, afinal, uma única pessoa não precisa de tanto espaço.

há fogo em seu coração.

Ao entrar na porta, no canto direito fica a cozinha, claro, uma cozinha americana como em qualquer filme clichê que faça algum sentido; à esquerda, as plantas, flores e estante de livros tomavam conta do espaço antes vazio; obviamente, no meio de todas as samambaias e cactos ficava a sua sala de estar, sofás pretos confortáveis, um tapete felpudo grande e a TV que se conectava com os cabos que ligavam seu vídeo game. Ao lado da televisão, um toca discos antigos que custaria uma fortuna quando morresse, junto aos discos de vinil de Beatles, Nirvana, Pink Floyd e tudo o que era de mais famoso nos 80's. À direita da sala, a cama de casal com mais estantes de livros e flores penduradas, na frente, a porta de entrada para o banheiro.

Não era muito, mas era um lugar muito agradável para Júlia.

a lâmpada da casa era azul, do que mais precisava?

De qualquer forma, tudo o que não queria era pensar em Flávia. Não mais. mesmo sabendo que não é mais possível, talvez seja tarde demais. A mochila foi parar jogada no sofá e seu corpo, jogado na cama. Não havia o que fazer. Nem palavras à serem ditas, tampouco conseguira demonstrar algum gesto, qualquer que fosse. apenas caiu de braços abertos em sua cama, apertou o botão de ligar no controle do ar-condicionado da casa e descansou os olhos.

Quando Júlia dorme, há um mundo externo para onde vai. Um mundo perfeito! Pense em como seria se estivesse com o amor da sua vida, uma noite estrelada, fria, chocolate quente e cobertor com um amor extraordinário envolvido. Imagine, um mundo onde as críticas não lhe destruam e lhe incapacitem de fazer algo. Onde você é amado.

Até que, de repente, Júlia acorda.

[BALNEÁRIO CAMBORIÚ, DIA SEGUINTE, 4:48 PM]

Puta merda! Como assim já são 4:48 da tarde? Como Júlia dormiu por tanto tempo? Talvez seu coração quisesse descansar o acaso que acabou bagunçando sua vida de alguma maneira. O tempo estava chuvoso lá fora, tanto tempo de chuva e, da janela do apartamento, se dava a mais bela vista das gotas de chuva forte escorregando na janela e toda a cidade iluminada por conta da escuridão do tempo.

Com o café passado, o ambiente acabara de se tornar ainda mais agradável, e Flávia continuava passando em sua cabeça. Sentada no sofá que havia embaixo da janela e com o café passado em mãos, Julia colocara no toca discos Pink Floyd em volume ambiente para tocar. O momento estivera perfeito, era bom viver coisas do tipo.

[DÊ PLAY NA MÚSICA]

Ding. Dong.

A campainha toca, de repente. E Júlia não estivera esperando por ninguém em sua casa, até porque não haviam muitos conhecidos.

Júlia abre a porta do apartamento. Lá estava ela, em carne, osso e alma.

Flávia estava ensopada de água, provavelmente da chuva que caía la fora. Será mesmo que viera caminhando até a casa da garota em busca de uma conversa? Estava tremendo de frio, já que o vento lá fora soprava com vontade o meio da tempestade.

— Será que podemos conversar? — sua voz saía trêmula, ou melhor dizendo, quase não saía.
— Claro. Mas vamos cuidar de você primeiro.

Júlia traz Flávia para dentro do apartamento, pega uma toalha e a guia até o banheiro para um banho quente antes que ficasse doente. Além de uma muda de roupas — que de certa forma ficariam largas em Flávia — para que vestisse enquanto a sua secava.

No período de espera do banho de Flávia, Júlia preparou algo para as duas comerem enquanto tomava seu café quente recém-passado. A comida havia acabado de ser colocada no fogo, algo sutil e chique, porém simples.

Não há nada à comemorar.

Júlia se concentrava no fogão, Flávia aparece e a observa fazer o que gostava de fazer, parecia tão bem focada.

— Me perdoa. Me perdoa, por favor. — Júlia desvia o olhar para os olhos de Flávia enquanto separava as folhas de queijo no balcão da cozinha.
— Como?

Flávia se aproxima, então, Júlia a encara e estende o pano de pratos xadrez em seu obro direito.

— Eu juro que não sou assim, Júlia.
— Mentirosos adoram jurar.
— Não fala assim, eu não sou a pessoa que fez aquilo. Eu não quero ficar assim com você, sinto que possa existir algo especial entre nós, você não acha?
— É claro que eu te perdoo, Flávia. Não tenho motivos para agir ao contrário. Não adiantaria de nada.
— Graças a Deus! — Flávia solta um suspiro aliviado.
— Isso não muda muita coisa. Estamos bem mas, eu estou aqui e você do outro lado, entende?
— Júlia, nós podemos tentar de novo! Eu prometo que podemos.
— Para o jantar, temos macarronada talharim italiana acompanhada de um Chardonnay leve por conta do queijo. Sente-se, Flávia. Conversamos no jantar.

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