CHAPTER 8

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— Então, basicamente tudo o que precisamos aqui no momento existe em você. Uma série de reclamações dos clientes é por conta da má educação dos nossos garçons. Até tem um que segura as pontas mas, sozinho ele não aguenta. Está interessada?
— Claro.
— Vi que no seu currículo deixou claro o seu interesse em tocar no bar, o que é uma coisa muito boa. Nosso DJ tem contrato para apenas mais um mês, eu gostaria que ele te ensinasse mais sobre o local, sobre os clientes. Tenho certeza de que você consegue agradar um público com as batidas que pode criar. Eu sinto que você tem uma vibe muito "monstra" e, caso se interesse pelo cargo daqui a um mês eu te tiro do avental e te coloco lá em cima. O que acha?
— Essa é uma oportunidade muito boa, Nathan. Seria difícil eu não topar. Espero que não se decepcione pelo meu trabalho.
— Tenho certeza que não irei. De quebra, você ainda ganha uma entrada pra qualquer amigo todos os dias. Esse ambiente não seria tão bom se não tivesse alguém pra curtir contigo aqui dentro.
— É bem mais do que eu posso ganhar. Muito obrigada mesmo, eu não tenho nem palavras.
— Me agradeça com os seus serviços. Qualquer dúvida pode me ligar.

Nathan deixa a sala.

[BALNEÁRIO CAMBORIÚ, 9:06AM]

As cortinas de seda brancas balançava-se suavemente por cima da janela de vidro e deixavam com que feixes de luz entrassem, anunciando que a manhã já havia chegado. Sentindo o rosto esquentar, Flávia acorda com o calor do dia em contato com sua pele: estava em casa. Não era um dia qualquer, não se sentia mal, presa, atordoada ou trancada em um mundo secreto. Estava livre. Estava radiante, como nunca acordara a muito tempo. O robe branco que mais parecia com o véu de uma noiva luxuosa contornava o seu corpo e ajustava-se perfeitamente em cada curva de sua silhueta. Cada átomo de seu corpo se parecia novamente com o núcleo ardente de uma estrela:

estava em paz de novo.
(até o telefone tocar, por debaixo dos lençóis brancos da cama de casal).

— Alô?
— Flávia? É a Júlia! Te acordei?
— Não, não se preocupe. — a xícara de café fora pousada na mesinha de centro da sala principal.
— Perfeito! Espero que esteja disponível esta noite, quero te convidar para ir à um lugar.

silêncio.

— Tudo bem.
— Pensei que não aceitaria, caramba!

Flávia gargalha ao telefone.

— Respire, está tudo bem.
— Vou te passar o endereço e o horário por este número. Estarei ao seu aguardo.

Pib. Pib. Pib.

Não seria um ideia tão ruim. Flávia sentiu-se encantada com a situação: Júlia pensara nela e, consequentemente, sentira sua falta.

A água quente do chuveiro deslizava sobre o corpo de Flávia, como uma pequena onda de boas sensações, ou talvez, com pensamentos mais ousados, como lembravam a forma com que os dedos de Júlia suavemente analisavam o seu corpo completamente. Cada metade, cada detalhe, cada pedaço de lembrança impertinente ao mesmo tempo se pareciam como doces melodias tocando em uma sinfonia perfeita de uma só vez; como fogos explodindo dentro de seu corpo implorado pela liberdade de poderem encantar planetas e mais planetas. A água já esteva quente demais e todo vidro do box já estava completamente embaçado.

Delicadamente a toalha passou por cada centímetro do seu corpo, que logo fora coberto por um lindo conjunto de roupa de verão cor branca. Estava perfeitamente linda sem sequer fazer qualquer esforço para tal verdade, mas é claro que gostaria de maquiagem acobertando algo em seu rosto que não poderia revelar no momento.

Flávia buscou pelas chaves do carro sob a mesinha de centro da sala, de longe se ouvia o barulho da chave da porta de casa rolando para dentro da bolsa após ter sido completamente trancada. Talvez estivesse cedo demais e, aliás, Júlia sequer havia mandado ainda o endereço e horário para o seu celular, mas sabia muito bem que sua primeira parada não seria onde sua amada a esperava.

Precisava fazer uma coisa primeiro.

Entrou no carro, virou as chaves e dirigiu até a Floricultura Emporio Di Fiori, onde, na cidade, se encontravam as mais belas e perfumadas flores. Poderia presentear Júlia, não por obrigação pelo que já passou, mas sim por vontade de poder ver aquele sorriso novamente se formando no rosto da mulher com a mais perfeita circunferência, no mais perfeito ângulo.

Novamente quando a porta fora aberta, o sininho alertou à todos os que estavam dentro que alguém havia chegado, fazendo com que todos prendessem sua atenção onde estava o som e logo em seguida virando-se como se nada tivesse acontecido. Flávia soltou um leve riso nasal, pois lembrara do dia em que Júlia a conheceu na lanchonete afastada da cidade.

Livrando-se de seus devaneios caminhou até o balcão.

— Bom dia, dona Cecília.
— Bom dia, seja bem-vinda.

Dona Cecília é uma senhora adorável que ainda trabalha na floricultura atendendo os mais diversos clientes. Todos os dias escuta histórias malucas e românticas sobre como um novo relacionamento irá ou já se iniciou.

— Eu gostaria de comprar um buquê de lírios amarelos.
— Oh, é uma bela escolha caso esteja tentando conquistar alguém.
— Como assim?
— Você sabe o motivo de querer lírios especificamente amarelos?
— São bonitos?

A florista solta uma leve risada e razão de sarcasmo.

— Não só por isso, minha querida. Esta é uma planta com significados versáteis: ao mesmo tempo que é apontada como flor do amor e está relacionada à inocência e pureza, também é ligada à paixão e ao erotismo. Dar um lírio de presente a uma mulher significa que, aos seus olhos, ela é superior comparada à outras mulheres. Então, sim, está tentando conquistar alguém. — Flávia absorvera cada palavra da florista e refletira por um tempo: talvez estivesse mesmo tentando conquistar alguém, mas ainda não havia se tocado disso. Poderia ter sido apenas uma coisa banal mas, pensou, lírios amarelos não são dados para qualquer mulher.

— Acho que a senhora me pegou.
— Eu sabia. Vou preparar o seu buquê, aguarde um pouco. Aliás, qual é o seu nome?
— Flávia Duani.

Flávia sabia que sua intensão era apenas presentear alguém por quem havia adquirido um grande carinho, mas sabia também que não desistir dos lírios amarelos significava que talvez realmente gostaria de explicar para Júlia indiretamente o que estava sentindo naquele momento.

Dona Cecília chegou com lindas unidades de lírios cercados por um papel admirável e um sorriso no rosto.

— Aqui está, dirija-se até o caixa para pagar. Espero que encontre o que procura.
— Obrigada, Dona Cecília, tenha um bom dia.

Mais uma vez o sininho alertara a presença na porta, mas dessa vez era Flávia saindo e se direcionando até o carro que estava do outro lado da rua. Havia chovido na noite passada e agora o sol escaldante dominava a cidade, fazendo com que a vista se tornasse quase um quadro visto dentro de uma galeria dos anos 90. Flávia entrou no carro e posicionou as flores no banco do passageiro para que não amassassem na sacola, entretanto, avistara dois cartões no meio dos caules e puxou-os.

Esta é uma planta com significados versáteis: ao mesmo tempo que é apontada como flor do amor e está relacionada à inocência e pureza, também é ligada à paixão e ao erotismo. Dar um lírio de presente a uma mulher significa que, aos seus olhos, ela é superior comparada à outras mulheres.
- Flávia.

E outro que dizia o seguinte:

Perdoe-me por me intrometer em sua vida, não nos conhecemos mas, se aceita o conselho de uma velha com um tempo de vida bem gasto, aqui vai: não deixe este amor escapar pelos dedos da sua mão, diga a pessoa que ama o que sente, cedo ou mais tarde outra pessoa dirá e tudo o que você poderá fazer será lamentar. Choramingos não trazem ninguém de volta. Há um cartão explicando o significado do seu presente, pode entrega-lo junto das flores, se quiser. Seja feliz.
- Com amor, Cecília.

Dona Cecília estava certa: parecia até uma história contada por livros.

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