CHAPTER 7

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— Quando eu era criança, — iniciou Simon. — meu pai trabalhava muito, mas não eram todos os dias, especialmente nas quintas e sextas-feira. Ele tinha um melhor amigo, seu nome era Sebastian. Ele vivia em minha casa, meu pai e ele eram muito próximos, muito mesmo, ainda mais depois de quando minha mãe foi embora porque não aguentou ficar longe das drogas, mas essa história, se me recordo bem, te contei no dia em que nos conhecemos. — Júlia escutava atentamente a cada palavra, imaginando que não poderia terminar em uma boa história. — Meu pai não poderia me deixar sozinho em casa, então pediu para que Sebastian cuidasse de mim enquanto trabalhava. Júlia, ele me odiava e eu nunca entendi o motivo, eu nunca nem mesmo dei trabalho para ninguém. É quase como se eu não existisse. Mas para ele, não, então ele me batia todos os dias em que cuidava de mim e, me dizia que caso eu contasse para papai ele o mataria, sem hesitar. Eu tinha 8 anos, Júlia. — Simon fora cortado pelo choro, entretanto, conseguiu continuar. — Eu era a droga de uma criança que não sabia o que significavam algumas coisas e eu contei ao meu pai em uma noite de sábado e ele ligou para Sebastian dizendo que precisavam conversar, me mandou subir para o meu quarto e pediu que eu não saísse de lá, mas eu não subi, fique lá para observar o que aconteceria. — Simon precisou parar um pouco para enxugar o rosto, — Eles discutiram feio, Sebastian sacou a arma e eu tentei intervir, porque sabia exatamente o que aconteceria naquele instante, Foram dois disparos: o primeiro acertou o meu braço e o segundo, o segundo acertou a testa do papai. — Em seguida, o garoto desaba a chorar. Júlia procurou confortá-lo, entendendo que Simon precisava daquele momento.
— Continue. — pediu Júlia, segurando a mão de Simon.
— Sebastian me levou para sua casa. Provavelmente enterraram o corpo, eu não pude sequer me despedir. O cara me fez servi-lo quando os amigos dele estavam em casa, me fez cozinhar e fazer todos os serviços domésticos.
— E o que aconteceu com o seu braço? — questionou, preocupada com a saúde e dor física que Simon sofrera.
— Sebastian me levou ao hospital no mesmo dia, fingindo preocupação para os médicos e dizendo que estava assustado com o tiroteio que presenciou, e por isso um tiro de bala perdida havia me acertado. Quando chegamos na casa dele eu tive que me cuidar sozinho. Ainda fazendo tudo o que ele me mandava.
— E depois?
— No meu 17º aniversário eu me cansei, me cansei e fugi. Eu consegui sair enquanto ele não estava em casa, sabia onde ele escondia as chaves. Eu corri muito para ninguém me visse. Voltei para minha casa onde morava com papai, a chave da porta continuava no tapete da frente. Quando entre, estava tudo exatamente no mesmo lugar, até mesmo o tapete ensanguentado . Limpei toda a casa e peguei o dinheiro que estávamos economizando para ir à Paris. Consegui viver bem e arrumar um emprego, aí te conheci.

— Porque você sumiu, Simon? — a pergunta se repetia como um eco dentro de um loop na cabeça de Júlia.
— Ele foi atrás de mim, e eu sabia que se fosse pra me machucar ele usaria você,  de qualquer forma. Eu sei que sim porque a morte é um privilégio, Júlia. Uma forma de sessar a dor de quem já não aguenta mais ou sente que não há mais como ser útil na Terra. Ele queria me fazer sofrer, queria acabar comigo. Minha morte não seria o suficiente. Mas matar quem eu amo, isso acabaria de fato comigo. Ele nos observou por muito tempo, então eu resolvi te escrever aquela carta, para que você não se preocupasse comigo e não fosse atrás de mim. Eu senti tanto a sua falta.

Um  abraço os envolver, Simon guardara tudo por muito tempo. Era um alívio ter Júlia por perto novamente. Os dois se separaram e se encararam.

— Você pode ficar aqui o tempo que quiser ficar. Temos muita coisa pra por em dia..
— Obrigado, Júlia, muito mesmo. — Simon estava um tanto quanto obviamente agradecido.
— E simon. — chamou Júlia, enquanto o garoto se dirigia para o banheiro.
— Sim?
— Eu sinto muito mesmo pelo seu pai, e por todo o resto.
— Obrigado. O foda é que aquele tapa foi muito bem merecido. Você tem malhado?
— É outro tipo de exercício, se é que me entende! — brincou Júlia (brincadeira essa que fez com que alguns flashbacks da noite passada passassem diante de seus olhos).
— Entendi, eca. Não quero saber. Vou para um hotel! — os dois caíram na risada, exatamente como era antigamente.

Finalmente Simon se dirige ao chuveiro.

É estranho tal coisa acontecer: Em um dia, Simon havia mandado uma carta dizendo os motivos para tirar a própria vida, sendo que na verdade estava sendo perseguido, mas, agora, estava em seu banheiro e Júlia sequer engolira essa história. O que aconteceu com Sebastian, afinal? Nada mais importava agora. Seu melhor amigo estava com ela novamente, isso ninguém poderia negar.

O novo emprego de Júlia a chamava, faltava um tempo até ir para acertar tudo. Daria tempo de uma saída com Simon.

O dia seria um tanto quanto estranhamente aproveitador.

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