CHAPTER 9

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A noite havia chegado e o céu estrelado fazia questão de dominar o mundo, chegava a ser impressionante e até mais do que isso: era a prova de como pequenas coisas fazem uma grande diferença até na vida das pessoas menos observadoras do mundo.

Pode ser que no amor seja assim também, uma palavra pode valer milhões de coisas, mas um único gesto, por menor que seja, talvez encubra tudo o que já foi dito e apenas se transforme em sonhos - realizados ou não -.

A hora havia chegado.

No celular de Flávia o endereço fora enviado por Júlia, que queria encontrar a mulher no bar onde arrumara seu novo emprego. Poderia ser uma atitude um tanto quanto aleatória: sua atenção não estaria totalmente voltada para a mesma, mas ainda assim, dividir o mesmo espaço com ela fazia a energia ficar mais leve e, talvez, em alguns momentos, fazia sentir como se tudo fosse possível. O ar ficava saudável.

As curvas do corpo de Flávia foram cobertas por tecidos delicados de um look leve que se encaixava perfeitamente em cada detalhe da sua silhueta. Um simples macacão tomava conta da elegância da mulher, seus pés pisavam sobre um lindo par de scarpin preto.

Qualquer um se apaixonaria por essa mulher.

[BALNEÁRIO CAMBORIÚ,  21°C, 10:02PM]

— Boa noite, senhorita. — o segurança do bar estendeu a mão para que Flávia entrasse após abrir a porta para a mesma e, ao entrar, se deparou com a cena perfeita do ambiente interno. Lembrou-se de que conhecera Júlia em uma simples lanchonete, e que sorte a dela ter sentido fome àquela hora.

Estava completamente lotado! A música que tocava ecoava sem parar, sequer dava para trocar palavras com outra pessoa, mas também, com quem Flávia conversaria além de Júlia, na qual estava à procura? À medida em que Flávia se espremia dentro do local ficava ainda mais apertado, mas finalmente avistara o balcão de madeira processada do bar e se direcionou até ele, sentou-se no banco e pediu uma bebida.

Enquanto esperava se cabeças baixa Flávia refletiu sobre algumas mensagens que mandara para Júlia assim que chegou, mas era óbvio que estava trabalhando. Flávia só não sabia onde ela estava. Ainda.

Não demorou muito para que um rapaz aparecesse ao lado de Flávia e sentasse no banco para conversar (mesmo sendo um mero desconhecido).

— Com licença, eu gostaria de tomar um Serafina. — Ele olha à sua esquerda e analiza Flávia com a mão apoiando a cabeça e fitando o nada. — Um para a moça também.
— Eu já pedi, obrigada pela gentileza. — rebateu sem pensar duas vezes.
— Sem problemas, não irá beber só um, irá? Aliás, quem deixaria uma mulher como você esperando?
— Bom, acredito que isso obviamente não seja da sua conta! — ao mesmo tempo em que o rapaz demonstra uma reação de espanto, demonstra um sorriso de canto como se informasse que gostava daquilo.
— Tem razão, mas não custa tentar. Vamos, mulheres não gostam que comecemos devagar?
— Moço, olha, eu não sei quem você é e não me interessa saber. Estou esperando alguém, já agradeci a gentileza pelo drink, não sei mais o que espera de mim então por favor, se puder apenas deixar com que eu espere numa boa aqui eu agradeceria ainda mais. — quem imaginaria que Flávia ficaria irritada daquela maneira? Mas quem pode julgá-la?
— Já que é assim...

Como todo macho escroto que não consegue ficar calado depois de levar um "não" o rapaz se aproxima de Flávia sem aviso prévio e cola seus lábios nos dela. Mesmo tentando a mulher não teria força para afastá-lo já que era bem mais forte do que ela

Isso poderia piorar?

— Qual é a droga do seu problema? Ficou maluco? — finalmente Flávia conseguira de alguma maneira fazer com que o rapaz se afastasse, mas como aquilo era desconfortável...
— Flávia?
— Júlia?

Apesar de estar correndo por todos os cantos para atender o local cheio, Júlia estava completamente elegante com aquele uniforme.

— Vejo que já se conhecem. Aliás, o meu nome é Kenai. — Kenai, como disse se chamar, estendeu a mão para Júlia, como se o que acabara de acontecer significasse algo para ambos e tivesse a necessidade de apresentar-se. — Muito prazer!

Era inacreditável!

Relações são consideradas relações em diversos casos: você pode ter uma relação com a família, uma relação com os amigos. Você pode ter uma relação séria com alguém ou simplesmente uma relação muito especial que se parece com uma. O fato é que Júlia e Flávia tinham uma relação especial que estava pronta para ser passada adiante e se aprimorar, já Kenai não era ninguém.

Para Júlia e,
muito menos, para Flávia.

E quando se sente algo importante por alguém, algo que faça sentir o seu coração vibrar de explosões e emoções inexplicáveis que sequer cabem no coração, fazemos de tudo para que esse amor seja protegido para todo o sempre. Ou até quando durar. E é em momentos assim, quando pessoas especiais são pegas com pessoas diferentes fazendo um papel que deveria ser seu, a raiva predomina. Você não é você quando está assim.

Logo, um murro bem dado na boca de Kenai se transforma em um estrondo, que o faz cair por cima dos bancos do bar e até quebrar alguns copos com a pancada. Todos pareciam assustados.

— O prazer é todo meu.
— Você ficou maluca? — Kenai estava furioso, nunca havia levado um soco, quem dirá de uma garota desconhecida.

Kenai devolve o ato, pouco se importando com quem era a mulher em quem revidou o soco. Júlia não caiu no chão, mas o impacto do seu corpo na parede geral um estrondo que transformou a atenção de todos. Até que seu chefe chegou com dois seguranças altos e bem vestidos.

— Qual é o problema aqui?
— A sua funcionária me agrediu! — Kenai pensava estar coberto de razão, acontece.
— Tire ele daqui, Natan. Esse cara não sabe levar o não de uma mulher, se é que me entende.

Natan entendia.

— Coloquem-no para fora, e certifiquem-se de que não entrará mais neste estabelecimento. — a firmeza que sua voz passava fez com que os segurança seguissem sua ordem imediatamente. — Peço mil desculpas pelo ocorrido, isso não acontece por aqui, é a primeira vez, na verdade.
— Tudo bem, é um lugar agradável.
— É bom ouvir isso. Júlia, você está liberada. Vão te substituir essa noite, só pra você aproveitar um pouco. Pelo visto está bem acompanhada.
— Obrigada, Natan.

Natan se retira.

[DÊ PLAY NA MÚSICA]

Ainda de pé, Júlia e Flávia se olham fixamente, aquele é o momento em que se percebe o que está acontecendo, o silêncio já não incomoda mais. Os olhos de Flávia esbanjavam gratidão. Gratidão por aquela que estava sempre perto quando precisava, que a defendia sem pensar duas vezes no que poderia acontecer. Que faria tudo o que estivesse ao seu alcança para vê-la feliz. Os de Júlia já não enganavam mais: brilhavam como nunca em momentos como esse. Era como se a sua mente se prendesse à uma única pessoa, e todos a sua volta desaparecessem. Só existiam elas. E ninguém mais.

— Você é completamente louca, sabia? — os braços de Flávia estavam entrelaçados ao pescoço de Júlia, que ainda sentia uma certa dor.
— Eu faço qualquer coisa pra te proteger, principalmente de situações como a que acabou de ocorrer. — sua voz transparecia firmeza.
— Mas porquê?

Após pensar um pouco, Júlia devolve a resposta:

— Eu sinto que devo. Não por obrigação... Não é segredo pra ninguém, Flávia: talvez eu esteja apaixonada por você.

Flávia a encara por um tempo. Com palavras insuficientes para descrever os sentimentos que oscilavam sem parar, um beijo é iniciado. Um beijo calmo, mas que carregara uma bagagem de sentimentos perversos e, futuramente, insertos. Sentimentos estes que, também, transmitiam verdade absoluta, não a daquele bar, não a da vida inteira: a verdade absoluta daquele momento, que poderia ser esclarecida. A voz ardente gritava sem parar, sem rumo, sem saber o que fazer, ou ao menos a quem chegar.

Aquele beijo mudara tudo, todo o rumo, toda a dúvida. Milhões de fogos internos estavam explodindo dentro de ambos os corpos. Bilhões de borboletas circulavam na boca do estômago e, por um único momento, tudo é possível.

Aquele beijo concorda, as luzes que piscavam, os corações:
os olhos dela, concordam.

— Talvez eu também esteja apaixonada por você, Júlia.

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⏰ Última atualização: Mar 19, 2020 ⏰

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