Capítulo 2

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Acariciei a capa do livro com a ponta de meus dedos e aquela corrente elétrica desconhecida percorreu meu corpo

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Acariciei a capa do livro com a ponta de meus dedos e aquela corrente elétrica desconhecida percorreu meu corpo. De maneira instintiva abri o livro correndo meus olhos pela primeira página, uma dedicatória estranha era tudo que ocupava a folha.

"Para Jasmim, meu plano era protege-la até a morte mas eu realmente sinto muito por tê-la abandonado. Creio que este é o momento certo para, bem, você terá que descobrir sozinha"

Li a dedicatória uma vez, duas, três, quantas vezes necessárias para entender oque ele quis dizer com "Você descobrirá sozinha". Aflita pela resposta me sentei na poltrona de papai e comecei a ler o livro, era estranho mas o livro todo parecia ter sido escrito a mão, como se fosse um diário, a letra estranha mas bonita de papai plainava em cada página.

"Tudo começou na noite em que as estrelas despencaram do céu, ela era tão bela e doce, seus olhos azuis e alegres ainda permanecem em minha mente. Aquele sorriso ainda me assombram a noite. Meu primeiro amor ainda está intacto em meu coração, eu me arrependi de abandona-la, me arrependi de deixa-la morrer.

Seu nome era tão doce quanto seu perfume, seus toques eram tão delicados e suaves como uma pluma. Aqueles poucos dias que passei ao seu lado, foram esperançosos e importantes para mim, pensei que poderia me salvar da loucura chamada ganancia e pensei que ela era meu remédio. É uma pena que tudo isso agora não seja apenas belas e distantes memórias.

Eu nunca tive a chance de te dizer mas eu ainda te amo Jasmim"

Se aquilo era o diário de meu pai ou não, eu não poderia afirmar mas se realmente era, tudo estava muito estranho, a moça que ele descrevia de jeito algum poderia ser minha mãe. Quem era ela e porque eu tenho o mesmo nome que ela?

Não, papai provavelmente escreveu isso quando teve uma epifania ou sei lá oque, meu pai mesmo tendo uma profissão meio maluca era um tanto sério e certinho, ele jamais faria algo de ruim para alguém e de jeito algum ele poderia ser ganancioso.

Fechei o livro subitamente e sai do escritório de papai, corri para meu quarto como se estivesse fugindo de um mostro, tranquei a porta branca do cômodo e me atirei na cama bem longe daquele possível diário. Maldita hora que inventei de entrar lá dentro, maldita hora que mexi naqueles livros mas eu tinha certeza que aquele livro teria que ser o favorito de papai, eu nunca vi aquele diário lá.

"Querida, eu já cheguei" a voz alegre de minha mãe interrompe meus pensamentos e sinceramente, essa é mais uma das vezes que gostei por ela ter feito isso.

"Já estou indo" digo pulando da cama e descendo as escadas rapidamente. Ela estava retirando algumas coisas das sacolas, legumes, frutas, carne e mais algumas coisas sem valor pra mim quando de repente, vejo uma barra de chocolate.

"Mamãe, a senhora deve estar cansada. Deixa que eu guardo isso ai" me aproximei dela tentando pegar o chocolate, minha mãe era uma enfermeira de quarenta e poucos anos mas mesmo não parecendo era rápida como um gato.

Como todos os dias, minha mãe voltou do banho e começou a preparar o jantar e eu, ajudei-la no que a mesma precisava. Estava picando alguns legumes enquanto ela temperava a comida, tinha perguntas em minha mente, perguntas que precisavam de respostas e de maneira doce e inesperada perguntei

"Mãe, como você e papai se conheceram?" ao fazer a pergunta sinto seus músculos enrijecerem e a colher caiu de suas mãos.

"Porque a pergunta? Nos conhecemos da mesma maneira que muitos casais. Seu pai frequentava a mesma faculdade que eu, nos conhecemos pelos corredores e viramos amigos e o resto você já deve imaginar" ela respondeu tentando manter uma conversa sem valor, sua voz suave e descontraída junto com aquele riso fraco que só minha mãe tinha.

"Papai teve mais alguma namorada antes da senhora?"

"Talvez, não sei. Yasmim, seu pai era inteligente, atraente e tinha aquele belo sorriso e senso de humor, claro que mais alguém deve tê-lo namorado antes de mim" ela ria da resposta como se minha pergunta fosse idiota e sem importância.

"Porque papai me chamava de Jasmim?" continuei o interrogatório mas desta vez, estava de frente para ela que largou a colher de mão e se sentou a minha frente.

"Seu pai gostava de fazer jogos com as palavras, Jasmim rima com seu nome mas, faz muito tempo, você ainda era uma semente dentro do meu útero ele havia mencionado o nome de uma amiga muito importante e que infelizmente não está mais neste mundo, seu nome era Jasmim" ela disse tentando agarrar as lembranças que vinham rapidamente em sua mente, e eu, tentava captar tudo ouvido.

"E antes que você pergunte, não, eu não conheci essa moça mas concordei em lhe dar este nome pois sempre gostei do perfume da flor de Jasmim" ela continuou falando, então se levantando da cadeira foi em direção a porta, isso significava 'Agora você termina o jantar sozinha'

[...]

Era um lugar mágico. Tudo era diferente do habitual, o verde profundo das árvores, da grama que brilhava com a luz do sol. Tive que caminhar muito até encontra-la, seu rosto calmo mesmo aos prantos, seu cabelo longo e escuro contornando seu belo rosto e aqueles olhos de um azul que jamais vi. Ela era bela, muito bela.

"Me ajude", sua voz quase como que celestial surgiu atraindo minha curiosidade, então foi assim que me aproximei e pude ver, seu vestido branco cristalino estava despedaçado na barra mas isso a deixava ainda mais bela. Ao tocar seu braço notei os arranhões e o sangue manchando sua pele pálida.

"Não se preocupe com isso" ela falava com um sorriso gentil, ela era doce demais para ser real.

Ao tentar levanta-la sou puxada para baixo novamente, ela me abraça fazendo seus cabelos me envolverem e foi naquele instante que percebi suas asas negras e brilhantes aparecerem. Ela sorri novamente para mim e alisa meu rosto com aquele doce riso, seus lábios colam na minha bochecha levemente fazendo uma sensação estranha percorrer meu corpo. Tudo ao nosso redor acabou perdendo a cor, tudo estava cinza e morto então seu riso se tornou alto e sombrio.

"Doce Jasmim, já estava na hora. O diário já não poderia esperar mais por você" sua voz não transmitia um pingo de doçura ou delicadeza. Era afiada como a lâmina que ela carregava no pingente.

Abri minha boca para falar mas nada saia, era como se minha garganta estivesse engasgada, nada além de um ronco fraco saia de mim. A pergunta "Como você sabe do livro?" ou "Oque é você? " surgiam em minha mente mais era inútil tentar.





Afinal, tudo não passava de outro sonho.

Campum FlorumOnde histórias criam vida. Descubra agora