Não poderia ser verdade mas era, a criatura a minha frente não era mais meu pai, era apenas um anjo enlouquecido cujo nome é Raphael Landuph. O homem amável jamais existiu, tudo não passava de uma armadilha bolada por aquela...coisa.
"Eu estou um pouco cansado, então vamos parar com esse teatrinho aqui." Ele disse abrindo os braços e fechando os olhos um segundo de tempo, todo o cenário mudou, já não estávamos mais no escritório de Angeli e obviamente já não mais na Academia.
"Você é realmente impressionante, oque mais consegue fazer além de ilusões perfeitamente bem feitas?" falei ao descobrir seu truque, nunca estivemos na Academia, eu não havia entrado no dormitório e trocado de roupa após o banho. De fato eu nunca havia saído do lugar.
"É, você não é tão lerda assim." Ele falou devagar exagerando muito na palavra 'tão'. "Pois bem Jasmin, tudo que eu te falei é mentira, a guerra ainda não chegou ao fim, você conseguiu salvar Dustin mas ninguém estava por perto quando eu te trouxe comigo. Ninguém irá dar falta de você, não por muito tempo."
"Oque você quer? Quer o meu poder? Vá em frente, eu não preciso disso" falei estendendo meus pulsos para ele. "Quer que eu implore para você me deixar? 'Quer que eu fale: Papai, volte. Eu não quero mais brincar' como eu falava quando você se escondia tão bem no escritório enquanto brincávamos?" falei sentada naquele chão frio, naquela sala tão escura que parecia um porão.
Raphael deu alguns passos para trás, uma sinfonia triste saia de seus lábios através de seu assovio afinado. Für Elise de Beethoven, era essa a melodia. Sem olhar para mim. ele deu as costas e entrou em uma pequena porta de madeira.
Me levantei rapidamente correndo para frente da outra porta daquela sala, forcei minha mão na maçaneta. Trancada. Dei chutes e empurrões para arromba-la e o barulho ecoou junto a sua melodia triste.
"Filha, não faça isso. Vai acorda-la." Landuph se pronunciou magoado, carregava uma mulher no colo, a anja Jasmim dos meus sonhos, a mãe de Angeli. Seus dedos alisavam o cabelo escuro da mulher, ela estava morta mas tinha a mesma beleza que no meu sonho. "Ela é linda, não é? Sempre tive bom gosto para mulheres." Sua voz continuava falhando, como se quisesse me provocar pena.
"Achava que mulher mortas não faziam seu tipo." Respondi rindo fraco, não me entenda mal, eu só preciso ficar na defensiva, sem nenhuma brecha para ele entrar.
"Você me perguntou oque eu desejava, não é mesmo? Eu desejo que você a reviva, eu sei que você consegue." Sua voz estava calma mas seus pensamentos eram de um lunático, ela morreu e ponto.
"Revive-la? Ela está morta, a vida dela já acabou."
"Você salvou aquele garoto, você consegue fazer o mesmo com ela." Ele disse enquanto colocava o corpo de Jasmim no chão. "Yasmim, você está fraca ainda mas sei que conseguirá daqui a um tempo, até lá você ficará comigo e sua madrasta."
"Você é louco."
"As pessoas enlouquecem a devidos fatores, algumas ficam loucas por causa de traumas ou mágoas do passado, outras já nasceram daquela maneira e os sintomas só despertam depois de um tempo mas o amor Yasmin, o amor muda tudo. Ele que decide se a pessoa se salvará de si mesma ou se está condenada a morrer daquela maneira. Mas sempre tem aquelas pessoas que não são libertas pelo amor. Pessoas que não merecem ser amadas." Seus olhos eram semicerrados, aquele fino sorriso estampado no rosto. Lunático.
"Você pelo menos tem ideia de como eu conseguirei ressuscitar essa mulher?" perguntei após um longo tempo.
"Como eu poderia saber? Que eu saiba foi você que salvou o garoto, não eu." Ele disse acariciando o rosto pálido da morta. Aquela cena toda me deu vontade de vomitar.
"Eu não sei, apenas aconteceu."
"Bom, algo dentro de você salvou o garoto sem nem mesmo te deixar perceber isso. Mas não se preocupe, acho que podemos treinar essa sua habilidade." Ele disse retirando uma navalha de seu bolso, direcionou a lâmina para meu braço esquerdo e sem eu tentar me soltar cortou a pele. O corte não era tão fundo nem tão superficial, o suficiente para que o sangue brotasse.
Eu sabia oque ele queria então fechei meus olhos colocando meus dedos direitos acima do corte, sem encostar diretamente no ferimento. Desejei cura-lo assim concentrei toda a minha força e energia nele.
Mas foi inútil pois quando eu abri meus olhos vi o corte da mesma maneira de antes, talvez até com mais sangue. Raphael soltou um riso fraco e desanimado então puxou novamente a navalha mas desta vez contra seu próprio braço e o estendeu para mim, o sangue pulsava na ferida aberta.
Repeti o mesmo processo que antes, mas foi em vão tentar o sangue ainda estava ali.
"Foi só aquele moleque que você curou? Nunca tinha feito isso com outro ser?" Ele perguntou cuidando de seu ferimento ele mesmo.
"Não." Foi minha primeira resposta mas depois que pensei no começo de tudo, depois que pensei no dia em que conheci a garotinha de cabelos escuros e seu sabiá que sobreviveu apenas com meu toque, foi ai que tudo se encaixou. "Eu revivi um pássaro uma vez, ele não ia sobreviver, estava praticamente morto mas foi eu apenas passar a mão nele que seus ferimentos foram selados. Acredito que não consigo curar ferimentos superficiais, apenas quem está morrendo é salvo por mim."
"Entendo." Ele falou baixo, suspirou brevemente e saiu abraçando a mulher morta.
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Campum Florum
FantasyYasmim Morais. Também conhecida como Jasmim, uma garota comum de uma cidade entediantemente pequena, sempre foi apaixonada por histórias fantásticas e sempre se envolvia tanto com os livros ao ponto de querer entrar nas histórias, ser a melhor amiga...