Capítulo 12

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Yoren conseguiu escapulir do controle rígido de Jahar ao dizer-lhe que precisava ir ao banheiro; enquanto seu superior a aguardava impaciente em frente à porta, a jovem subiu na privada fechada e, com dificuldade, passou o corpo pela janela. Caiu do lado de fora como um saco de batatas. Olhou em volta enquanto erguia o corpo, notando que ninguém parecia ligar para o que poderia sair de uma das janelas dos banheiros — todos os guardas estavam focados em suas rondas ao averiguar quem passeava nos jardins, as carruagens que entravam pela porta movediça ou quem precisava sair do território do castelo. A segurança excessiva, na verdade, causou uma sensação cômoda e tornou a maior potência de luta do Grande Ocidente em cães de guarda preguiçosos. Respirou fundo, julgando a situação decepcionante, mesmo que lhe fosse conveniente. Sorriu ao pensar na possível opinião de Jahar sobre isso. 

Sentindo uma pontada nas costelas da queda, seus olhos correram na direção do bosque muito bem cuidado. Cheio de árvores carregadas de folhagens podadas, parecia um lugar pomposo à primeira vista. "Pelo menos os jardineiros são competentes, embelezando um monte de mato", ponderou com desdém. Esgueirando-se para lá com cautela — afinal, seu uniforme lhe denunciava — chegou no dobro do tempo que levaria em passadas despreocupadas.

Escondeu-se em meio aos troncos que se erguiam impotentes em um orgulho mudo, refletindo a realeza de sua madeira nobre e rara, exigida especificamente por um Rei vaidoso. Esgueirando-se entre as árvores, lançava uma olhadela para trás, para os lados, à sua volta. Continuou adentrando o bosque mais e mais, caminhando pela grama baixa, bem aparada e fresca até ter certeza de que não havia ninguém por perto. Sem sentir a essência de ninguém além da fraca presença dos passarinhos cantarolantes empoleirados entre os galhos, chamou por Yoma. 

Uma, duas, três vezes. 

Nada. 

Quatro. 

Os passarinhos saíram voando, levando consigo todo e qualquer som que não fosse a leve brisa por entre as folhagens.

Cinco.

Graças aos treinamentos recorrentes somados ao nível etéreo de sua essência, conseguiu identificar uma anormalidade energética criada em um dos galhos gordos; as folhas caíram todas mortas atrás de si, enegrecidas e murchas: a energia vital havia sido sugada e o galho, agora nu, rangeu à matéria corporal que criou massa e, consequentemente, peso. Yoren franziu o cenho ao virar-se, erguendo o rosto para encarar a criatura. O que viu foi um rapaz relaxado no alto da árvore, os cabelos brancos cortados desregulados, como se alguém tivesse passado uma foice sem a minúcia necessária. Uma faixa preta cobria-lhe os olhos e o sorriso de canto acompanhava seu ronronar que ecoava contra o silêncio. A garota fechou as mãos em punhos para esconder os dedos trêmulos.

— Então é você. — instigou, num tom cauteloso. Yoma soltou uma risadinha esganiçada e curta que fez seus cabelos da nuca arrepiarem.

— Esperando mais alguém, minha jovem? 

— Bem... — Yoren sentiu-se estúpida ao perceber a lógica por trás de alguém que vestia-se como um maluco.  

— Então?

— Você um Matéria-Escura.

— E você é o quê? A Rainha da Obviedade, Madame dos Retardados? — ele rebateu, erguendo a faixa um pouco para encará-la com sua pupila retraída. Jogou a perna para fora do galho, deixando-a pendurada, displicente. Murmurou um pouco, baixou a faixa, sacudiu a cabeça e a faixa desapareceu em uma fumaça negra que dissipou rapidamente. Com um suspiro dramático, revirou os olhos. — Eu sei, eu sei. Não tenho saco pra crianças. Foda-se. Não. Fala você. — ele parou por um momento antes de encará-la e rir mais uma vez. Yoren estava pálida. — Vou fingir que não sei o que quer de mim. Então você me diz o que é e dependendo do jeito que falar, te ajudo. Vai!

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