Capítulo 4
Perto dali o major Hooper estava batendo em uma porta em arco numa das ruas mais tranquilas de Regent's Park. Quase imediatamente a porta se abriu e um mordomo empolado, vestindo uniforme com botões de prata, o saudou.
-- Boa noite, James – Hooper disse. – A senhora Clinton pode me receber?
-- Ela está sozinha no momento, senhor.
-- Era isto que eu queria saber. Não é preciso me anunciar. – Ele subiu os degraus de dois em dois e abriu a porta da sala. A iluminação a gás, macia e acolhedora, tornava a mulher que veio ao seu encontro mais jovem do que realmente era.
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Cheryl Clinton tinha sido atriz, protegida de um rico e bem-sucedido comerciante. Depois dele, havia progredido para a companhia de um nobre muito distinto, que em seguida a passou para as mãos de outros cavalheiros bastante conhecidos nos clubes de St. Jame's Street.
Só quando sua beleza começou a declinar foi que Cheryl Clinton resolveu iniciar seu próprio negócio. Seu primeiro protetor tinha lhe ensinado a controlar o dinheiro. E os companheiros seguintes haviam revelado muito do gosto masculino pelas mulheres. Ela tinha compreendido que a aristocracia era profundamente preguiçosa quando se tratava de conseguir aquilo que desejava.
Cheryl dedicou-se, então, a apresentar cavalheiros de posses às mulheres do tipo que lhes interessavam e que tinham preguiça de procurar.
Em sua juventude, tinha sido amiga da sra. Porter, que se gabava de haver apresentado Harriet Wilson, a rainha de sua profissão naquela época, ao duque de Wellington.
Anos depois, tinha sido um choque para ela ouvir dizer que a sra. Porter havia caído em desgraça. Isso era algo que não iria nunca permitir que lhe acontecesse. Se conseguisse ganhar dinheiro, nunca iria perde-lo. Ela estava convencida de que era fácil ganhar dinheiro quando só se gastava o necessário.
Também havia descoberto, ao longo de sua vida, que os homens estavam sempre dispostos a pagar para ter o melhor. Se pudesse fornecer sempre o melhor, certamente conseguiria preços altos.
Todas as noites podia-se encontrar a sra. Clinton em sua elegante saleta na casa bem arrumada de St. John's Wood. Os cavalheiros a visitavam. Sentavam-se bebericando champanhe e conversando sobre assuntos gerais, até chegarem no ponto da questão.
-- Sei exatamente o que quer, milorde – dizia, então, a sra. Clinton. – E tenho uma moça especial para o senhor. Na verdade, é uma jovem casada, cujo marido está viajando. Vai adora-la. – Ela tocava um sininho de prata e James abria a porta para pegar o recado que devia ser levado à casa de alguma garota da vizinhança.
Mais champanhe, mais conversa até a dama chegar. O cliente levaria a moça para jantar num daqueles restaurantes chiques que tem aquelas saletas discretas no primeiro andar.
A sra. Cheryl Clinton havia organizado tudo muito bem. No momento, era tão bem conhecida no West End de Londres que praticamente todas as apresentações importantes eram feitas por ela.
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Ah! Major – ela disse quando ele entrou na sala. – Que surpresa. Eu não o esperava essa noite.
-- Desculpe vir vestido assim, mas passei o dia inteiro numa feira de animais em Potters Bar e não tive tempo de me trocar.
-- Portanto, deve ter algo muito importante a me dizer. – A sra. Clinton sorriu. – Por favor, sente-se. Aceita champanhe?
-- Não, obrigado. Não quero tomar seu tempo, sra. Clinton, acabo de descobrir algo inusitado. Posso mesmo dizer algo raro: um rapaz adorável, inexperiente e casto. É uma criatura realmente maravilhosa, mais lindo que qualquer das mulheres que vêm frequentando meu estábulo nos últimos dez anos.
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Domando o Barão (Completo)
RomanceTabby não sabia explicar aquela estranha sensação de que havia algo errado. O que o angustiava? O major Hooper tinha sido tão bom, deixando-o ficar ao lado de Pégaso, seu corcel negro. E a sta. Clinton, tão bondosa, dera-lhe roupas bonitas, luxuosas...