Capítulo 2

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Capítulo 2

Com as dívidas pagas, Thomas se viu com apenas alguns objetos pessoais e o cavalo Pégaso.

De início, quase entrou em pânico ao pensar em se desfazer do animal, mas acabou compreendendo que tinha de pagar alguma coisa a Ned, o velho Ned, que acompanhava seu pai e sua mãe desde que eles haviam casado, desempenhando todas as funções da casa, de mordomo a cozinheiro.

Ned era velho demais para poder encontrar outro emprego. Tinha de ter alguma fonte de renda ao se aposentar e a única maneira de solucionar isso era vender Pégaso.

Foi o próprio Ned quem contou a ele que haveria uma feira de animais em Potters Bar. Perturbado com a morte do pai, Thomas não teve tempo de pensar em nada, a não ser em problemas práticos como a hipoteca, as contas, as roupas e livros da mãe que queria guardar para si.

-- Uma feira de animais em Potters Bar? – Tabby repetiu, meio fora do ar.

-- Isso, senhor Thomas. Uma feira anual. Os comerciantes de cavalos e alguns nobres de Londres costumam comparecer. Dizem que lá se consegue o melhor preço do país.

As palavras de Ned eram como punhaladas no seu coração. Thomas queria gritar de dor, mas ao olhar nos olhos doces do velho, compreendeu que só pensava nele, querendo que conseguisse dinheiro para viver, ou, pelo menos, para se manter até que conseguisse um emprego qualquer.

-- Acho que podia ser mordomo, ou cavalariço – Tabby murmurou baixinho, pensando como ia conseguir uma colocação sem nenhuma referência anterior.

Mas, fosse qual fosse sua resolução, primeiro tinha de vender Pégaso. Seria impossível viajar pelo país com seu cavalo e precisava prover o sustento de Ned. Era uma missão quase sagrada, que sua mãe lhe havia confiado.

De fato, era Ned quem se encarregava de acender a lareira com a leinha que catava pessoalmente nas fazendas locais. Era Ned quem trazia um coelho, caçado na mata, quando não havia mais nada para comer.

Ocasionalmente, um faisão "se perdia" no terreno deles e mais de uma vez saborearam torta de pombos em períodos particularmente difíceis. Era sempre Ned quem providenciava o necessário. Thomas não podia permitir, agora, que ele fosse procurar outra colocação em alguma agência de empregos.

-- Sou jovem – Tabby dizia a si mesmo. – Hei de dar um jeito.

Ao chegar em Potters Bar, ouviu o barulho e movimento da feira, os cavalos circulando, e sentiu-se como se estivesse levando seu querido animal a um matadouro.

Carroças de feno haviam sido agrupadas num círculo onde os animais desfilavam, alguns pelo lado de dentro, outros por fora. Alguns animais eram rústicos, conduzidos por ciganos sombrios ou camponeses com uma haste de palha entre os dentes. Outros, de pelos brilhantes com a crina e cauda penteadas, eram montados por criados, de uniforme, de alguns nobres do local, ou por filhos de comerciantes de animais, com suas botas polidas e culotes bem cortados.

As vozes se confundiam numa babel dissonante, misturadas aos gritos de crianças que corriam entre as pernas dos animais e das pessoas.

Por um momento, Thomas sentiu-se perdido. A única coisa que desejava de fato era voltar para casa. Mas, lembrou-se que a casa não era mais sua, já tinha passado a outras mãos e ia ter que se mudar na manhã seguinte, levando seus poucos pertences. Com grande alivio, viu Ned esperando por ele na entrada da feira.

-- Aí está você, senhor Thomas – ele disse, pegando as rédeas do animal. – Eu já estava ficando preocupado.

-- Não consegui vir depressa, Ned – Tabby confessou.

Domando o Barão (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora