O início: Tempestade.

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As gotas de chuva caíam, sem cerimônia alguma. E cada vez que tocavam em sua pele eram como se fosse pequenos alfinetes perfurando-a. O ar da floresta entravam em seus pulmões, frio e pesado. Suas roupas estavam coladas na pele, dificultando ainda mais sua locomoção. A vegetação densa cortava sua pele e barro colado no seu tênis fazia suas pernas pesarem.

Os seus músculos já estavam fadigados, mas ela sabia que não poderia desistir. Era sua última chance e ela não voltaria aquele inferno novamente. Porém seu corpo não aguentava. Nove anos naquele inferno, maldito bastardo. Que ele queimasse no quinto dos infernos juntamente com seu bando. Pensou a garota. Cada passo que ela dava suas últimas reservas de energia se esvairia.

Então ela parou, não aguentava. A morte estava em seu encalce, mas a morte seria uma benção. SUA LIBERDADE. Mas aquele demônio não a deixaria ir de forma tão fácil.

- Vamos meu pequeno anjo, falta pouco -ela sentiu a mão de sua mãe a acariciar sua cabeça. - falta pouco. Logo, logo estaremos livres...

- Não consigo mamãe, não consigo... - a garota falou já sentindo seus olhos queimarem pelas lágrimas. - é demais para mim, meu corpo não aguenta.

A mulher sabia que estava pedindo muito da sua filha. Mas sacrifícios eram necessários. Ela não poderia deixar que seu bebê voltasse aquele lugar... Para as mãos daquele bandido. Que a enganou e a manipulou no momento em que ela se sentia tão fraca. Agora, quem pagava pelos seus erros era sua filha.

Não, ela não deixaria que o bastardo tocasse novamente na sua princesa. Nem que para isso sua vida fosse entregue.

- Vamos Aurora, minha pequena e doce Aurora -falou a mulher, colocando em cada palavra seu amor. - você é forte. Uma guerreira. E eu te amo minha filha. Me desculpa por deixar a situação chegar a esse ponto...

- Não é sua culpa mamãe...

A garota não terminou de falar, pois ao longe elas ouviram os latidos dos cachorros. O maldito as tinha encontrado...

- A senhora ouviu mamãe? - perguntou a menina desesperada. - eles nos encontraram e agora o que vamos fazer?

- Vamos manter a calma -a senhora sabia que tinha pouco tempo. - Vamos no separar...

- Não, não. Isso não vai dar certo! Eles querem isso, nos separar - Aurora sabia que não era uma boa ideia.

-Ei, vai dar tudo certo princesa. Vamos nos separar e assim conseguiremos despistar os cachorros. Nos encontraremos no local combinado e a minha amiga vai nos ajudar -falando assim parecia tão fácil. Sua mãe passou meses planejando a fuga e não tinha contado os detalhes para ela. E agora as duas dependiam da ajuda de uma desconhecida. A mãe vendo o semblante angustiado da jovem tentou acalmá-la. Tirou o colar e desconectaram os dois pingentes. Entregou um para filha e o outro ficou para si. –Pronto! Essa é a prova que vamos nos encontrar de novo. Eu ficarei com um e você ficará com o outro. Agora vá...

- Mas mãe...

- Vá Aurora. Atravesse a velha ponte e seja livre...

- Mas...

-Não temos tempo... Vá.

Elas se abraçaram e Aurora sentiu seu coração se aperta. Mas antes de terminarem o abraço, ouviram passos se aproximando.

- Corra Aurora... Agora!

E assim mãe e filha se separaram. Cada qual para um lado. E a perseguição reiniciou. Aurora usou suas últimas forças para correr e se distanciar dos latidos.

Ela não sabia quanto tempo tinha corrido, se eram segundo, minutos, ou horas. Mas sabia que não aguentaria por muito tempo. Pelo menos não se ouvia os latidos daqueles monstros.

O tempo passou e Aurora não encontrava a velha ponte. Talvez estivesse perdida, para ela todas as árvores pareciam iguais. Ela achava que já tinha passado pela aquela pedra. Aproveitou e sentou nela.

"Vamos, pense. O que sua mãe faria em tal situação?" -falou pra si, acariciando suas costas. Não era fácil correr em seu estado. Fechou os olhos e tentou ouvi o que estava se passando em sua volta. Passou o dedo pelo pingente que sua mãe lhe deu e torceu para que ela se salvasse. A chuva tinha parado. Ficando uma fina garoa, ao longe um trovão cortou o céu, iluminando a noite escura. Ao longe ela ouviu o som de águas correndo.

Era o riacho!

Animada, correu em direção ao som. Suas esperanças estavam renovadas. Ela tinha encontrado a ponte. Agora era só atravessar e estaria livre.

Poucos passos a separavam do seu destino. Colocou o primeiro pé sobre a ponte velha e escutou um estralo. O que antes era um pequeno córrego, agora tinha se transformado em um verdadeiro rio feroz.

"Vamos, tenha coragem".

E assim aos poucos ela atravessava. Porém, ao terminar percebeu que não tinha ninguém lhe esperando.

- Ora, ora, o que temos aqui? - sentiu ele agarrar seu braço .

Enganou-se, o próprio demônio a aguardava.

- Você, seu monstro!
- A pequena vadiazinha pensou que iria fugir de mim? - ele puxou o seu cabelo com força. -ME RESPONDA CADELA! - gritou no ouvido da garota.
Mesmo assim ela não respondeu. Sabia que não adiantaria. Só servia para aumentar sua raiva.
-O que foi?  O cachorro comeu sua língua? -nesse momento os cachorros vieram sobre ela, mas o maldito deu a ordem deles pararem.
-Por favor, deixe-me ir? Não contarei nada a ninguém. 
- Que isso princesinha. Agora que a brincadeira começou.
Jogou ela no chão e fez com que os cachorros a cercassem. Ela sabia que era tarde demais. Aqueles dentes enormes estavam aguardado só uma simples ordem para rasgarem sua carne alva. Enquanto ela se desesperava, o maluco e seus bandos apenas sorriam.
-Vamos meu bebê, me der o pen drive. E nada de mau vai lhe acontecer.
Ela sabia que isso era mentira. 
-Eu não sei que pen drive é esse! 
Seu malfeitor respirou fundo e falou: -Vamos Aurora, cadê o maldito objeto!
-EU NÃO SEI DO QUE VOCÊ ESTAR FALANDO SEU LOUCO.
A Garota perdeu a paciência e um dos 3 cachorros mordeu sua perna. A dor foi tão grande que atravessou sua alma.
-Quietos! -os três cães se aquietaram imediatamente. Até eles o temem.
-Sabe sua vadiazinha, você está me custando muito caro -se aproximou da garota e a puxou pelo seu cabelo até a garota ficar em pé. Uma pontada a fez mancar e quase cair. Só não o fez por que o bandido a estava mantendo pelos cabelos. -Eu não quero fazer isso, mas você me força -deu sinal para um de seus capangas. -Traga a surpresinha para nossa princesa.
O capanga trouxe arrastada a tapas a mãe da garota. 
-Mamãe...
Aurora sentiu um tapa queimar seu rosto e rasgar sua bochecha por dentro.
-Silêncio... Sua cadela. Agora que nossa família está reunida, eu quero saber quem está com meu pen drive?
Mãe e filha ficaram calada. Elas se encararam, pela última vez. Enquanto o monstro apontava a arma para cabeça de sua mãe.
-Pela última vez, me diga Aurora onde está o pen drive?
-Eu. Não. Sei.
E ao terminar de falar, o som de um tiro atravessou a mata e um corpo sem vida caiu sobre o chão lamacento.
Aurora viu os olhos de sua mãe perderam a vida. 
-Monstro!
Gritava a garota agarrada ao corpo.
-Eu, monstro? Pra mostrar minha boa vontade te dou um minuto para sair da minha frente. Começando agora.
A garota foi forçada a deixar o corpo da mãe pelo latido dos cachorros. E começou a andar em direção a ponte. Aquilo era um jogo doentio. Ele não a deixaria viver.
E estava certa.  Sentiu o tiro rasgando sua carne, cambaleando, caiu e foi engolida pelas águas escuras. Finalmente encontraria a paz.
A chuva se intensificou e um trovão rasgou o céu, atingindo a árvore mais próxima.

Quando a chuva passar...Onde histórias criam vida. Descubra agora