capítulo: I

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3 anos depois.

Ela fixa seu olhar além dos vidros do carro, passou a ponta dos seus dedos sobre o vidro frio. Frio, igual a ela. Não era um frio provindo do tempo e sim que emanava do seu imo. Por mais que se aconchegasse no interior do seu casaco, ela continuava a se sentir fria, vazia. 

Ela passou certo tempo observando as gotas formadas pelos pingos da chuva. Elas iam descendo, empurradas pela outras gotas e puxadas pela gravidade. Sem controle desciam, até serem levadas pelo vento. Era assim que se sentia, sem controle sobre nada. Sendo empurrada, guiada, orientada pelos outros. 

Parecia que sua alma saíra do corpo e ficara a observá-la ao longe. Uma maldita boneca de pano. Sua cabeça estava vazia e ao mesmo tempo cheia pelos acontecimentos das últimas semanas. Aquilo era demais para ela. 

Então, era preferível observar as gotas que desciam a analisar sua situação atual. Para um observador, ela parecia perfeita. Cabelos bem arrumados, roupas de grife e botas que ela nem imaginava quanto custara. Mas por dentro, tudo era diferente. Sua mente era um nevoeiro, pior do que estava cobrindo a paisagem do lado de fora.

Ela suspirou. O vapor condensou, embaçando o vidro. Ela limpou e tentou mirar além do nevoeiro. Conseguiu ver pouca coisa, algumas casas ao longe, animais pastando, grandes árvores. Ela sabia que estava sendo levada para alguma casa de campo, fazenda ou chácara. Algo desse tipo. Ela não sabia o porquê. Só sabia que era para seu próprio bem -disseram.

Desde quando acordou naquele maldito hospital, nada tinha feito sentido.  Aterrorizada, sentia dolorido seu corpo, sua cabeça e sua alma. Tudo era tão estranho. Ela tentou de todo jeito se mexer. Foi muito difícil. Seu corpo parecia pesado, inanimado. O desespero tentou dominá-la, porém ela se controlou. 

Vamos respire...

Se acalme...

Logo, logo tudo vai se resolver...

Falava para si, na tentativa de manter o controle. 

A primeira coisa que fez foi tentar visualizar aonde se encontrava. O quarto era branco, do seu lado direito avistou monitores. Parecia que estava em algum hospital. O quarto estava pouco iluminado. Aos poucos ela foi se movimentando. Primeiros os dedos das mãos, depois os dos pés, braços, pernas. Cada movimento tomava o que restava de suas forças. A respiração se tornou pesada e seu pulmão se esforçava ao máximo. A parte mais difícil foi tenta movimentar as pernas, estavam debilitadas demais. Com muito esforço ela se colocou sobre a cadeira de rodas que estava ao lado da cama. Por pouco não caiu. Cada músculo do seu corpo tremia. 

Tudo isso durou horas. Quando ela recuperou um pouco as suas forças, se dirigiu a porta que levava ao banheiro. Procurou o interruptor e ligou a lâmpada. Ao adentrar, do seu lado esquerdo ela viu a pia e um espelho na parede. Se aproximou, apoiou seus pés sobre o chão frio e com as duas mãos ela se impulsionou para ficar de pé. Ela tinha que ver a sua Imagem refletida no espelho.

O esforço feito não diminuiu o impacto causado pela imagem refletida  no objeto. Aquela mulher que estava lhe observando era outra pessoa. Uma garota pálida, olhos de gelo e cabelo amarelado sem brilho.

Então percebera que não se lembrava de nada.

Nada...

Nem nome...

Idade...

Endereço...

Nada...

Simplesmente nada...

Quem era aquela mulher que estava no espelho?

ninguém...

O desespero foi tão grande que ela perdera o equilíbrio e caiu sobre o piso do banheiro. Seus gritos foi uma forma de tentar externar sua angústia de não saber quem era ela...

Quando a chuva passar...Onde histórias criam vida. Descubra agora