Capítulo 1

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Boa noite, lindezas. Como combinado, segue o primeiro capítulo fresquinho para vocês!


Para o soldado

O civil

O mártir

A vítima

Isso é GUERRA

This is War - 30 Seconds to mars

O Tenente

— O Tenente caiu! Repito, o Tenente caiu!

Meu pulmão se contorcia. Meu corpo se tornou uma massa leve e sem forma rodopiando no ar sem controle. As vozes que ecoavam pelo rádio comunicador se perderam no vento forte que me impedia de respirar.

Doía, doía pra caralho!

O chão se aproximava e não havia nada que eu pudesse fazer, nada em que me agarrar. Os pensamentos se misturavam em um misto de desespero e terror. Eu não tinha opção, precisava sobreviver. Aquele sempre foi meu lema. Nenhum dos desgraçados das listas de mais procurados dos Estados Unidos conseguiu colocar um fim à minha vida. Eu não perderia para uma queda livre.

Ainda que, pela confusão que se desenrolou dentro da aeronave, o chão não estivesse a uma distância tão surreal, parecia alto demais, mortal demais e pela primeira vez em anos, eu temi que não fosse conseguir sobreviver.

A floresta se aproximava acelerada, concisa, escura. Foi então que o vislumbre de uma ideia perpassou minha mente livre de oxigênio.

Os topos das árvores foram os primeiros a tocarem meu corpo a quilômetros por hora. Agarrei-me a eles como pude. Meus dedos rasparam nos galhos que me abraçavam com agressividade. A pele ardeu como se estivesse sendo retirada, cortada pedaço por pedaço. Uma dor agonizante se alastrou por meu peito e era só o começo.

Embolei-me nas árvores no meu caminho, esticando os braços com afinco, segurando em tudo que pudesse diminuir o impacto que eu sofreria. Algo espetou a lateral do meu corpo e o pouco ar que me restava foi expelido com força, tamanha era a dor que me invadia. O chão não me parecia uma opção tão ruim agora.

Quebrei inúmeros galhos com o corpo — e com certeza, ironicamente, parecia ter quebrado vários ossos do corpo com os galhos que passavam rápidos e cortantes, como lâminas de uma guilhotina — aterrissei no chão com um baque oco, como um corpo sem vida em um susto que pareceu levar minha alma.

— Argh! — Não consegui me mover. Tudo parecia destruído ou fora do lugar.

Gemi novamente, tentando inutilmente me reerguer. Puxei o ar como se estivesse afogando.

Nada entrava, nada saía.

Seria possível afogar-me em terra firme?

Minhas costas latejavam, cada centímetro do meu corpo parecia ter perdido um pedaço no caminho até aqui.

Eu sempre optei por atitudes impensadas, difíceis de rastrear ou prever. Era aquilo que me diferenciava dos demais na minha profissão. Eu era imprevisível. Mas ali, caído no meio do nada, impossibilitado de me mover, com a respiração entrecortada e o gosto de sangue jorrando em minha boca, eu percebi que, pela primeira vez, havia cometido um erro. E eu não estava me referindo a saltar de um jatinho em movimento, e sim, em confiar em alguém que eu não deveria.

— Tenente? Responda! — A voz aflita de Jaguar ecoou pela noite, tirando-me dos meus devaneios. Foi quando percebi que o pequeno rádio comunicador continuava preso na lateral do meu cinto a centímetros dos meus dedos adormecidos. — Tenente! — Ele continuou a chamar, sua voz cada vez mais perdida.

Como eu queria acreditar que Jaguar não estava envolvido com toda aquela merda. Éramos mais que parceiros. Mais até que amigos. Eu o tinha como um irmão depois de quase dez anos ao seu lado.

Deveria presumir que ele jamais trairia a minha confiança. Mas até saber o que realmente aconteceu, toda e qualquer cautela seria bem-vinda. Pela minha segurança e pela do Jaguar.

Estiquei os dedos com toda a energia que ainda me restava, o suor brotando em minha face ensanguentada. Toquei os botões.

— RASTREIEM O COMUNICADOR, AGORA! — ele berrou para a equipe. — ENCONTREM ELE, PORRA!

Fechei os olhos, a dor nauseando meu corpo. Repensei a minha próxima decisão e desejei poder confiar o fio de vida que me restava nas mãos de Jaguar, mas me lembrei segundos depois que trabalhar para o ASA(Armed System Agency / Agência de sistema armado) exigia mais do que nosso corpo poderia suportar. Eu precisava ser forte acima de tudo e de todos. A traição dentro da corporação, no meio da nossa equipe, pegou-me desprevenido. Agora eu estava quase morto e a culpa era toda minha. Não diagnostiquei algo a tempo. Não li alguma expressão ou comportamento diferente. Apenas confiei, depois de anos desconfiando. Agora eu deveria escolher, e rápido.

Quando se é um espião, você só tem duas opções. Viver ou morrer. Não existe uma terceira opção, não existe uma segunda chance.

— AHHH!

Urrei alto e senti o gosto de sangue descer por minha garganta quando movi meu corpo para alcançar o rádio e o desconectei, cancelando a conexão. Agora eu não seria rastreado, assim como também não receberia ajuda.

A escuridão me engoliu. O cricrilar de grilos começou a preencher o ar como uma sinfonia sincronizada. Meu peito subia e descia, meu corpo latejava a mínima menção de qualquer movimento. A respiração se mantinha irregular. Fechei os olhos sem saber o que faria a seguir e algo na escuridão da minha própria mente me pareceu atraente demais.

Não sei se desmaiei, dormi ou morri, mas independente de para onde eu estava indo, era algo muito melhor do que aquela floresta escura; sem dor, sem traições, sem armas... só a paz que eu não sentia há anos.

Era o que eu imaginava ou até mesmo o que eu queria.

Foi então que eu cometi o meu segundo erro.

****

Meninas, capítulo inicial bem curtinho. rsrs O que acham de um capítulo extra neste final de semana? Comentem aqui... Já estou louca para apresentar mais do livro para vocês.

O Tenente - Um espião, um amor, uma escolhaOnde histórias criam vida. Descubra agora