Capítulo 3

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Boa noite em ritmo de tiro, porrada e bomba, meus amores!


Carregue suas armas e traga seus inimigos

É divertido perder e fingir

Smells Like Teen Spirit – Nirvana 

Amber Collins

Meu estômago se revirou e a vontade de gritar chegou até meus lábios e desceu novamente pela garganta como uma criança que se jogava em um escorregador. Dei mais um passo em direção ao corpo daquele homem, um frio assombroso tomando conta das minhas pernas. Mover meus pés estava sendo a tarefa mais difícil da minha vida.

Pisei em um galho que quebrou causando um estampido no ar que impediu meu próximo passo.

Coragem, Amber!, pensei.

Cheguei ao arbusto que cobria parcialmente o corpo do homem e me apoiei no tronco grosso da árvore ao seu lado para não desabar de vez com a visão que tive.

Ele vestia calças pretas, assim como a blusa de manga comprida e os coturnos bem amarrados. Havia uma escuridão molhada em sua camisa. A cor da peça de roupa dificultava saber o que aquele líquido era e se não fosse pela poça de sangue que cercava seu abdômen, tão largo quantos os ombros e braços, eu teria que tocá-lo para descobrir.

Dei mais um passo temeroso, meus olhos agora se mantinham pregados a um cinto de utilidades preso em sua cintura de onde pendiam dois mosquetões assim como um par de algo cinza e arredondado que eu identifiquei como algemas. Outros fios seguiam pendurados naquele cinto que parecia ter um pedaço de cada coisa do mundo, o que me preocupou ainda mais.

Quem era aquele homem?

Notei um anel prata chamativo preso em seu dedo indicador da mão direita e subi com os olhos até encontrar seu rosto.

Inclinei a cabeça, encarando sua face mortificada e pálida, enegrecida por manchas de terra e pequenos hematomas. Ainda assim, percebi como seus traços eram bem desenhados, com as feições quadradas e duras, a barba por fazer começando a se apoderar dos contornos do rosto, os cabelos castanhos pendendo levemente sobre os olhos.

Abaixei-me ao seu lado e mantive contato com seus olhos fechados o tempo todo. Minhas mãos não paravam de tremer, o pavor ameaçava me dominar.

Ergui os dedos na intenção de tocá-lo e algo em meu íntimo — aquela parte mais cautelosa que lutava todos os dias para me manter viva — me alertou que eu deveria dar meia-volta e iniciar uma corrida até a primeira delegacia que encontrasse.

Eu voltaria com ajuda. Poderia fazer aquilo!

Recuei a mão alguns centímetros, cogitando a ideia quando outra voz — a que me impedia de não prestar socorro a qualquer animal abandonado e que um dia, provavelmente colocaria um fim à minha vida — iniciou um debate com a minha consciência.

Eu salvava os animais, parecia ter nascido para aquilo. Prometi ajudar a todos os necessitados, jurei que daria o meu melhor em minha profissão. Sabia que animais e humanos tinham uma imensa diferença — os animais eram infinitamente melhores, claro — mas estávamos falando de vidas. Sem raça, sem definições, sem nada. Eu jamais me permitiria deixar aquele homem ali, jogado como um lixo. Poderia ao menos verificar como estava seu estado antes de pedir ajuda.

Renovada por uma dose de coragem estúpida, levei a mão ao pulso do homem que arregalou os olhos em um rompante.

— Santo Deus! — gritei e saltei ao mesmo tempo, caindo de bunda no chão.

O Tenente - Um espião, um amor, uma escolhaOnde histórias criam vida. Descubra agora