Capítulo 4

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Isso é 10% sorte

20% habilidade

15% força de vontade concentrada

5% de prazer

50% de dor

E 100% de razões para ter o seu nome lembrado

Remember the name – Fort Minor

O Tenente

Lancaster... Qual a probabilidade de eu ter despencado exatamente naquela cidade? Quais as chances? Eu nunca acreditei em sorte, ou até mesmo no azar e em coincidências muito menos. Havia algo de errado.

Os pensamentos se dissiparam conforme a dor foi assumindo o controle. Naquela altura eu já não conseguia respirar. A garota agora me examinava minuciosamente, tocando meus membros e pedindo que eu os movimentasse, conferindo se havia algum osso fraturado. Até agora não encontrara nada.

O toque de sua pele trêmula na minha me causava uma sensação estranha. Eu detestava ser tocado, principalmente daquela forma, como se eu não passasse de um cão abandonado na beira da estrada. Ela era veterinária e eu acreditava fielmente que era algo assim que via diante dos seus olhos enormes e azuis.

Peguei-me observando-os, tentando fugir da dor que me assolava. Nunca tinha visto uma cor tão viva como aquela. Seu rosto era fino, delicado. Ela soltou o rabo de cavalo e uma cortina loira caiu sob seus ombros, espalhando-se pelas costas dela, circulando seu rosto manchado de sangue — do meu sangue. Ela logo o prendeu novamente em um coque alto e suas bochechas rosadas ficaram ainda mais nítidas, conferindo a ela a aparência de uma fada.

Se eu acreditasse em Deus, diria que ter sido encontrado por ela era um milagre. Do contrário, eu não fazia ideia de como sairia daquela situação. Quando aqueles homens surgiram à minha procura, eu desejei que aquela garota desaparecesse dali. Ficar ao meu lado era estar destinada a morte e coisas muito piores que isso, e eu jamais me perdoaria se algo acontecesse com uma desconhecida por tentar me ajudar.

Agora eu precisaria inventar alguma desculpa, qualquer coisa que findasse aquele desejo de descobrir quem eu era que perpassava seus olhos curiosos e prestativos.

— Porra! — Trinquei o maxilar e prendi o gemido entre os dentes quando ela comprimiu a blusa com mais força contra o machucado em meu dorso.

— D-desculpa, é necessário! — Olhou-me através daquelas esferas azuis.

— Você é corajosa — observei.

Ela ergueu meu braço mais uma vez e ordenou que eu mexesse todos os dedos. Apesar de suas mãos não pararem de tremer, ela parecia determinada a me tirar dali. Aquilo era muito mais do que eu poderia pedir para qualquer pessoa naquele momento. E a única forma que eu encontrara para retribuir foi mentindo para ela.

Era claro que eu me lembrava exatamente de tudo o que aconteceu, entretanto, não poderia envolvê-la naquilo. De forma alguma.

— D-d-d... — Parou e inspirou fundo, tentando controlar o nervosismo. — Depende do que você chama de corajosa. — Ficou de pé. Desci os olhos pela sua regata cinza completamente suja de sangue, assim como a calça apertada da mesma cor. Foi então que notei as meias cor de rosa que destoavam completamente do seu conjunto acinzentado e foquei na cor chamativa daquela peça para manter minha consciência. — Mal consigo falar de tanto que estou tremendo. — Colocou as mãos na cintura e me observou, erguendo as sobrancelhas.

O Tenente - Um espião, um amor, uma escolhaOnde histórias criam vida. Descubra agora