Capítulo 9 - Parte 1

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Um mal chamado: Minhas leitoras pedem e eu atendo! 

Então... soltei um pedacinho do próximo capítulo para matar um pouco da curiosidade. Amo vocês!


Acordei e me olhei no espelho

ainda a tempo de ver meu sonho virar pesadelo.

Paulo Leminski

Amber Collins

Sua boca se aproximava da minha de forma rude, exigindo-a, tomando-a. Meu coração retumbava a cada passo que dava em sua direção. Eu não existia. Ali era somente ele. Sua presença, seu corpo, sua respiração ofegante. Seu toque queimava, seus olhos me examinavam como se eu fosse uma presa, e eu queria ardentemente ser consumida por ele e por todo o fogo que me transmitia.

Seus lábios desceram sobre os meus, um calor varreu meu ventre e me consumiu em chamas altas, destruidoras. Quando estava prestes a me tocar e acabar com aquela tortura, abri os olhos e acordei resfolegante do sonho mais erótico que eu já tivera na vida.

— Meu Deus! — Sentei-me na cama ainda tonta com a sensação da pele ardente.

Passei as mãos nos cabelos desgrenhados e estiquei o pescoço até conseguir visualizar as horas. Ainda era madrugada. O céu continuava escuro e a noite silenciosa, mas em breve o sol nos agraciaria com sua leve presença.

Joguei-me na cama novamente, impactada pelos desejos do me subconsciente. Onde eu estava com a cabeça? Desejando um homem que mal conhecia?

Encolhi-me ainda mais sobre os lençóis, desejando que nada naquele mundo fosse capaz de me tirar daquela cama pelas próximas horas. Mesmo ciente de que cuidar de um rancho sozinha exigia certas obrigações que eu não poderia ignorar, sentia-me dolorida dos pés à cabeça e um pouco incapaz de levar a minha rotina diária depois daqueles dias exaustivos.

Descobri que amparar um homem a beira da morte por mais de cinco quilômetros era um exercício que deixava marcas... e dores, muitas delas. Sonhar com ele também não ajudava em nada. Apenas facilitava perguntas das quais eu não queria saber a resposta.

Passei as mãos pelo rosto, tentando expulsar qualquer pensamento que me remetesse ao homem que dormia no quarto ao lado do meu. Podia sentir sua presença daqui, como se ela fosse uma doença espalhando-se pela casa sorrateiramente.

Seus traços másculos, fortes e marcantes me atraiam com facilidade. Toda a sua aura sombria e misteriosa também. Seus lábios pareciam ter a precisão de mil miras, e eu ficava me perguntando como seria a sensação do seu toque. Seria rude como ele? Forte? Abrasadora, com certeza.

Tentei me desvencilhar daquele tesão repentino que eu desenvolvera por homens militares no instante em que coloquei os olhos no Tenente e percebi que talvez não fosse a sua patente que me chamasse atenção. Pelo contrário, era todo o conjunto que o tornava mais distante de um Tenente e mais próximo de um ladrão. Ele roubara o meu desejo enquanto eu tentava salvar sua vida. Era isso.

Desejei arrancar aqueles pensamentos, mas uma vez ali, eles se tornavam tatuagens, impossíveis de apagar ou desfazer.

Revirei na cama e inspirei fundo. Foi quando senti o cheiro de fumaça. Sentei-me em um rompante.

Smigoul ergueu a cabeça de sua pequena e confortável cama e me encarou como se reprimisse a minha atitude. Girei as pernas sobre a cama no instante em que Tyler adentrou o quarto silenciosamente, com seus olhos finos como os de um gato.

— Há algo errado — ele alertou.

— Está sentindo? — perguntei.

— O quê?

— O cheiro. — Ergui-me, alcançando o casaco posicionado na cabeceira da cama. — Parece fumaça.

— Não consigo sentir, mas ouvi o barulho de passos perto da janela. — Ele se recostou sobre a porta. — Fique aqui. Vou verificar o que é.

—Eu vou com você. — Apressei-me em dizer.

— Não vai, não! — Ele segurou meu ombro. — Pode não ser nada.

— Assim como pode ser alguma coisa.

— É exatamente por isso que eu quero que fique aqui. — Tyler não teve tempo de falar. A explosão fez com que meu corpo tombasse sobre o dele.

O som era alto, firme, avassalador. Algo queimava.

— Meus cavalos! — Saí em disparada para fora de casa. Alguma coisa havia explodido em meu rancho. Os olhos amendoados e inocentes de Lua e Trovão preencheram a minha mente. Meu peito sangrava com a hipótese.

Meus olhos lacrimejaram. Senti a presença de Tyler como um fantasma me seguindo pedindo para que eu ficasse em casa. Seria seguro, ele disse.

Avancei sem dar ouvidos, abri a porta e encarei o estábulo. Os cavalos estavam agitados, erguendo-se sobre as patas, apavorados com a chama incandescente que se aproximava deles.

Atrás do estábulo ficavam os pomares e hortas. Não havia como um incêndio ter começado a partir daquelas árvores. Tudo estava úmido, preparando-se para o inverno. Como aquilo foi acontecer?

— Preciso tirar os cavalos do estábulo. — Corri sem saber se Tyler estava me ouvindo ou não.

Abri as porteiras e permiti que os cavalos fugissem para longe do fogo. Meu coração paralisado pelo pavor, medo e surpresa.

— Ligue para os bombeiros, agora! — ordenou uma voz ríspida às minhas costas.

Virei-me para ele, eu tremia dos pés à cabeça. Meu mundo estava desabando, mas diferente de mim, Tyler se mantinha duro, estagnado no meio do caminho entre a casa e o estábulo que ficava perigosamente próximo ao pomar em chamas. Parecia ter visto algo entre os arbustos. Seu rosto se contorceu e a fúria que vi neles me fez temer ainda mais.

Abri os lábios paragritar qualquer coisa em sua direção, mas já era tarde demais. Tyler corriapara dentro da floresta, saltando sobre os arbustos com uma agilidadeimpressionante. Ele desapareceu no meio do escuro da noite, deixando-me sozinhacom a nuvem alaranjada que se espalhava pelo pomar em chamas. 

O Tenente - Um espião, um amor, uma escolhaOnde histórias criam vida. Descubra agora